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Marcelo Barreto: Flamengo e Palmeiras têm talento para fazer final antecipada, se o extracampo deixar

19/10/2025 05:01 O Globo - Rio/Política RJ

Na semana passada, escrevi neste espaço sobre curtir o momento. O Brasil tinha acabado de golear a Coreia do Sul, deixando uma boa impressão que só durou até terça-feira, com os reservas de Ancelotti atingindo mais dois marcos negativos na história da seleção: a primeira virada depois de estar vencendo por 2 a 0, a primeira derrota para o Japão. A data FIFA já ficou para trás, hoje todas as atenções estão voltadas para Flamengo x Palmeiras. Mas me arrisco a voltar ao tema: se houver um vencedor, sua torcida vai curtir o momento; e quem só estiver disposto a ver bom futebol na final antecipada?
Em campo, há talento de sobra para isso. O Palmeiras chegou à liderança embalado pela dupla Flaco Roque: os dois atacantes que lhe dão nome marcaram 22 gols nas últimas dez partidas. O Flamengo responde com Arrascaeta e Pedro, que mesmo não estando sempre juntos na escalação inicial contribuíram com 25, só no Brasileirão. O reencontro de Andreas Pereira com a torcida rubro-negra tem tudo para ser uma das grandes histórias da partida; do outro lado estará Jorginho, que como ele chegou da Inglaterra para organizar o meio de campo. E por aí vai, até o duelo entre o consagrado Abel Ferreira e o promissor Filipe Luís nas áreas técnicas. O que põe tudo em risco está daí para fora.
Na manhã de sexta-feira, a diretoria do Flamengo publicou nota revelando “incômodo” com uma visita surpresa para exames antidoping. Uma das reclamações, a de que os jogadores já tinham sido testados pela Conmebol, ignorava o fato de que a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem é independente de outras entidades esportivas, nacionais ou internacionais, e tem sua própria agenda. Outra era sobre a escolha da data, às vésperas de um jogo decisivo. Em 2024, último ano com dados consolidados e disponíveis à consulta pública, a ABCD foi responsável por 5.116 testes em 82 modalidades, 2.055 no futebol, antes e depois de competições. É difícil imaginar que nenhuma coleta tenha sido feita num momento importante de preparação para um grande evento, mas ninguém se incomodou.
À tarde, foi a vez de Leila Pereira anunciar que não iria ao jogo, por “não ter clima”. Se a preocupação é com a segurança física, não há registros recentes de agressões no Maracanã que a justifiquem; se o temor é de vaias e insultos, incluindo os machistas, fica bem mais fácil imaginar a possibilidade. Só Leila pode avaliar os riscos, que provavelmente aumentaram depois de ela ter chamado rubro-negros de “terraflanistas” em meio à discussão sobre a divisão de cotas de TV. Na Espanha, presidentes de Real Madrid e Barcelona (sempre homens), sentam-se lado a lado nas tribunas de honra. Seus clubes têm razões muito além do futebol para uma rivalidade histórica, e Vini Jr sabe bem que as arquibancadas de lá não são exemplos de civilidade, mas o visitante sempre vai.
A nota do Flamengo e a recusa de Leila não foram reações espontâneas. Ambas serviram para mobilizar as redes sociais, nenhuma contribuiu para distensionar o clima da final antecipada — que já vinha carregado pela explosão de reclamações contra a arbitragem na última rodada. Treino é jogo e jogo é guerra, gostam de proclamar as massas inflamadas. Tomara que o futebol não seja a vítima na batalha de hoje.

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