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Lula e Trump: suspensão do tarifaço é condição para avanço nas negociações entre Brasil e EUA, dizem negociadores após reunião

26/10/2025 10:40 O Globo - Rio/Política RJ

Após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, em Kuala Lumpur, o foco imediato das conversas entre Brasil e Estados Unidos passou a ser a suspensão do tarifaço imposto a produtos brasileiros enquanto durarem as negociações comerciais. Somente depois dessa etapa, Washington deverá explicitar o que quer em troca de um novo entendimento econômico com Brasília.
De acordo com interlocutores, os Estados Unidos não responderam ao pedido de interrupções de sanções contra cidadãos brasileiros, como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, até recentemente considerado o algoz o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas essa questão poderá entrar na mesa de negociações.
Para um integrante do governo Lula envolvido com o assunto, "vamos ter semanas intensas". A avaliação é que o resultado do encontro entre os dois presidentes animou os negociadores brasileiros, que tentavam retomar o diálogo, na esfera técnica, sem sucesso, desde que Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre as exportações do Brasil e praticamente condicionou a suspensão ao arquivamento do processo contra Bolsonaro — pedido não atendido.
Os EUA devem apresentar suas demandas assim que houver sinal verde para a retomada plena das negociações. Entre os temas esperados na pauta americana estão minerais críticos, regulação das big techs, o sistema de pagamentos instantâneos (Pix), carne suína e etanol.
Os minerais críticos — como lítio, níquel e nióbio — são considerados estratégicos para os Estados Unidos na transição energética e na cadeia de semicondutores. Washington busca ampliar a cooperação com países que possam fornecer esses insumos de forma sustentável.
No campo digital, o interesse americano recai sobre a regulação das grandes plataformas e o uso de dados no Brasil, em meio a discussões sobre a Lei das Fake News e novas regras para empresas de tecnologia.
O Pix, sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, também está no radar. Os Estados Unidos consideram que esse mecanismo concorre de forma desleal com empresas americanas. Segurança, interoperabilidade e inovação financeira estão entre os temas em debate.
Na área agropecuária e energética, os dois países mantêm interesses cruzados. Os Estados Unidos querem vender carne suína e etanol para o Brasil, com tarifas menores. Orientado pelo setor sucroalcooleiro, o governo Lula insiste que o açúcar brasileiro e deveria ter acesso ao mercado americano, como compensação a uma possível redução da tarifa do etanol, hoje em 18%.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Roberto Perosa, a reunião entre os dois presidentes foi “excelente”. Ele ressaltou que o momento, agora, é de pedir a suspensão do tarifaço — parte dos produtos brasileiros vêm sendo tributados em 50% pelos Estados Unidos desde agosto — e, em seguida, discutir os detalhes de um acordo.
— Aguardamos o desenrolar das negociações, mas vemos com entusiasmo o entendimento entre os governos brasileiro e americano — disse Perosa ao GLOBO.
Citado por Trump em uma conversa telefônica há cerca de três semanas, o café é outro item que ganhou importância nas negociações. Para executivos do setor, a possibilidade de suspensão da sobretaxa que incide sobre o produto se fortaleceu.
Segundo um assessor brasileiro, a reunião reforçou “a importância da relação bilateral e o compromisso político com o diálogo”. As discussões prosseguem ainda hoje, em reuniões com o Departamento do Tesouro e com o secretário de Estado, Marco Rubio, em busca de um caminho negociado para a retomada das relações comerciais.
A reunião, avaliada como positiva e marcada por um diálogo franco e colaborativo, sinalizou disposição de ambos os lados para reconstruir pontes após meses de tensões. O governo brasileiro considera que não há condições de negociação real com as tarifas em vigor e que a suspensão é pré-requisito para qualquer avanço.

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