Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Herança afetiva: o que o dinheiro pode ensinar sobre viver mais e melhor

30/10/2025 10:33 O Globo - Rio/Política RJ

Decisiva para uma vida longa e saudável, a educação financeira pode funcionar como um elo entre gerações. Se cabe aos mais velhos transmitir valores como disciplina e controle de gastos com a segurança adquirida ao longo dos anos, os mais jovens têm muito a contribuir compartilhando conhecimentos sobre tecnologia, aplicativos e novas formas de gerir recursos. Essa troca cria um espaço de aprendizado mútuo que ultrapassa números e planilhas, fortalecendo vínculos de maneira definitiva.
Pesquisas dão conta de que menos de um quarto dos brasileiros afirmam ter recebido orientação financeira adequada na infância. Mas, entre os que tiveram esse aprendizado, a propensão a investir corretamente e lidar com as finanças de forma positiva é significativamente maior.
Em um país em que a longevidade exige planejamento cada vez mais cedo, conversar sobre dinheiro é um ato de responsabilidade e afeto. Famílias que dialogam sobre o tema rompem tabus, estimulam a independência e constroem juntas uma base sólida para o futuro.
A forma como cada geração enxerga o dinheiro molda comportamentos e emoções.
— Carregamos ideias e padrões que muitas vezes nem compreendemos, mas que orientam nossas decisões financeiras. Quando o tema é tratado como tabu, os ciclos se repetem e hábitos ultrapassados continuam influenciando escolhas — explica a psicóloga Priscila Rossi, especialista em educação financeira infantil.
Os mais velhos, por exemplo, costumam trazer marcas de contextos de instabilidade econômica. Isso gera uma mentalidade de proteção e medo de perder, que pode se transformar em retenção ou culpa nas novas gerações.
— Nem toda herança é financeira. Algumas são emocionais e precisam ser revistas com consciência e respeito — afirma Priscila.
Priscila Rossi, psicóloga
Divulgação
Carregamos ideias e padrões que muitas vezes nem compreendemos, mas que orientam nossas decisões financeiras. Quando o tema é tratado como tabu, os ciclos se repetem e hábitos ultrapassados continuam influenciando escolhas”
Falar sobre o tema, segundo ela, é o primeiro passo para entender de onde vêm essas crenças e adaptá-las ao presente.
Já os jovens trazem outro olhar: mais ágil, tecnológico e voltado para o futuro. Ao questionarem padrões antigos, ajudam a ressignificar a vida financeira da família. Essa interação entre experiência e inovação cria um terreno fértil para novas práticas — desde o uso de aplicativos de controle de gastos até discussões sobre investimentos e herança.
A tecnologia, aliás, tornou o tema parte da rotina doméstica. Hoje, pais e filhos podem acompanhar gastos e metas em tempo real, algo impensável há 20 anos. Mas é preciso cuidado para que o dinheiro não se torne apenas um dado em tela.
— A tecnologia é uma aliada, mas o diálogo é insubstituível. O aplicativo mostra os números; é a conversa que dá significado a eles — pontua a especialista.

Planejamento como rotina
Há diversas formas de incluir a educação financeira no dia a dia. Para alguns, uma planilha simples já basta para criar clareza sobre gastos. Outros preferem aplicativos que permitem visualizar orçamentos e metas de maneira prática. O mais importante é escolher ferramentas que se encaixem na rotina sem gerar ansiedade.
Uma estratégia eficaz, especialmente para famílias com crianças, é a mesada educativa. Ao dividir o valor entre três cofrinhos — consumo, metas e doação —, a criança aprende a equilibrar desejo, paciência e empatia.
— A mesada transforma o dinheiro em ferramenta de aprendizado, não em recompensa. Ensina que ele pode ser usado de forma consciente e com propósito — diz Priscila.
Planejar, afinal, é também um ato de cuidado com a saúde. O estresse financeiro está entre os fatores que mais impactam o bem-estar emocional e físico. Ter clareza sobre o orçamento e metas dá tranquilidade para viver o presente e segurança para o futuro.
— Quando há organização financeira, o corpo e a mente descansam — resume a psicóloga.
Entre os erros mais comuns, ela cita três: planejar apenas com base em números, sem considerar o lado emocional; não envolver a família nas decisões; e adiar o futuro acreditando que ainda há tempo.
— Comece cedo e use o tempo a seu favor. Dinheiro e emoções caminham juntos. E esse é um ensinamento que vale passar de geração em geração — conclui.
Initial plugin text

Fonte original: abrir