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Genro de Malafaia vira campeão de emendas e gera crise interna em universidade no Rio 

26/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Casado com uma das filhas do pastor Silas Malafaia, figura religiosa que mantém constante interlocução com a classe política, o professor Anderson Silveira é hoje o líder de captação de emendas parlamentares em uma universidade do Rio, o que levou a uma crise interna com direito a carta de renúncia coletiva. Um projeto coordenado por ele obteve R$ 14 milhões por meio do Ministério do Esporte no ano passado, mais que o dobro do segundo colocado, na Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ). O GLOBO identificou cabos eleitorais e aliados de deputados na lista de remunerados pelo projeto — que distribuirá, ao todo, R$ 11,7 milhões apenas em bolsas, sendo R$ 7 milhões para pessoas de fora da universidade.
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Batizado de Programa Esporte Para a Vida Toda, ou Previt, o projeto prevê 75 núcleos de prática esportiva em mais de 20 municípios no estado do Rio. Ao menos 14 funcionam em igrejas e têm envolvimento de pastores.
O Previt foi custeado com um Termo de Execução Descentralizada do Ministério dos Esportes para a universidade, o que dificulta o rastreio dos padrinhos dos recursos. O GLOBO apurou que os deputados Laura Carneiro (PSD-RJ), aliada do prefeito da capital, Eduardo Paes, e Roberto Monteiro (PL-RJ), correligionário do governador Cláudio Castro, fizeram indicações de núcleos.
Anderson admite que parlamentares indicam locais para o projeto funcionar, mas alega não saber quem são os padrinhos dos recursos e nega que o fato de ser genro de Malafaia tenha ajudado na captação da verba ou na escolha desses núcleos.
— Ele (Malafaia) nem sabe que eu trabalho com esse tipo de coisa. Os parlamentares não determinam, mas eles chegam a solicitar que haja, quando possível, uma atenção para essa ou aquela região. Pode acontecer de o parlamentar fazer algum tipo de propaganda no próprio núcleo, mas isso está fora do nosso controle — argumentou.
Instâncias de controle interno da universidade mostraram preocupação com a quantidade de bolsas distribuídas em projetos de Anderson, considerada atípica para os padrões da Rural. O montante destinado a esse tipo de auxílio corresponde a mais de 80% dos R$ 14 milhões. Internamente, o Previt é visto como uma iniciativa de pouco retorno à universidade, já que é voltado sobretudo para o público externo
O projeto foi iniciado em maio do ano passado, com recursos destinados à Fundação de Apoio da Rural, a Fapur. Em agosto deste ano, insatisfações acumuladas levaram a uma renúncia coletiva de toda a diretoria da fundação, que identificava anomalias em pontos do Previt. Além de representar mais que o dobro do valor do segundo maior projeto da fundação, a empreitada equivale a cerca de metade dos R$ 33 milhões destinados à Fapur via emendas nos últimos cinco anos.
“Com a convicção de que colaboramos para que a Fapur, uma vez maior, mais robusta e profissional, cumprisse melhor o atendimento às necessidades da UFRRJ, nos despedimos com o sentimento do dever cumprido, e desejamos vida longa e próspera a ambas as instituições”, afirmam, na carta de renúncia, o presidente, a vice e dois diretores da fundação.
Apesar de a carta não mencionar diretamente a causa da debandada, tampouco as insatisfações registradas na fundação, pessoas que acompanham o andamento do caso na Rural ouvidas pelo GLOBO deixam claro que o projeto de Anderson foi um motivo fundamental. Tanto o montante financeiro em si quanto as características do Previt causavam estranhamento, o que fazia com que integrantes da fundação não quisessem se envolver no processo.
Anderson alega que o projeto chegou a atrasar por “incapacidade da Fapur” de gerir os recursos e de realizar a compra de material. Ele afirma que, nesse contexto, o próprio Ministério do Esporte orientou a universidade a reduzir o valor destinado a equipamentos esportivos e aumentar o gasto com bolsas, a fim de que o projeto “tivesse continuidade” sem necessidade de devolver ao governo federal valores não gastos.
Influência política
No caso de Laura, um aliado da deputada, Jorge Luiz Almeida Dalta, também assumiu a função de “coordenador administrativo” dos projetos, com remuneração de R$ 6 mil mensais. Dalta faz parte da diretoria do Instituto Nelson Carneiro, ONG batizada em homenagem ao pai de Laura e que tem uma das filhas da deputada como coordenadora.
Ele afirmou que atua “como voluntário” no instituto ligado à deputada e que foi selecionado para o projeto do genro de Malafaia por meio de edital “aberto a todos os profissionais aptos e capacitados a concorrer ao cargo, (...) não sendo objeto de indicação”. O edital a que ele se refere, que selecionou dois coordenadores, teve três participantes.
A influência de Laura aparece em outros núcleos do projeto. Contratada como supervisora dos núcleos de Quatis e Resende, municípios do interior do Rio, Rosilene Gomes da Silva vem publicando agradecimentos à deputada nas redes sociais pelo funcionamento das aulas de vôlei e

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