Fake news que vão do aquecimento global às energias limpas desafiam debates na COP30
Especialistas e a própria presidência da COP30 têm reforçado alertas para o risco da desinformação na conferência, seja na forma de fake news ou distorções. Em 2025, mitos e mentiras sobre o clima evoluíram do negacionismo para táticas mais sutis, que buscam atrasar a ação e desacreditar soluções. As mais recentes e que devem ganhar força durante a COP dizem respeito à meta do Protocolo de Paris de limitar a 1,5°C o aumento na temperatura da Terra e ao custo e problemas de energias renováveis, notadamente solar e eólica. Veja a seguir:
1) Temperatura
Negacionistas têm difundido que o fato de a temperatura média da Terra ter superado em 2024 o limite de 1,5°C das metas do Acordo do Paris significaria que o tratado do clima está enterrado e não há mais nada a ser feito. O físico Paulo Artaxo, da USP, frisa que superar momentaneamente o patamar não significa nada para o Acordo de Paris, porque a temperatura que vale é a média climatológica de década e não a de um ano isolado. Fora isso, a meta, assim como qualquer outra é arbitrária, um consenso do que seria factível em 2015, quando o acordo foi feito. As coisas não estão bem a 1,49°C ou pouco abaixo disso, como mostraram sucessivos desastres, nem se tornarão mais catastróficas do que já são a 1,51°C. Na verdade, se os países conseguirem zerar as emissões até o meio do século, o aquecimento deve ficar em 1,8°C. É verdade que 1,5°C pode estar fora de alcance. Se as emissões fossem a zero hoje, ainda estaria. Mas limitar a cerca de 2°C é muito melhor que um mundo 2,5°C mais quente. Cada fração importa e tem impacto.
2) Energia do Sol
Posts e vídeos dizem que a energia renovável é cara ou ineficiente. Mas as energias solar e eólica estão entre as formas mais baratas de gerar eletricidade. Um marco histórico foi alcançado este ano, quando a combinação de energia solar e eólica superou pela primeira vez a geração a carvão, tornando as renováveis as principais fontes de eletricidade no planeta. A energia solar foi responsável por 83% do aumento da demanda global por eletricidade em 2025, consolidando-se como a maior fonte de nova eletricidade. O impulso por trás dessa expansão é econômico: a solar é hoje a eletricidade mais barata, com custos de instalação em queda de 90% em 15 anos. Atender à demanda energética mundial com energia solar exigiria cerca de 0,3% da área terrestre global. A maioria dos países dispõe de espaço para implementação em larga escala. Os desafios técnicos estão sendo superados. Painéis de silício convencionais atingiram o limite de eficiência em 25%, mas novas tecnologias prometem elevar a eficiência para 35% a 37% em dez anos.
3) Energia eólica
Campanhas como a narrativa de que turbinas eólicas matam aves e morcegos ganham força, mas não consideram o impacto muito maior de outras ameaças. O presidente Donald Trump tem dito isso. Dados dos EUA mostram que lá gatos matam 2,4 bilhões de aves; choques com prédios outras 600 milhões e carros, 200 milhões. Já pesticidas causam a morte de 67 milhões de aves. Turbinas de vento provocam a morte de 1,2 milhão. Não é pouco, mas é menos que qualquer uma das citadas, e há formas de mitigação.
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