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Da Fazenda do Viegas, em Senador Camará; ao Palacete São Carmélio, na Glória: os patrimônios do Rio à beira do colapso

24/10/2025 07:30 O Globo - Rio/Política RJ

No caminho do Centro do Rio a Senador Camará, fiquei imaginando o que encontraria na Fazenda do Viegas, importante joia arquitetônica do século XVIII e espaço essencial para o começo da urbanização da Zona Oeste da cidade. Apesar de ter recebido fotos e vídeos, não tinha clareza da dimensão do fato. Foi somente pisando lá que percebi a condição de completo abandono: telhas quebradas por todos os cantos, madeira em péssimo estado, pichações e mato tomando conta de tudo. Com cuidado, andei pelos quatro cantos, inclusive pela outrora belíssima capelinha em homenagem à Nossa Senhora da Lapa. Do templo da fé não sobrou nadinha que nos remeta à religiosidade ou até mesmo ao que um dia foi um lugar de devoção para os moradores locais.
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Ponto de parada para tropeiros e viajantes, a fazenda, hoje um parque municipal, é mais um exemplo de patrimônio à beira do colapso. E o pior: tudo acontece diante dos nossos olhos. Movimentos da sociedade civil tentam, com coragem, reverter a destruição, mas é como tentar segurar gelo sob o sol. A cada ano, sobrados históricos e casarões tradicionais desabam, incendiados ou esquecidos. Triste ironia: sei que alguns vão levantar os ombros, indiferentes à importância patrimonial na construção de cidade. O duro é ver que muitos desses ficam maravilhados ao pisarem na Europa ou nos Estados Unidos e constatarem a diferença, inclusive turística, de um bem preservado.
Palacete São Cornélio está em ruínas
Um dos marcos da era do café no Rio de Janeiro, o antigo Palacete São Cornélio, na Glória, encontra-se em estado avançado de deterioração. Construído em 1868 pelo Comendador João Cornélio Martins, fundador do Banco do Comércio, investidor no Banco do Brasil e dono de diversos imóveis, o imóvel foi, durante o século XIX, palco de recepções que chegaram a contar com a presença de Dom Pedro II.
Cornélio, reconhecido pela atuação filantrópica e pela luta contra a febre amarela, recebeu medalhas do imperador por seus serviços à saúde pública. Após sua morte, no início do século XX, a casa foi doada à Santa Casa de Misericórdia, que instalou ali um asilo para meninas órfãs. Décadas depois, o prédio abrigou uma universidade de medicina. Hoje, restam apenas as marcas da antiga opulência. As estátuas que ornamentavam a fachada foram roubadas, e o imóvel, tomado pelo abandono, ameaça ruir.
Por falar em café
Quem passa pela Avenida Dom Helder Câmara, na parte de Del Castilho, fica intrigado com uma imponente construção ao fundo de um longo gramado. É a antiga Fazenda do Capão do Bispo, um dos mais importantes marcos históricos do Rio de Janeiro. Também corre risco de desabamento. O casarão do século XVIII foi residência de Dom José Castelo Branco, bispo que chefiou a diocese do Rio e deu nome à propriedade.
Há pesquisadores que apontam que o local pode ter abrigado as primeiras plantações de café do estado. Embora o grão tenha chegado ao Brasil pelo Pará, há registros de que mudas foram trazidas ao Rio e cultivadas nessa fazenda, antes de se espalharem pelo interior fluminense.
Só falta roubar o presidente
No Aterro do Flamengo está o monumento-túmulo que abriga os restos mortais do primeiro presidente da República, o marechal Deodoro da Fonseca. Amigo de Dom Pedro II e figura central na Proclamação da República, em 1889, Deodoro assumiu o comando do país mesmo com a saúde debilitada. Sua breve administração foi marcada por choques com o Congresso e instabilidade política, culminando em sua renúncia em 1891. O marechal faleceu no ano seguinte e, desde 1937, seus restos estão depositados nesse local, junto aos da esposa.
O monumento, que também homenageia outras figuras ligadas à República, já foi alvo de diversas depredações e furtos. O mais grave deles resultou no desaparecimento da estátua de bronze de dona Rosa Fonseca, mãe do marechal, que pesava cerca de 400 quilos. Até hoje a peça não foi recuperada. Um pouco mais e não duvido levarem até o que sobrou do Deodoro.

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