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Barroso diz que 'pobre também precisa de segurança pública' e defende 'confronto onde for indispensável'

30/10/2025 17:59 O Globo - Rio/Política RJ

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que a segurança pública “não é nem de direita, nem de esquerda” e que “pobre também precisa de segurança pública”, ao comentar sobre a megaoperação policial que deixou ao menos 119 nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.
Barroso, que se aposentou do Supremo neste mês, participou do Congresso da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), em São Paulo, nesta quinta-feira (30). O ministro destacou o alto número de homicídios no país e chamou de “medidas importantes” as propostas que o Ministério da Justiça enviou ao Congresso Nacional sobre o tema.
— Há medidas importantes, o ministro (Ricardo) Lewandowski vem tentando aprovar no Congresso Nacional, mas o que precisamos mudar nesse momento é a segurança pública. E segurança pública não é nem de direita nem de esquerda, é um pressuposto para a vida civilizada. E só para lembrar, pobre também precisa de segurança pública. Aliás, as comunidades mais afetadas pela insegurança e pela violência são precisamente as comunidades pobres — falou.
Em 2024, o país registrou 44.127 vítimas de mortes violentas, uma taxa de 20,8, por cem mil habitantes. Barroso disse que esses números são "superiores aos de países em guerra" e que isso não pode passar despercebido, mas que as operações com uso de inteligência devem prevalecer sobre o confronto violento.
— Nós temos um problema do crime organizado que, crescentemente, vem ocupando espaço na economia formal com muitas dezenas de facções criminosas e um crescente problema de contaminação das instituições públicas. Nós precisamos reagir e é preciso reagir com eventual confronto onde indispensável, mas sobretudo com inteligência e com a capacidade de monitorar fronteiras para não entrar drogas, não entrar armas, de monitorar as comunidades pobres para que armas e drogas também não entrem lá. E a inteligência na vida costuma produzir melhores resultados do que a violência. É claro que há situações de confronto inevitável, mas é preciso ir atrás do dinheiro, é preciso ir atrás dos grandes responsáveis por esse tipo de criminalidade — acrescentou.
Durante sua fala, o ministro ainda defendeu uma mudança no sistema eleitoral brasileiro, com a adoção de voto proporcional e em lista aberta para o Legislativo, e disse que o país precisa melhorar o modo como gasta os recursos públicos.
— Nós somos um país pobre e o investimento social ainda é exigido, verdadeiramente. Porém, nós temos que ter preocupações fiscais. A dívida pública hoje é uma preocupação relevante. Ela, dependendo da fonte, está entre 75% e 80% do PIB. Nós ultrapassamos a média dos países emergentes e as consequências são conhecidas. Juros excessivamente altos que consomem boa parte dos recursos públicos para o pagamento, precisamente, dessa dívida, eles estimulam o investimento produtivo — falou.
Segundo o ex-ministro, esse comprometimento do crédito “aumenta a vulnerabilidade do país a eventuais crises” e existe uma “disputa complexa no orçamento entre o Executivo e o Congresso Nacional, que o Supremo tem tentado arbitrar da melhor maneira possível”.
— Mas é preciso melhorar a qualidade do gasto público. O crédito é importante, as despesas públicas são importantes, a dívida é inevitável, mas há um limite do que você pode viver com o dinheiro dos outros — opinou.

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