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'A dançarina de Auschwitz': quem é Edith Eger, a bailarina judia que sobreviveu ao holocausto com a dança

25/10/2025 13:45 O Globo - Rio/Política RJ

Diante do horror, ela dançou. Aos 16 anos, separada da mãe e jogada no centro do terror nazista, Edith Eger percebeu que cada passo poderia significar viver mais um dia. Na primeira noite em Auschwitz, obrigada a se apresentar para Josef Mengele, médico responsável por experimentos humanos, a jovem bailarina húngara usou a imaginação como palco e transformou aquela dança em sua chance de sobrevivência — relato que viria décadas depois em entrevistas e livros.
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Nascida em 1927, na Hungria, em uma família judia ligada às artes, Edith sonhava com as Olimpíadas como ginasta. Em 1944, com a ocupação alemã, foi confinada com os pais e a irmã Magda em um gueto em Košice, antes de ser enviada a Auschwitz. Lá, perdeu a mãe no mesmo dia em que chegou.
A guerra como prova de sobrevivência
Após meses no campo de extermínio, Edith foi forçada a marchas da morte. Primeiro, para Mauthausen; depois, para Gunskirchen. Era inverno rigoroso, sem comida e sob risco constante de execução. Em determinado momento, debilitada, não conseguia mais caminhar. Mas jovens com quem dividiria o pão dado por Josef Mengele a reconheceram e a carregaram, gesto que ela sempre destacou como lembrança de humanidade dentro do impossível.
Quase morta, pesando apenas 32 quilos e com a coluna quebrada, Edith foi encontrada entre cadáveres por soldados americanos durante a libertação do campo, em maio de 1945. Um movimento mínimo da mão fez um militar perceber que ela ainda estava viva. “Auschwitz foi uma sala de aula. Eu fui vitimizada — mas não sou uma vítima”, repetiria anos depois em entrevistas como a concedida aos podcasts “Tiene que haber algo más” e “There Must Be Something More”.
Do horror ao consultório, e do consultório às livrarias
Com a guerra encerrada, Edith passou pela Tchecoslováquia e, em 1949, imigrou para os Estados Unidos. Casou-se, teve uma filha e iniciou um longo processo de reconstrução. Estudou psicologia, especializou-se em traumas e tornou-se referência no tratamento de transtorno de estresse pós-traumático. Sob influência do psiquiatra Viktor Frankl — também sobrevivente do nazismo e autor de Em Busca de Sentido — passou a enxergar o propósito como chave da cura.
Após a guerra, Edith imigrou para os Estados Unidos, obteve um doutorado em psicologia e se especializou em estresse pós-traumático
Reprodução
Apesar de pedidos insistentes para que escrevesse, ela só se sentiu pronta aos 90 anos. Em A Dançarina de Auschwitz (The Choice, 2017), narra de forma íntima sua trajetória entre o terror e a liberdade. O livro tornou-se best-seller mundial e base para sua segunda obra, O Presente: 12 lições para salvar sua vida (2020), em que oferece ferramentas psicológicas para romper “prisões internas”. Juntas, as publicações já ultrapassaram 3 milhões de exemplares vendidos.
Hoje, aos 97 anos, Edith também dialoga com novas gerações: em abril, lançou uma versão juvenil de A Dançarina de Auschwitz, reforçando a ideia de que o passado não pode ser mudado, mas o futuro é uma escolha diária. “Se eu odiasse, ainda seria uma prisioneira”, ela costuma afirmar. Sua maior resposta aos nazistas está em sua família: três filhos, cinco netos e sete bisnetos — cinco gerações que existem porque ela dançou, sobreviveu e contou.

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