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Tarifaço, guerras e América do Sul: Lula e Trump se dizem prontos para tratar de temas espinhosos em reunião na Malásia

25/10/2025 22:33 O Globo - Rio/Política RJ

Após oito meses de tensão em meio à pior crise nas relações entre os dois países em 200 anos, os presidentes Lula e Donald Trump devem se reunir hoje, na Malásia, em um encontro que será, ao mesmo tempo, teste e termômetro do diálogo entre Brasil e EUA.
O momento geopolítico — com intensos embates e pressões nas relações internacionais — gera dúvidas entre analistas e diplomatas sobre se o quadro atual é mais favorável ou não ao entendimento.
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O foco da conversa deve ser o tarifaço imposto por Trump às exportações brasileiras para os EUA, mas há a sombra de temas delicados, das sanções contra autoridades brasileiros à pressão americana sobre a Venezuela, além de incertezas sobre a permanência do cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas e uma solução para a invasão da Ucrânia pela Rússia.
O esperado encontro de Lula e Trump será à margem da 47ª reunião de cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), da qual os dois são convidados.
Donald Trump fala com jornalistas a bordo do Air Force 1 a caminho da Malásia
Andrew Harnik / Getty Images via AFP
Ontem, apesar de o compromisso ainda não figurar na agenda oficial, o americano disse a jornalistas a bordo do seu avião presidencial a caminho de Kuala Lumpur que “provavelmente” se encontraria com o brasileiro hoje. A expectativa era pelo fim da tarde na Malásia, manhã no Brasil.
Sobre a possibilidade de reduzir tarifas sobre produtos brasileiros, Trump fez pela primeira vez um aceno positivo. Disse que, “sob as circunstâncias certas, claro”.
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'Trabalho com otimismo'
Já na capital malaia, Lula voltou a se dizer confiante em relação aos resultados da reunião, em entrevistas após ser recebido pelo primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, e antes da cerimônia em que receberia o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional do país.
— Na verdade, espero que role (a reunião). Vim com a disposição de que a gente possa encontrar uma solução. Tudo depende da conversa. Trabalho com o otimismo de que a gente possa encontrar.
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Lula e o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, assistem apresentação de dança tradicional da Malásia na recepção ao brasileiro em Putrajaya, perto de Kuala Lumpur. Os dois líderes e suas equipes tiveram uma reunião bilateral e uma coletiva de imprensa
Vincent Thian / POOL / AFP
Informado sobre as condições mencionadas por Trump para rever o tarifaço, repetiu que a negociação está aberta:
— Não tem exigência dele e não tem exigência minha ainda. Vamos colocar na mesa os problemas e tentar encontrar uma solução. Pode ficar certo de que vai ter uma solução.
'Não tem assunto proibido'
Na sexta-feira, ao concluir sua visita à Indonésia, Lula deu a entender que a negociação com os EUA poderá ir além de temas econômicos, afirmando que “não tem assunto proibido”.
Lula recebe bolo do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, para comemorar antecipadamente seu aniversário de 80 anos
Ricardo Stuckert/Divulgação/PR
O governo brasileiro vê o encontro como um teste para o diálogo e uma chance de medir até onde Washington está disposto a recuar nas sanções econômicas e diplomáticas aplicadas contra o Brasil desde julho — que, segundo Brasília, têm caráter mais político que comercial.
Na conversa telefônica que os dois tiveram há duas semanas, aventada após o rápido encontro que tiveram em setembro nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, o americano evitou mencionar o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
O gesto foi visto no Planalto como sinal de que a Casa Branca pretende restringir a pauta ao comércio, o que foi bem recebido por grupos empresariais que pressionam por uma solução pragmática.
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Foto ONU
Além da economia
Ainda assim, Lula pretende ir além do tarifaço. Quer reiterar o convite para que Trump participe da COP30, em Belém, no mês que vem, e abordar questões regionais e globais. Entre os temas que devem surgir estão as ações de Washington contra governos da América do Sul, como os de Nicolás Maduro, na Venezuela, e Gustavo Petro, na Colômbia.
A ofensiva americana contra Maduro reacendeu atritos regionais e colocou à prova a capacidade de articulação política de Lula, que tenta equilibrar a defesa da soberania dos vizinhos com a manutenção de um diálogo pragmático com Washington.
O petista deve se posicionar como intermedia

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