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'Varones Unidos': fundador de grupo uruguaio antifeminista é acusado de duplo feminicídio, na Argentina

13/10/2025 19:47 O Globo - Rio/Política RJ

Um crime brutal ocorrido na cidade de Córdoba, na Argentina, colocou novamente sob os holofotes o grupo "Varones Unidos", uma comunidade digital criada no Uruguai em 2016 que se apresenta como um espaço de "defesa dos direitos dos homens" e de crítica ao feminismo.
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O caso teve como protagonista Pablo Laurta, um dos fundadores do movimento, que assassinou a ex-companheira, Luna Giardina, e a mãe dela, Mariel Zamudio, no último sábado (11). Após o crime, Laurta fugiu com o filho do casal, Pedro, de 5 anos, e foi capturado neste domingo (12), em um hotel na cidade de Gualeguaychú, na província de Entre Ríos, perto da fronteira com o Uruguai.
O episódio expôs a relação direta entre o assassino e a rede Varones Unidos, cujas publicações acompanharam durante meses o litígio judicial entre Laurta e Giardina pela guarda do menino. O site havia transformado o caso em bandeira política contra a Justiça argentina, descrevendo o episódio como "o sequestro internacional de uma criança".
Raízes do movimento antifeminista
Criado inicialmente como um blog e uma página no Facebook, o "Varones Unidos" se consolidou ao longo dos anos como uma plataforma que reúne pais em disputa judicial pela guarda dos filhos e que acusa o sistema jurídico e as leis de gênero de "criminalizar os homens".
Em entrevistas concedidas a veículos uruguaios, Laurta dizia que o objetivo era "recuperar o princípio de inocência" e "proteger os direitos masculinos". Ele também criticava leis de proteção às mulheres, como a Lei Integral de Violência de Gênero debatida no Uruguai em 2018, afirmando que a norma "retirava garantias constitucionais dos homens".
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No mesmo ano, Laurta participou da organização da visita dos escritores Agustín Laje e Nicolás Márquez, autores de "O livro negro da nova esquerda", ao Parlamento uruguaio, uma agenda que marcou a aproximação do grupo com o discurso antifeminista e de direita radical na América Latina.
A narrativa construída pelo grupo
Durante meses, o site do "Varones Unidos" publicou textos longos sobre o "caso Pedro Laurta", com acusações contra o sistema judicial de Córdoba e ataques à família materna da criança.
As publicações descreviam uma série de supostas "falsas denúncias", "extorsões" e "manobras judiciais" atribuídas à ex-companheira de Laurta. O grupo chegou a acusar funcionárias da Justiça de cumplicidade e denunciou, sem provas, que o Tribunal Superior de Justiça da província teria "legitimado o sequestro de uma criança uruguaia".
Nenhuma das acusações foi confirmada pela Justiça. Mesmo assim, o conteúdo permaneceu no ar até dias antes do duplo homicídio.
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Ataques ao Judiciário
Nos textos, o "Varones Unidos" também direcionava críticas à promotoria especializada em crimes sexuais, acusando promotores e defensores públicos de "encobrir denúncias" e "obstruir" o retorno da criança ao Uruguai.
Um dos artigos mencionava inclusive denúncias infundadas de exploração sexual contra a avó materna, teorias sem qualquer respaldo judicial, mas que serviram para alimentar o discurso de perseguição do grupo.
A publicação mais recente sobre o tema, feita em julho, acusava o Tribunal Superior de Justiça de Córdoba de emitir uma decisão "arbitrária" ao negar a restituição do menino e afirmava que a Justiça "ignorou provas essenciais" e "desprezou o interesse da criança".
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Da retórica à tragédia
Com o assassinato de Luna Giardina e de sua mãe, a retórica de perseguição promovida pelo "Varones Unidos" ganhou um novo peso. O caso, que já era acompanhado por integrantes da comunidade digital, passou a ser analisado pelas autoridades como exemplo de radicalização de discursos de ódio e misoginia on-line.
Investigadores argentinos agora apuram se as publicações do grupo incentivaram ou validaram a violência cometida por Laurta. Especialistas em gênero e direitos humanos destacam que o episódio revela como redes digitais de "ativismo masculino" podem se transformar em espaços de legitimação da violência doméstica.
— Esses grupos se apresentam como fóruns de pais separados, mas acabam funcionando como câmaras de eco que reforçam visões de ódio contra mulheres e o sistema de Justiça — afirmou a socióloga argentina Mariana Carbajal, especialista em violência de gênero.
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Investigação internacional
As autoridades argentinas e uruguaias colaboram agora na investigação sobre o crime e o histórico do grupo. Em Montevidéu, o Instituto Nacional de Mulheres d

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