
Trump afirma que a guerra em Gaza terminou, mas caminho até a paz definitiva ainda é longo; Entenda
No longo discurso no Parlamento de Israel, feito no mesmo dia em que reféns israelenses e prisioneiros palestinos começavam a voltar para suas casas, o presidente dos EUA, Donald Trump afirmou que a guerra na Faixa de Gaza chegou ao fim com o acordo firmado na semana passada entre israelenses e o grupo Hamas. O republicano, inclusive, já começa a pensar no pós-guerra, como a expansão dos chamados Acordos de Abraão. Apesar de permitir o cessar-fogo, o retorno dos reféns e a entrada de ajuda humanitária, o texto era apenas a primeira parte do plano, e há pontos em aberto que exigirão muito dos negociadores antes que a “Pax Trumpiana” possa ser declarada.
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Cessar-fogo
O primeiro desafio é garantir o cumprimento do cessar-fogo. Netanyahu, como Trump, afirmou que a guerra chegou ao fim após dois anos, mas o cronograma para a retirada completa das tropas israelenses ainda não foi acertado. Algumas unidades foram realocadas para posições ainda dentro do enclave, e o comando militar deixou claro que elas atuarão para “remover qualquer ameaça imediata” se necessário. Mesmo que todas as etapas do plano sejam cumpridas, haverá forças de Israel em “zonas tampão” dentro de Gaza, algo previsto pelo texto da Casa Branca, deixando no ar a possibilidade de enfrentamentos pontuais e acusações mútuas de violação do plano, como ocorreu em outros acertos de cessar-fogo desde 2023.
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Desarmamento do Hamas
Pelo lado do Hamas, a proposta estabelece seu desarmamento total. O grupo rejeita a ideia de abandonar todas suas armas, mas se disse aberto a uma saída alternativa, que permita aos seus membros a posse de armas leves, como pistolas e alguns rifles, para autodefesa, citando questões de segurança interna. O grupo mobilizou sete mil homens para áreas desocupadas por Israel, e houve confrontos com rivais na Cidade de Gaza nos últimos dias.
— Vimos neste fim de semana episódios de violência entre o Hamas e grupos palestinos rivais, então é necessário se pensar em como garantir a segurança na Faixa de Gaza, e isso não está claro ainda — disse ao GLOBO Paulo Velasco, professor de Relações Internacionais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). — Se fala muito vagamente de uma força internacional que treinará policiais palestinos. Mas até lá, podemos ter uma espiral de violência, o Hamas tem inimigos que entendem agora é momento de agir.
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Um dos objetivos de Netanyahu era a destruição do Hamas, e não está claro se Israel aceitará uma solução intermediária para a questão das armas. Mas como aponta Danilo Porfirio, doutor em Ciências Sociais e especialista em Oriente Médio, o grupo está em posição de fragilidade, e não conseguirá exigir muito à mesa.
— O Hamas está emparedado, e seus principais apoiadores receberam o recado de que não existe mais condição de igualdade no processo de negociação. Ou o Hamas se rende, com a entrega das armas e dos prisioneiros, ou do contrário as consequências serão terríveis — afirmou ao GLOBO Danilo Porfirio, doutor em Ciências Sociais e especialista em Oriente Médio. — Ao mesmo tempo, essa situação também empareda Israel. Qualquer ação israelense sem o aval dos americanos gerará um problema de isolamento não só de Israel, mas do governo de Israel.
Reféns mortos
O plano prevê a entrega de todos os reféns — vivos ou mortos — para Israel. O Hamas admitiu que não sabe a localização dos restos mortais dos que morreram nos últimos dois anos, e negociadores afirmaram que os israelenses sabiam disso quando assinaram o plano.
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Mas nesta segunda-feira, o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que se o grupo atrasar deliberadamente a entrega dos corpos, isso será considerado uma violação do acordo.
“O anúncio do Hamas sobre o retorno esperado de quatro corpos hoje é um fracasso no cumprimento de compromissos”, escreveu Katz no X. “Qualquer atraso ou omissão intencional será considerado uma violação flagrante do acordo e será respondido adequadamente.”
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Administração de Gaza
O futuro imediato de Gaza também está em aberto. O plano prevê uma administração temporária composta por palestinos “notáveis”, sem a presença do Hamas e, ao menos inicialmente, sem a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que controla parcialmente a Cisjordânia. Esse governo será supervisionado por um novo órgão internacional, comandado pelo próprio líder americano. Contudo, a ANP se diz pronta para trabalhar imediatamente em Gaza, e disposta a realizar reformas internas: a autoridade, criada
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