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'Medicina do cativeiro': Como é o atendimento médico aos reféns de Israel libertados após 738 dias em Gaza

13/10/2025 15:20 O Globo - Rio/Política RJ

Libertados pelo Hamas como parte do acordo de cessar-fogo com Israel, os 20 israelenses que eram mantidos reféns pelo grupo terrorista há dois anos reencontraram-se, nesta segunda-feira, com familiares e foram enviados para hospitais onde receberão atendimento médico. Nessas unidades de saúde, eles vão ser examinados e acompanhados por médicos de diferentes especialidades após viverem 738 dias nas condições precárias do cativeiro do Hamas.
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— Não existe um campo como a medicina do cativeiro, e estamos inventando ela — disse à emissora britânica BBC a médica Michal Steinman, do Centro Médico Rabin, em Petah Tikva, que já tratou reféns soltos pelo Hamas em outras ocasiões.
Antes mesmo de entrarem no hospital, os reféns libertados passarão por uma avaliação médica feita pelas Forças de Defesa de Israel (IDF). Baseado nas experiências anteriores, o Centro Médico Rabin optou por aumentar os estoques de medicamentos para os olhos e pele.
Ao chegarem no hospital, uma nova avaliação médica é feita nos pacientes para verificar se existe alguma condição que necessite de tratamento urgente. Segundo o governo israelense, o exame deve ser feito na presença de um familiar ou de uma pessoa de confiança. Após o reencontro de pacientes com parentes, uma nova avaliação completa é feita por um médico especialista em situações de emergência, um enfermeiro e, se for necessário, médicos de outras áreas. Uma avaliação psiquiátrica também deverá ser feita dentro de 24 horas.
Cada um dos quartos do Centro Médico Rabin conta com um cartão de "não perturbe", além de iluminação e decoração suave e uma cama extra, para caso os pacientes não queiram dormir sozinhos. Sob cada uma das camas foi deixada uma cesta de presentes, que incluem um ursinho de pelúcia, cobertor, chinelos e um carregador de telefone. O parente mais próximo também terá um aposento próprio do outro lado do corredor.
— Nossa pesquisa diz que cada um de nós tem uma criança dentro de si. Precisamos de algo para acariciar e sentir suave, e tranquilizá-los depois da falta de sentidos por tanto tempo — disse Steinman ao canal de televisão britânico Sky.
Diferentemente do que aconteceu com reféns libertados no início do ano, os novos pacientes vão passar por um período de 24 horas de monitoração intensa devido aos 200 dias a mais de cativeiro aos quais foram submetidos. Segundo Steinmann, os médicos precisam ter em mente "questões clínicas, o estado nutricional e o estado psicológico" dos novos pacientes.
Um dos desafios da equipe médica é descobrir o que os reféns libertados podem comer após dois anos presos. Alguns deles já chegaram a perder metade do peso durante os dias de cativeiro. A reintrodução de alimentos após longos períodos de fome pode ocasionar a chamada síndrome da realimentação, com possíveis complicações neurológicas, respiratórias ou cardíacas.
— Temos que ser extremamente cuidadosos porque temos cuidado com a superalimentação — disse Steinman ao jornal The Telegraph —No passado, alguns deles perderam tão completamente o apetite que tivemos que trabalhar com eles para que sintam fome novamente.
Steinman relatou que, ao tratarem reféns do Hamas libertados no início do ano, os médicos do Centro Rabin aprenderam que os efeitos do tempo passado no cativeiro podem demorar para aparecer.
— O cativeiro faz coisas ao seu corpo que ele se lembra. Você vê todas essas camadas — descreveu a médica a BBC, antes de acrescentar — Continuamos cuidando dos reféns que voltaram em janeiro e fevereiro, e toda semana descobrimos coisas novas.
O Ministério da Saúde recomenda que os reféns libertados fiquem ao menos quatro dias no hospital para garantir uma transição saudável, segundo o jornal The Times of Israel. O governo também recomenda que o acompanhamento seja feito por uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos, assistentes sociais, psiquiatras, psicólogos, nutricionistas.
"O regresso do cativeiro requer avaliação médica imediata e tratamento no hospital, seguido de cuidados físicos, mentais e sociais a longo prazo e monitorização após a alta. A resposta deve ser abrangente, contínua e personalizada, mantendo ao mesmo tempo a privacidade estrita", disse o ministério.

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