Tribunais criminais britânicos rompem tradição de 350 anos e liberam advogados do uso de perucas
Os tribunais criminais da Inglaterra e do País de Gales poderão, a partir de agora, prescindir do uso obrigatório de suas tradicionais perucas ao estilo georgiano — traje que vinha sendo exigido desde 1685 e vinha sendo alvo de críticas de advogados negros por considerarem-no “inapropriado” e “culturalmente insensível”.
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Segundo reportagem publicada no The Sun, a mudança ocorre após o Leslie Thomas KC ter declarado que as perucas “parecem ridículas em defensores negros” e foram “feitas para cabelos caucasianos”.
A orientação revisada da Bar Council, que representa cerca de 18 000 advogados na Inglaterra e no País de Gales, estabelece que, quando o uso de peruca for “desconfortável ou impraticável” por motivo ligado à etnia — como penteados volumosos ou tradicionais de cabelos afro — o advogado não precisará usar a peça, mesmo em processos criminais onde ela era até então mandatória.
O debate se intensificou a partir de 2022, quando o advogado negro Michael Etienne foi informado de que poderia ser acusado de desacato ao tribunal por recusar o uso da peruca — e alegou tratar-se de discriminação por conta de seu cabelo. A Bar Council constituiu então um grupo de trabalho para revisar os requisitos de vestimenta e publicou nova orientação afirmando: “em algumas etnias, há tradições de penteados associadas que tornariam o uso de peruca desconfortável ou impraticável”.
Por outro lado, a decisão encontra resistência: o ex-secretário da Justiça Sir Robert Buckland, ao The Sun, criticou a mudança, argumentando que as perucas funcionam como “um grande nivelador” no tribunal, assegurando status igualitário entre advogados mais novos e mais experientes.
Historicamente, o uso de perucas na profissão jurídica remonta à adoção generalizada durante o reinado de Carlos II (1660-1685), quando a moda das perucas se difundiu entre a nobreza britânica. No sistema jurídico, tornaram-se uniforme a partir de 1685. Desde 2007, já não eram exigidas em processos familiares, civis ou para a Suprema Corte, mas permaneciam obrigatórias em casos criminais.
A nova orientação marca, portanto, uma mudança significativa no traje jurídico britânico — uma tradição de mais de três séculos — e reflete uma adaptação às questões de igualdade, diversidade e reconhecimento das particularidades culturais. Resta acompanhar como isso será implementado na prática e se haverá uniformidade nos tribunais em relação à exceção.
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