
Sobrevivente de ataque a tiros em Irajá foi baleado no rosto, num joelho e no tórax e segue entubado
Um ataque a tiros contra pessoas em situação de rua, na madrugada desta sexta-feira, deixou dois homens mortos e um terceiro gravemente ferido em Irajá, Zona Norte do Rio. O sobrevivente, Jaílton Matias Anselmo, de 37 anos, foi atingido, segundo a família, por pelo menos três disparos — um no rosto, um no tórax e outro em um dos joelhos — e segue entubado no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha. As vítimas dormiam sob o viaduto da Avenida Pastor Martin Luther King Jr., próximo à estação do metrô de Irajá, quando foram surpreendidas por tiros disparados por criminosos que saíram de um carro ainda não identificado.
‘Começava a cantar e animava todo mundo’: uma das vítimas de ataque a tiros em Irajá era percussionista e estava em projeto social
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Segundo Carlos Augusto, primo de Jaílton, ele e outro parente foram ao hospital, na tarde desta sexta-feira, após verem a notícia do ataque pela televisão.
— Ficamos sabendo pela TV e viemos por conta própria, porque ele é da nossa família. É meu primo por parte de pai, mas pouco sabemos da vida dele hoje em dia. Sempre foi trabalhador, não mexia com ninguém — afirmou.
Ainda de acordo com Carlos Augusto, Jaílton foi colocado na sala verde do hospital ainda pela manhã. No entanto, por volta das 13h, quando os parentes chegaram para visitá-lo, foram informados de que ele havia sido transferido para a sala vermelha, em estado mais grave, e que, por isso, não poderiam vê-lo. Segundo os dois primos, ele está entubado.
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Jaílton vivia nas ruas há pelo menos dez anos, e dormia exatamente no local onde foi atacado, sob o viaduto. Ainda criança, veio com os pais do Nordeste para o Rio de Janeiro. Os pais retornaram para sua cidade natal, mas Jaílton permaneceu para tentar a vida. Durante os anos em que teve moradia, trabalhou em supermercados e aceitava "bicos", os trabalhos temporários, que aparecesse, segundo a família.
Ataque deixou dois mortos
O ataque ocorreu por volta das 4h45 desta sexta-feira. Segundo testemunhas e policiais militares do 41º BPM (Irajá), um carro parou no sentido Pavuna, e homens desceram atirando em direção às pessoas em situação de rua que dormiam sob o viaduto. Os disparos ocorreram em pontos diferentes do local — os dois mortos foram encontrados perto dos colchões que usavam.
Bahia vivia nas ruas, em Irajá, e está entre os mortos de ataque a tiros na madrugada
Reprodução
Equipes do Corpo de Bombeiros encontraram dois homens já sem vida. Um deles foi identificado como Etervaldo Bispo dos Santos, de 52 anos, conhecido como Bahia. Ele era morador de rua há mais de 10 anos e, antes disso, trabalhava como cabeleireiro. Natural de Salvador, Bahia também era percussionista e chegou a participar de projetos sociais de música na Zona Norte do Rio.
Segundo Luccas Xaxará, diretor do grupo Batikum Afro, que realiza oficinas e apresentações de música afro-brasileira na região, Bahia era figura frequente nos encontros:
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— Ele cantava, participava e estava sempre com a gente. Tocávamos percussão baiana, e ele lembrava muito da sua terra, de Salvador. Um dia apareceu do nada e começou a interagir. Criamos uma relação. Todo ensaio ele aparecia — contou Luccas.
Mesmo após sofrer um AVC, que limitou os movimentos de um dos braços, Bahia continuava a frequentar os encontros musicais e cantava com o grupo.
— Chegava, começava a cantar e animava todo mundo — relembrou o diretor.
A terceira vítima do ataque foi Jaílton, único sobrevivente, que foi socorrido pelos bombeiros em estado grave e levado para o HEGV.
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Cápsulas de fuzil e pistola foram encontradas
No local do crime, a perícia da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) encontrou cápsulas de pistola e de fuzil, o que indica o uso de armamento pesado no ataque. A investigação ainda não determinou a motivação do crime. O viaduto onde as vítimas estavam fica na divisa entre as comunidades Rio D’Ouro e Malvina, área de atuação do Terceiro Comando Puro (TCP), o que levanta a possibilidade de relação com disputas territoriais, mas nenhuma linha é descartada até o momento.
Durante a manhã, agentes da Secretaria Municipal de Assistência Social estiveram no local para prestar apoio às pessoas em situação de rua que ainda permaneciam sob o viaduto. Colchões, cobertores, sofás e roupas estavam espalhados no local do ataque.
Moradores da região afirmam que o crime causou espanto. Uma mulher, que preferiu não se identificar, relatou que os homens que viviam ali eram conhecidos e não apresentavam risco à vizinhança.
— Se fosse o contrário, não estaríamos aqui
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