
'Será a maior Copa feminina de todos os tempos', diz a diretora de futebol da Fifa, Jill Ellis, sobre o Mundial de 2027 no Brasil
Com mais de 30 anos de carreira à beira do campo e em cargos de gestão, a anglo-americana Jill Ellis, de 59 anos, assumiu a direção do futebol da Fifa em dezembro do ano passado para replicar, em escala global, o mote da sua vida: ajudar o crescimento do esporte e levá-lo a mais mulheres. No Rio de Janeiro para o workshop da entidade com as cidades-sede da Copa do Mundo de 2027, a dirigente crê que o Brasil fará o melhor Mundial de todos os tempos. Em entrevista ao GLOBO, ela destacou as mudanças profundas no futebol feminino nas últimas décadas, o que ainda falta para atingir a excelência e colocou Marta no seu top 5 das maiores jogadoras da História: "Ela me dava medo, às vezes, de pensar: Meu Deus, temos que jogar contra ela”.
Desde 2024, você está na direção do futebol da Fifa. O que faz realmente?
Eu supervisiono diferentes áreas — arbitragem masculina e feminina, área médica e o futebol feminino. Trabalho com o desenvolvimento de técnico de talentos e também com relações e engajamento de jogadoras. Meu principal objetivo é continuar promovendo, elevando e fazendo o esporte crescer globalmente. Foi uma das razões pelas quais aceitei esse cargo. Nesta fase da minha vida, é menos sobre o que está à minha frente e mais sobre como melhorar as coisas para quem vem depois. Estamos trabalhando agora com o campeonato de clubes femininos, criando competições, tentando observar o futebol feminino profissional de elite, as seleções nacionais... Analisando como podemos continuar fazendo o esporte crescer.
Qual legado você gostaria de deixar?
O futebol foi um presente enorme na minha vida. Espero que meu legado seja criar oportunidades para que outras pessoas também tenham acesso ao jogo, elevar os padrões e deixar algo melhor do que encontrei. Estamos trabalhando em iniciativas como um programa de impacto para jogadoras — ajudá-las a criar seus próprios legados — e uma estratégia de arbitragem para atrair mais pessoas, homens e mulheres. Ninguém diz: “Eu quero ser árbitro”. Buscamos criar acesso e elevar o nível em todas as frentes.
Uma das mudanças da Fifa é a expansão da Copa do Mundo feminina para 48 seleções em 2031? Quais os principais benefícios e riscos?
O futebol feminino está crescendo rapidamente. Em 2023, vimos seleções estreantes como o Marrocos chegarem às oitavas. Se olhar os placares das eliminatórias, não se vê, nas fases finais, resultados de 7 a 0, mas de 1 a 0, 2 a 1. Essas seleções que estão ali na beira, que ainda não entram, são competitivas. A Fifa destinou 1 milhão de dólares a cada equipe classificada para ajudar na preparação, por isso vimos uma Copa tão competitiva. Ainda estamos a alguns anos da Copa com 48 seleções, mas vemos o crescimento rápido. A diferença entre os países é muito menor no futebol feminino — significa que com investimento é possível reduzir. Por exemplo, olho para o Paquistão, Índia, Butão, países que investiram, e já estão competitivos nas eliminatórias. Nossa responsabilidade é garantir que todas as seleções estejam preparadas e competitivas.
E quais suas expectativas para a Copa do Mundo de 2027 no Brasil?
Será a melhor Copa do Mundo feminina de todas. O futebol feminino está crescendo ao redor do mundo. Vimos a Euro quebrar recordes, a última Copa do Mundo feminina, o nível e a qualidade das jogadoras, como Aitana Bonmatí, Bunny Shaw, Diani... As partidas serão empolgantes, competitivas e envolventes. E, combinando isso a um país que realmente ama o futebol, será um grande sucesso. É um ótimo destino. As pessoas vão querer viajar para cá, aproveitar a cultura, a paisagem e o povo. Mas também virão pelo futebol — e o Brasil é um país louco por futebol. Veremos a Copa mais competitiva, e uma presença e um interesse enormes, porque o resto do mundo estará assistindo. Grandes eventos mundiais atraem interesse.
E quais suas impressões sobre o Brasil?
Eu estive aqui nas Olimpíadas. Tive uma impressão um pouco triste do ponto de vista competitivo, mas adorei o país, adorei as pessoas. E estive aqui em janeiro realizando um curso de instrutores de arbitragem, fui ao Maracanã. Vi os torcedores dos clubes brasileiros no Mundial de Clubes. É uma loucura. Eu amo essa energia. Eu precisaria de uma soneca depois de um jogo, porque a quantidade de energia que os torcedores gastam é inacreditável. E eu já disse isso: não há torcedores como os daqui. Já estive em jogos da Premier League, em finais, mas a energia do torcedor sul-americano — e especialmente do torcedor brasileiro — é fora da curva. É incrível.
Tem acompanhado a seleção feminina do Brasil?
A seleção brasileira tem fome de vencer — e isso é importante. Acabou de ganhar a Colômbia (Copa América), foi vice nas Olimpíadas, e o técnico venceu com seu clube, o Corinthians. São ótimos sinais de uma equipe faminta. E há um equilíbrio na equipe — vejo a chegada de jogadoras mais jovens, mas também vejo a experiência. Como treinadora, não dá para competir só com jogadoras jovens e inexperientes, nem só com veteranas. É
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