
Seca prolongada na Argentina faz Santa Fé perder 317 mil vacas, aponta pesquisa; entenda
No norte de Santa Fé, as consequências da seca ainda se fazem sentir. As chuvas recentes não foram suficientes para recuperar campos ou rebanhos, e a escassez de água continua prejudicando a produção.
Como assistir às 'Olimpíadas do Piano'? Tudo o que você precisa saber sobre o Concurso Chopin que ocorre nesta semana
Leia também: Conheça a história do bilhete em sapato infantil que, 80 anos após o Holocausto, revelou o nome de um menino morto em Auschwitz
De acordo com um relatório da Bolsa de Valores de Santa Fé, com base em dados do Senasa, o rebanho bovino provincial somava cerca de 5.420.844 cabeças em julho passado, representando 12% do total nacional. Houve, porém, uma queda de 2,5% em relação ao ano anterior, equivalente a 137.600 animais a menos. As maiores perdas ocorreram nos departamentos do norte de San Cristóbal, Nueve de Julio e General Obligado, que juntos registraram redução de mais de 100 mil cabeças. Esse declínio se soma ao de 2023, consolidando Santa Fé como uma das regiões mais afetadas do país: nos últimos três anos, 317 mil vacas e 155,8 mil bezerros foram perdidos.
Impacto na pecuária e na economia local
A pecuária, atividade central da região, enfrenta agora o desafio de reconstruir sua economia, manter a eficiência e evitar um declínio ainda maior em meio a uma situação que, segundo os produtores, “não dá trégua”.
“Aqui, ocorreram duas situações típicas de qualquer seca”, afirmou Rafael Alemán, presidente da Sociedade Rural de San Cristóbal. “Uma delas é a mortalidade do gado, que variou conforme a área. O departamento é dividido em norte e sul da Rota 39. Ao norte, em direção às terras baixas subtropicais, a qualidade da água subterrânea é muito ruim, francamente salgada, e há áreas sem água alguma. O gado depende da água da chuva acumulada em represas ou estuários. Com secas tão severas, isso se torna extremamente complicado.”
Ele explicou que a situação se agravou quando, após chuvas em agosto que geraram expectativa de melhora, as precipitações cessaram em setembro. “Por isso, o governo provincial estendeu a emergência agrícola por mais seis meses para San Cristóbal e Nueve de Julio, até 30 de agosto. Como choveu um pouco em agosto, a medida foi suspensa, mas permanece em observação até 30 de outubro, quando será definida a continuidade ou não do auxílio”, detalhou.
A agência de Santa Fé que elaborou o relatório destacou que a área mais afetada concentrou-se no norte da província, com redução significativa do rebanho em vacas e novilhas, categorias essenciais para a reposição. Somente entre 2023 e 2025, 317 mil vacas e novilhas aptas para parir foram perdidas, resultando em 155,8 mil bezerros a menos nesse período.
Alemán acrescentou que a falta de água não foi o único problema: “No norte, houve mortes por escassez de água, e ao sul da Rota 39, por falta de pasto. Quando a forragem é escassa, espécies tóxicas, como o alecrim, proliferam, e os animais acabam consumindo-as por ser o único alimento verde disponível. Isso provocou muitas mortes, especialmente em áreas montanhosas. Além disso, a produtividade das vacas caiu, com baixa taxa de prenhez, provavelmente abaixo de 50% na região.”
Sinais de eficiência em meio à crise
Apesar do cenário adverso, o relatório da Bolsa de Valores apresentou alguns dados positivos. “Apesar de terem menos vacas, os produtores de Santa Fé alcançaram um número maior de nascimentos por animal em comparação ao ano anterior”, afirmou o documento. Em 2025, a relação bezerro-vaca ficou em 61,4%, 5,2 pontos acima de 2024 e 3,7 pontos acima da média histórica (2009-2024). A melhora foi atribuída a “maior eficiência na seleção de animais, adoção de tecnologia, práticas sanitárias e melhorias no manejo nutricional”.
No entanto, a recuperação será lenta. “Muitos produtores tiveram que vender animais antes que os preços subissem e, depois, foi impossível se recuperar. Alguns abandonaram a agricultura e alugaram suas terras para o algodão, especialmente nas terras baixas. Outros aguardam retornar à produção, mas estão gravemente subcapitalizados”, lamentou Alemán. “No norte, alguns compravam água de caminhão para o gado até desistirem e venderem tudo. ‘Comprar água para a fazenda é loucura’, me disse um produtor.”
A Bolsa de Valores alerta que a redução dos estoques comprometerá o potencial de produção nos próximos três a cinco anos, impactando diretamente o número de bezerros nascidos.
“O desafio agora é recompor o rebanho”, concluiu Alemán. “Para isso, precisamos de chuva e apoio para obras públicas e infraestrutura. Com perdas significativas, pouca recuperação e seca constante, as perspectivas permanecem muito difíceis.”
Fonte original: abrir