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Rap, identidade feminina e misticismo: gêmeas Tasha & Tracie falam sobre primeiro álbum de estúdio, com participação de Liniker

22/10/2025 07:31 O Globo - Rio/Política RJ

Na cena musical desde 2019, quando debutou com o EP “Rouff”, a dupla de rappers paulistanas Tasha & Tracie precisou de seis anos de carreira para que enfim tivesse o que era necessário (na visão delas, diga-se) para lançar seu primeiro álbum de estúdio. “Serena & Vênus (lado A)”, que chegou às plataformas no fim de setembro, cria, ao longo das 21 faixas, uma crônica sonora a partir de memórias das irmãs gêmeas. A demora para o lançamento, como as artistas independentes contam ao GLOBO, está relacionada à vontade que tinham de fazer o primeiro disco com certa autonomia — o que agora é possível, já que criaram seu próprio estúdio.
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— Tentamos muitas vezes (lançar um álbum), mas não tínhamos estrutura, era difícil. Trabalhamos como DJs, com moda, com tudo o que surgia para nos sustentarmos... Não tínhamos como pagar pela produção. Tudo o que lançamos antes foi feito “como dava”, no improviso. Mas não queríamos isso (para o primeiro álbum), porque sempre sonhamos em lançá-lo, o idealizamos muito — explica Tracie.
Entre seus trabalhos anteriores, o EP “Diretoria”, de 2021, foi o que chegou mais perto de um álbum. Com sete músicas, era visto pelas irmãs como o “mais coeso” até então.
Criadas no Jardim Peri, bairro periférico da Zona Norte de São Paulo, o trabalho de Tasha e Tracie Okereke sempre se aproxima de questões de periferia, raça e identidade feminina. Temas que seguem em pauta neste primeiro disco. Ao longo das músicas, a dupla narra a trajetória de uma mulher que se apaixona por um bandido, se arrisca no mundo do crime por esse amor, é presa e sente na pele o abandono no sistema prisional.
13 milhões de visualizações
A relação com a história das irmãs é direta: tanto a mãe brasileira quanto o pai nigeriano (daí o sobrenome Okereke) passaram pelo sistema carcerário no Brasil. A capa do álbum é inspirada nas cartas que a mãe enviava às filhas na época, feitas em caneta azul e cheias de desenhos.
— Sofremos muito quando a nossa mãe foi presa em Salvador, por quase quatro anos. Não conseguíamos e nem podíamos visitá-la. Já o nosso pai, que nem brasileiro é, sempre recebia visitas (quando preso). Vimos as diferenças quando um homem e quando uma mulher são presos — conta Tasha. — Até pensei que o álbum seria mais autobiográfico, que contaria mais sobre esse lado nosso que as pessoas não conheciam, mas ainda vamos trabalhar mais nisso.
A sede de recuperar o atraso levou as rappers, com mais de dois milhões de ouvintes mensais no Spotify, a começarem a trabalhar numa continuação. Como adiantam ao GLOBO (sem entrar em muitos detalhes), o chamado “Lado B” já tem ao menos dez músicas encaminhadas, entre rascunhos e melodias. O próximo lançamento, ainda sem data, deve seguir o mesmo tema do recente, mas com mais vertentes sonoras, como o gênero jamaicano dancehall.
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A ideia, segundo a dupla, é seguir trabalhando em cima do “Lado A” por um tempo, com videoclipes e lyric videos. Lançado em julho, o single “Amina” é o único com um trabalho visual até o momento, com mais de 13 milhões de visualizações no YouTube.
— Os trabalhos visuais trarão imagens que também contam partes da história que as pessoas talvez não tenham entendido — explica Tracie.
Algo que as irmãs reforçam durante a conversa por vídeo com o GLOBO é que elas acreditam em signos e em misticismo. Crença reforçada quando questionadas sobre as diferentes influências sonoras de “Serena & Vênus”, que vão do rap clássico ao house e do funk ao R&B.
— Somos muito geminianas, então fizemos um trabalho que é a nossa cara. Gostamos de misturar coisas diferentes, como estampas e acessórios dourados e prateados... Ou seja, tudo o que as pessoas acham brega e não gostam (risos). Então, quisemos expressar quem somos de maneira versátil — diz Tracie.
Já o lado místico é trabalhado pelas irmãs na faixa “Simpatia”, momento em que a protagonista da história faz um pequeno ritual para atrair o homem por quem se apaixonou. Feita em colaboração com a cantora Liniker e com a rapper Bivolt, as parceiras foram escolhidas por Tasha e Tracie por seu ar “misterioso”.
Com narrativa sobre mundo do crime e abandono, 'Serena & Vênus (lado A)' é uma crônica da história das gêmeas Tasha e Tracie, cujos pais passaram pelo sistema prisional
Divlgação/Isabelle India
Apesar de essa não ser a primeira colaboração das gêmeas com Bivolt, é a estreia com Liniker. Elas contam que já conheciam a cantora e que as três pensavam em trabalhar juntas há um tempo.
— Sonhava em fazer uma música com ela. Mas ficamos com receio de mostrar o que tínhamos… Mandamos duas músicas e nos questionamos se estavam “boas o suficiente” para ela. Mas ela se identificou com “Simpatia” e logo come

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