Quanto mais amor, melhor o sono? Como a intimidade pode influenciar a qualidade do descanso
É possível que o que acontece debaixo dos lençóis, não apenas os sonhos, mas o próprio ato de dormir, revele algo decisivo sobre a qualidade de um relacionamento? E, no sentido inverso, será que o relacionamento também molda o sono de cada parceiro?
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Segundo o médico e terapeuta João Borzino, relações saudáveis exigem prática, negociação, compromisso com a verdade e traços como intimidade, transparência e esforço mútuo.
"Se aceitarmos que um relacionamento forte e estável é um dos pilares do bem-estar humano, então cabe indagar: será que esse pilar se estende ao âmbito do sono, tão essencial para a saúde física e mental? No que a neurociência das relações nos diz sobre isso? E o que isso implica para quem ama, ou deseja amar, bem?", questiona.
O que a ciência já sabe sobre amor e sono
Nos últimos anos, a neurociência e a psicologia social vêm mostrando que o sono não é apenas um fenômeno individual, mas profundamente influenciado pelo ambiente social, e, em especial, pelo parceiro íntimo. Borzino cita evidências que reforçam essa conexão:
Uma meta-análise com mais de 43 mil pessoas (62 estudos) encontrou correlação moderada entre melhor qualidade de relacionamento conjugal e melhor qualidade global do sono (r ≈ 0,34), além de maior duração (r ≈ 0,39).
Outro estudo indicou que mulheres que relatavam maior "felicidade conjugal" apresentavam menos distúrbios de sono que aquelas em uniões menos satisfatórias.
Pesquisas com casais que mantêm diários de sono mostraram que maior segurança no vínculo e menor evitamento estavam associados a melhor qualidade subjetiva de descanso.
Dormir junto também importa
Há evidências de que a convivência noturna influencia a fisiologia do sono. Estudos mostram que casais que dormem juntos regularmente têm mais sono REM, fase ligada à consolidação da memória e aos sonhos, e maior estabilidade dessa etapa do que quando dormem separados.
Pesquisas sobre sleep concordance (a sincronização do sono entre parceiros) indicam que, quando um dorme mal, o outro tende a ser afetado. Já revisões sobre mecanismos entre sono e relacionamento apontam fatores como conflitos, insegurança, apoio emocional e ambiente compartilhado como mediadores dessa interação.
Intimidade e descanso: o elo invisível
A ciência também sugere que o sexo e a proximidade emocional interferem no sono. Um estudo recente associou a atividade sexual, com ou sem orgasmo, a melhora na eficiência do sono, tanto em homens quanto em mulheres.
Por outro lado, revisões sobre o "compartilhamento de cama" alertam que diferenças de hábitos, cronotipo, ronco ou movimentos excessivos podem reduzir os benefícios da cama compartilhada.
O modelo teórico citado por Borzino propõe que o ser humano precisa sentir segurança e redução do estado de alerta para adormecer bem, condições favorecidas por relações estáveis e apoio emocional adequado. O contrário também é verdadeiro: noites mal dormidas comprometem a regulação emocional e aumentam o risco de conflitos, criando um ciclo bidirecional.
"Há um ‘efeito casal’ que agrega: a qualidade e a dinâmica do relacionamento aparecem como fator relevante para a quantidade e a qualidade do sono, e vice-versa", completa o terapeuta.
Na prática: quando o vínculo interfere no descanso
Borzino cita exemplos simples do cotidiano. Um casal que, após anos de convivência, vê o momento de dormir juntos como um "ritual de acalmar" tende a relatar menos ansiedade e mais sensação de segurança ao adormecer. Já parceiros que acumulam ressentimentos ou têm falhas de comunicação podem perceber o oposto: um cérebro em estado de alerta, que impede o desligamento necessário para um sono profundo.
O especialista lembra ainda o ponto destacado por Jordan Peterson em "Beyond Order: 12 More Rules for Life": manter romance, diálogo, confiança e negociação não é opcional, é o alicerce de vínculos duradouros. “Embora ele não fale diretamente sobre o sono, a lógica se encaixa nos achados da neurociência: quanto mais segurança e suporte mútuo, menor o estresse relacional, e melhor o sono", explica.
Autoteste para casais: o 'sono do casal'
Borzino propõe um pequeno exercício para avaliar como o relacionamento afeta o descanso, e vice-versa.
Cada parceiro deve pontuar, de 1 a 5 (1 = muito mal / 5 = muito bem):
Apoio emocional recebido na semana.
Tempo de diálogo sem celular ou TV.
Número de noites dormindo juntos no horário habitual, sem interrupções.
Percepção de qualidade do sono (facilidade para adormecer, despertares, sensação de descanso).
Ocorrência de conflitos ou ressentimentos não resolvidos antes de dormir.
Comparar as pontuações e observar discrepâncias.
Definir uma ação prática para a semana seguinte, como "conversar 15 minutos após o jantar sem celular" ou "ir para a cama juntos e desligar luzes 30 minutos antes".
Após qu
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