Ataque de drone mata ao menos 40 pessoas durante funeral no Sudão
Dezenas de pessoas que participavam de um funeral no centro do Sudão foram mortas quando um ataque de drone atingiu a aldeia onde o velório acontecia, segundo autoridades estaduais. O episódio, revelado nesta semana, soma-se à crescente onda de atrocidades que assola o país, já devastado pela guerra civil.
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O ataque ocorreu em Kordofan do Norte, estado rico em petróleo e vizinho a Darfur — região que registra intensificação dos confrontos entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar envolvido no conflito.
Fontes locais informaram que cerca de 40 pessoas morreram no ataque, número confirmado pelas Nações Unidas. A imprensa sudanesa também divulgou estimativas semelhantes, citando autoridades que atribuíram a ofensiva às RSF.
O governo estadual classificou a ação como um ataque brutal contra uma “aldeia pacífica e segura” e pediu à comunidade internacional que adote “medidas imediatas” para reconhecer as Forças de Apoio Rápido como organização terrorista. Embora o comunicado não especifique a data do ataque, a nota foi divulgada na segunda-feira.
Massacre em Darfur e deslocamento em massa
Kordofan do Norte se tornou um ponto estratégico disputado por ambos os lados da guerra. A região fica a leste de Darfur, onde testemunhas e imagens sugerem um massacre em curso desde que as RSF tomaram a cidade de El Fasher nas últimas semanas. Milhares tentaram fugir, mas apenas um pequeno número conseguiu escapar com vida.
Na terça-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que a guerra civil no Sudão está “saindo do controle”.
“Pessoas estão morrendo de desnutrição, doenças e violência. E continuamos recebendo relatos de violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos”, afirmou em discurso no Catar, acrescentando haver “relatos confiáveis de execuções em massa” desde a entrada das RSF em El Fasher.
Na semana passada, o Departamento de Estado dos Estados Unidos condenou “as supostas atrocidades em massa cometidas pelas Forças de Apoio Rápido” e afirmou que continuará trabalhando por um acordo de paz.
Após avaliar uma proposta de cessar-fogo apresentada por Washington, o ministro da Defesa do Sudão declarou que as Forças Armadas manteriam a ofensiva contra o grupo paramilitar.
Apesar da condenação global à escalada de violência, poucos governos têm criticado abertamente os Emirados Árabes Unidos, acusados de fornecer apoio às RSF.
Fome e crise humanitária sem precedentes
A guerra civil no Sudão, que já dura mais de dois anos, é considerada uma das piores crises humanitárias do mundo. O conflito forçou 12 milhões de pessoas a deixar suas casas e pode ter causado até 400 mil mortes, segundo estimativas independentes.
Na segunda-feira, a Classificação Integrada das Fases da Segurança Alimentar (IFSC), principal autoridade internacional em crises de fome, declarou estado de fome em El Fasher.
O ataque em Kordofan do Norte somou-se aos relatos do grupo humanitário Rede de Médicos do Sudão, que descreveu corpos se acumulando em residências locais. Analistas que monitoram o conflito afirmam que a região tem presenciado um aumento da presença militar, à medida que os dois lados disputam o controle do país.
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