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Artigo: desinformação climática confunde, mas não convence completamente

05/11/2025 06:30 O Globo - Rio/Política RJ

Um vídeo que circula de forma viral no YouTube, Instagram, Facebook, X e TikTok mostra um pesquisador que apresenta dados numéricos e afirma que a Amazônia representa apenas 1% da superfície global do planeta e, por isso, não alteraria o clima do mundo. A plateia que o escuta aplaude. Duas agências de checagem de informação, a Estadão Verifica e a AFP Checamos, classificaram o vídeo como "enganoso", pois "contradiz a ciência ao negar importância da Amazônia na regulação do clima".
Pesquisa inédita do INCT Redem verificou a vulnerabilidade dos brasileiros aos fenômenos de desinformação climática. Em julho e agosto de 2025, 102 brasileiros distribuídos pelos biomas do país participaram de 12 grupos focais online. Como metodologia, o vídeo de desinformação foi apresentado aos participantes, seguido de perguntas sobre percepção de veracidade e concordância com o discurso. Os resultados traçam um mapa de vulnerabilidades e resistências.
Os achados chamam atenção: três em cada quatro participantes consideraram o vídeo “verdadeiro”. (75 entrevistados). A minoria o classificou como "enganoso" (21) ou "falso" (6). A vulnerabilidade seguiu segmentação socioeconômica: classes C e D apresentaram aceitação quase consensual (22 de 24 entrevistados), enquanto classes A, B, C1e C2 demonstraram mais resistência.
Participantes de Porto Alegre e Maceió — cidades, respectivamente, devastada por enchentes e em meio a um acidente ambiental — apresentaram a maior aceitação entre todos os grupos. A experiência da tragédia não se mostrou associada à compreensão dos problemas ambientais. Assim, mesmo sendo vítima de fenômenos ambientais recentes, parte dos participantes assumiu o discurso classificado como enganoso sobre as causas climáticas”.
Quem resiste e por quê? A percepção de que o vídeo era enganoso foi maior em grupos de participantes ligados a regiões produtoras de energia, agronegócio e mineração, na Amazônia Legal, Cerrado e Pantanal, que lidam cotidianamente com tensões entre conservação e desenvolvimento. Essa familiaridade gera apoiadores e críticos contundentes: "Ele apresentou dados verdadeiros, mas direcionando o raciocínio para o lado errado"; "Discordo quando ele fala que temos que usar nossos recursos sem limite, essa fala dele é totalmente negacionista".
A pesquisa categorizou as justificativas para se acreditar no vídeo. No topo: a) confiança na "autoridade e expertise" do emissor (23 entrevistados) — "ele se identificou como cientista"; b) "forma firme de falar, com convicção" (21) — "foi seguro ao falar"; c) "uso de dados, números e estatísticas" (18) — "matemática com cálculos muito exatos"; e d) "contexto e aprovação social" (8) — "foi aplaudido". Autoridade proclamada, confiança performática, argumento quase lógico com recurso numérico e validação social tocaram participantes sem atitudes firmes sobre a relação entre Amazônia e mudança climática.
Número mais restrito de participantes acreditou por "confirmação de (suas) crenças prévias" (12) — "Faz todo o sentido. É fato" — ou identificação com "a realidade que vivem" (6). Nesse caso, a atitude tendia a ser mais convincente.
Uma minoria soube mencionar estratégias de verificação: "pesquisar na internet", "checar a fonte" e "comparar com outras mídias".
Identificamos, no entanto, uma dissonância reveladora. O achado mais significativo emergiu quando participantes explicaram com o que especificamente concordavam ou discordavam. Grande parte que afirmou considerar o vídeo verdadeiro de maneira geral revelou espontaneamente discordâncias fundamentais: defenderam que a Amazônia "é fundamental para o clima global" — oposto direto da mensagem. Metade dos participantes, em todas as conversações, mencionou espontaneamente a importância da Amazônia para o equilíbrio – mesmo expostos ao vídeo afirmando o contrário.
Os participantes experimentam uma espécie de dissonância cognitiva: dizem ver veracidade na comunicação sob efeito da autoridade, uso de números e aprovação social do emissor, mas não abandonam crenças prévias sobre a Amazônia, que sobrevivem ao conteúdo classificado como enganoso.
Um morador de Porto Alegre representa esse padrão. Ele considerou o vídeo verdadeiro e assim justificou seu julgamento “pelo conhecimento do palestrante. Acho que ele se impõe muito bem. Pela confiança que ele fala”. Mas quando perguntado em que concordava e em que discordava do emissor respondeu: "Eu discordo totalmente é quando menciona a Amazônia. Para mim, ela tem importância não só para o Brasil, mas para todo o mundo”.
Outro participante expressa tensão similar: concordou pelos "cálculos" apresentados e pela "identificação como cientista", mas declarou: "Eu discordo que a Amazônia não interfira nas condições climáticas do mundo. Eu acho que ela tem interferência, sim”. A crença na floresta resiste, submersa sob deferência à autoridade.
Contradições
O processamento da forma e conteúdo foi detalhado. O processamento opera em duas camadas. Na primeira, superficial, respon

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