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O planeta quer que você coma mais miúdos – entenda o porquê e veja como aumentar o consumo 

05/11/2025 07:05 O Globo - Rio/Política RJ

Hoje em dia, quem consome carne em países ocidentais geralmente se concentra no tecido muscular dos animais e costuma evitar o consumo de miúdos (órgãos internos como coração, fígado e rins). Mas consumir mais miúdos poderia diminuir o número de animais abatidos para alimentação e, consequentemente, a emissão de gases de efeito estufa pela indústria da carne. 
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A carne também oferece potenciais benefícios para a saúde. São ricas em proteínas, vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais, e muitas vezes contêm mais nutrientes do que a carne que normalmente consumimos. Por exemplo, 100 gramas de fígado fornecem cerca de 36% da dose diária recomendada de ferro, enquanto a mesma quantidade de carne moída fornece cerca de 12%. 
Os miúdos já foram uma opção alimentar popular no Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial. No Japão, o consumo da carne é motivado por valores culturais como o "mottainai", que descreve um sentimento de remorso pelo desperdício. De forma semelhante, o aproveitamento integral do animal está se tornando mais popular no Reino Unido, também baseado em princípios de redução do desperdício de alimentos e respeito ao sacrifício do animal. 
Apesar dos possíveis benefícios para a saúde e o meio ambiente, convencer os consumidores a aceitarem os miúdos é mais difícil do que se imagina. Normalmente, quem nunca experimentou sente repulsa só de pensar em comê-las e as considera contaminadas. Outros evitam simplesmente por não saber como preparar uma refeição saborosa que também agrade às crianças. 
Uma maneira de superar essa resistência é incluir a carne em pratos familiares, misturada a outros ingredientes. Eu e outros pesquisadores exploramos essa ideia em um estudo recente com 390 consumidores de carne no Reino Unido. Analisamos as opiniões deles sobre os miúdos em sua forma natural e as comparamos com a aceitação de carne moída “enriquecida com miúdos” (fígado e rim). 
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Descobrimos que a carne moída enriquecida com miúdos foi considerada mais aceitável e vista como mais saborosa, satisfatória, curiosa e fácil de preparar do que fígados e rins isolados. Ainda assim, fígados e rins foram vistos como mais naturais, com menos gordura e melhores para o meio ambiente. 
Homens x mulheres 
Ao compararmos essas avaliações entre homens e mulheres, ficou claro que os homens se mostraram mais receptivos ao consumo de miúdos "puros" do que as mulheres. Já em relação ao consumo de miúdos misturados à carne moída, homens e mulheres expressaram opiniões semelhantes. 
Também comparamos opiniões sobre seis tipos diferentes de refeições enriquecidas com miúdos, incluindo hambúrguer, curry, espaguete à bolonhesa, almôndegas, torta de carneiro e um refogado. O espaguete à bolonhesa foi o favorito absoluto pelo seu sabor característico, mas as pessoas também demonstraram curiosidade em experimentar o refogado, que acreditavam ser mais saudável e natural do que as outras refeições. 
Os consumidores também responderam a perguntas sobre seu tipo de personalidade e motivações para escolher os alimentos, o que nos permitiu compreender melhor a psicologia por trás do fato de algumas pessoas serem mais receptivas a experimentar refeições com os miúdos do que outras. 
Por outro lado, verificamos que pessoas que priorizam a saúde ao escolher o que comer acham que esses pratos seriam mais saborosos e interessantes. Em contrapartida, aquelas com medo de experimentar novos alimentos pensam o oposto. Na psicologia, isso é conhecido como “neofobia alimentar” e já foi associado a dietas menos saudáveis em algumas populações. Em nossa amostra, as mulheres apresentaram maior neofobia alimentar que os homens. 
Combater o estigma 
Também pode haver um estigma social em torno do consumo de miúdos, já que pessoas mais preocupadas com a forma como são vistas pelos outros mostraram opiniões mais negativas sobre esses pratos. Esse tipo de comportamento é conhecido como “gestão de impressão” e influencia as escolhas alimentares. 
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Grande parte dos miúdos produzidos no Reino Unido é exportada, devido à baixa demanda interna. Isso faz com que sejam muito mais baratas que outros cortes, como bife ou perna de cordeiro, o que pode reforçar percepções equivocadas de que se trata de uma carne de qualidade inferior ou de que é consumida apenas por quem não pode pagar cortes mais caros. 
Na realidade, consumir mais da carne pode contribuir para uma dieta saudável e ser uma recomendação mais viável para uma alimentação sustentável, especialmente para os homens que apreciam carne. 
* Tennessee Randall é doutoranda em Psicologia Social n

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