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Premier francês anuncia suspensão da reforma da Previdência até 2027; Macron ameaça antecipar eleições legislativas

14/10/2025 15:08 O Globo - Rio/Política RJ

Menos de uma semana depois de ser reconduzido ao cargo, o premier da França, Sébastien Lecornu, anunciou a suspensão da reforma da Previdência até 2027, quando o país escolherá o novo presidente. A decisão ocorre em meio a uma tempestade política no governo do atual líder, Emmanuel Macron, que ameaçou convocar eleições legislativas se Lecornu for derrotado em moções de censura previstas para os próximos dias.
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A suspensão da reforma foi feita em um discurso diante da Assembleia Nacional, dedicado ao Orçamento do ano que vem, hoje o principal desafio do governo de Macron (além de conseguir manter um premier no cargo por mais de seis meses).
— Digo isso de forma muito direta: suspender por suspender não faz sentido. Suspender qualquer coisa como pré-requisito [para negociações] seria irresponsável. Essa suspensão deve gerar a confiança necessária para construir novas soluções — disse Lecornu. — Debater a questão das pensões não é apenas uma equação financeira. É uma parte essencial do nosso contrato social. E este contrato também precisa ser revisto.
A reforma da Previdência francesa foi um dos temas mais controversos dos dois mandatos de Emmanuel Macron, por mexer em modelos conhecidos há décadas e que ajudavam a compor a rede de proteção social francesa, e também por ter sido aprovada por decreto. O ponto central do plano é a elevação da idade mínima para a aposentadoria de 62 para 64 anos para a maior parte dos trabalhadores, com a obrigação de ao menos 43 anos de contribuição, e alterações em categorias específicas.
A principal justificativa da reforma era o enfrentamento do déficit orçamentário francês, mas o governo enfrentou uma violenta série de protestos, que derrubou sua popularidade e ajudou a abrir caminho para as duas principais forças de oposição: a França Insubmissa (LFI), de esquerda, e o Reagrupamento Nacional (RN), de extrema esquerda.
Logo após as eleições legislativas de 2024, quando Macron perdeu o controle da Assembleia Nacional, a LFI — que terminou na frente — propôs uma legislação com mudanças na reforma, e recebeu o apoio, ao menos nominal, do RN.
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Com o anúncio, Lecornu faz um gesto à oposição, tanto para avançar com o projeto de Orçamento — que deve conter impopulares medidas de corte de gastos, de forma a enfrentar o elevado endividamento público, hoje relativo a 115,8% do PIB — como para permanecer no cargo. Na semana passada, quatro dias após renunciar, ele foi reconduzido por Macron, e no domingo anunciou seu Gabinete, composto por 34 ministros.
— Não apresentei a vocês um programa de longo prazo. Este é um governo com uma missão — disse Lecornu. — A tarefa urgente é restaurar o sentido da política, restaurar a confiança na política e respeitar os compromissos de todos, inclusive os da oposição.
Pelas primeiras declarações, a estratégia passou longe de ser unanimidade. Manuel Bompard, coordenador do LFI, chamou a suspensão de “tática de adiamento”. Marine Tondelier, líder do Partido Verde, confirmou que votará contra Lecornu na quinta-feira, quando as moções de não confiança serão apresentadas, e disse que o atual premier é “pior do que François Bayrou”, seu antecessor. O RN também sinalizou que votará pela destituição, e seu líder, Jordan Bardella, “denunciou” uma estratégia entre o Partido Socialista e Os Republicanos, de direita, para salvar o premier.
"Na Assembleia Nacional, dos Republicanos ao Partido Socialista, são os salvadores de Emmanuel Macron que se revezam para falar no pódio", denunciou ele no X. "O único denominador comum dessa maioria absurda, pronta para qualquer tipo de barganha, é o medo das urnas e o medo do povo".
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Lecornu é o sétimo primeiro-ministro do governo de Emmanuel Macron, e sua destituição poderá agravar ainda mais a situação de um presidente sem o apoio do Legislativo, com índices de aprovação baixos e que não consegue sequer manter um Gabinete intacto por mais de um ano. Muitos na oposição e também alguns ex-aliados já falam abertamente em sua renúncia, cerca de dois anos antes do final do mandato, que termina em 2027.
Nesta terça-feira, Macron disse que, caso Lecornu seja derrubado, poderá convocar novas eleições legislativas, algo que as duas principais siglas da oposição veem como oportunidades para ampliarem seu poder e, eventualmente, pressionar pela escolha do novo premier.
Neste cenário, a suspensão da reforma da previdência, além da promessa de prolongar a contribuição excepcional sobre os lucros das grandes empresas e sobre as grandes fortunas, poderia ajudar as siglas de esquerda — citado pela AFP, o recém-anunciado Nobel de Economia Philippe Aghion sugeriu que a decisão evitaria o “perigo” da extr

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