
Pastor Henrique Vieira diz que criação de bancada cristã na Câmara é 'retrocesso civilizatório'
O deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirmou que a criação da bancada cristã na Câmara é um "retrocesso civilizatório" e um "desrespeito à democracia e ao Estado laico". A Casa aprovou, nesta quarta-feira, a tramitação em regime de urgência do projeto que cria o grupo por 398 votos favoráveis e 30 contrários. Segundo o parlamentar, a pretensão de "falar em nome do cristianismo", um bloco que não pensa da mesma maneira, soa "no mínimo estranho".
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— A criação de uma bancada cristã que pretende falar o nome de todos os cristãos é um desrespeito à democracia, ao Estado laico, à pluralidade religiosa, à não-crença religiosa e também aos próprios cristãos — criticou o deputado, em entrevista concedida ao Canal UOL. — Um retrocesso civilizatório e democrático que pode abrir precedentes gravíssimos.
Uma das justificativas apresentadas para o projeto é a de que 80% da população brasileira é cristã e precisa ser representada. Para Henrique Vieira, a argumentação não se sustenta, já que "o cristianismo é muito diverso" e "nenhuma pesquisa indica que se trata de um bloco uniforme que tem os mesmos pensamentos".
De acordo com o pastor, a formalização de uma bancada é a tentativa dos religiosos de conquistar um direito semelhante ao das bancadas feminina e negra, que já possuem assento no colégio de líderes. Apesar disso, esses grupos foram criados sob o pressuposto de que são sub-representados nos espaços de poder, o que não acontece com os cristãos:
— Eu sou cristão, mas não dá para dizer que na história do Brasil as liberdades cristãs foram interditadas, suprimidas ou proibidas. Até 1888, o Brasil era oficialmente católico. Mesmo depois da proclamação da República, sabemos que o cristianismo enquanto religião tem uma certa prevalência e privilégio nas estruturas de poder — explicou.
O parlamentar também comparou o atual cenário cristão com as religiões de matriz africana, que, segundo ele, "estão sendo hostilizadas". Ele também afirmou que se licenciou do cargo de pastor para se candidatar, pois não está no parlamento "para transformar a tribuna do plenário da Câmara em uma extensão do púlpito da igreja".
— Eu, andando com a minha Bíblia na rua, não sinto medo. Mas as pessoas com seus fios de conta e guias sofrem algum nível de hostilidade em tantos espaços — destacou. — Haverá bancada do islamismo, do judaísmo, do espiritismo, das religiões de matriz africana, ou vai ser uma bancada exclusivamente cristã?
A bancada
A proposta, apresentada por integrantes das frentes evangélica e católica, institui uma nova liderança com direito a voto no colégio de líderes — instância que define a pauta de votações e conduz as negociações políticas do plenário. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),comemorou o avanço do projeto.
A articulação é conduzida pelos deputados Gilberto Nascimento (PSD-SP), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, e Luiz Gastão (PSD-CE), que lidera o grupo católico. A ideia é unificar as duas frentes sob uma representação institucional, com direito a indicar um líder e participar das reuniões que definem o que vai ou não à pauta do plenário
O status de liderança garante uma série de prerrogativas políticas: o líder da bancada cristã poderá votar nas reuniões do colégio de líderes; negociar tempo de fala; participar de acordos de procedimento; e ter acesso direto à Mesa Diretora.
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