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Adaptação climática: demandas de mais vulneráveis e diferenças regionais devem ser enfrentadas por políticas

23/10/2025 16:37 O Globo - Rio/Política RJ

Eventos climáticos extremos não apenas provocam perdas financeiras ao país, como também impactam as populações mais vulneráveis. Para superar esse cenário e alcançar o que se chama de justiça ambiental, é necessário ouvir esses grupos e promover transformações. A avaliação é de especialistas que participaram do seminário “Resiliência Climática: o Desafio da Adaptação às Mudanças do Clima”, promovido pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico, em parceria com a rádio CBN, no âmbito do projeto “COP30 Amazônia”.
Maria João Rolim, sócia da área de Energia e Sustentabilidade do escritório Rolim Goulart Cardoso Advogados, explica que, ao se falar em ouvir pessoas para a construção de políticas públicas, trata-se, antes de tudo, do conceito de justiça climática. Nesse contexto, ela destaca que o processo exige uma governança de instituições compartilhadas.
— A justiça climática tem esse conceito distributivo, de distribuir os recursos. Mas também tem a justiça que a gente chama de procedimental, que é incorporar, no procedimento de fazer política e legislação, não apenas o ato de ouvir e entender, mas o reconhecimento de que as soluções, às vezes, estão muito mais próximas — afirma.
A fala ocorreu durante o segundo painel do evento, intitulado “Como aumentar a resiliência dos mais vulneráveis”. Além de Rolim, participaram do debate Helen Gurgel, coordenadora do Laboratório de Geografia, Ambiente e Saúde da Universidade de Brasília (UnB), e Paulo Tafner, diretor-presidente do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social e pesquisador associado da Fipe. A mediação foi feita pela repórter especial do GLOBO Ana Lúcia Azevedo.
Helen Gurgel destacou que a realidade do Brasil é diversa e que reconhecer essa diversidade é fundamental para definir diretrizes capazes de lidar com as diferenças regionais.
— Cada município precisa conhecer sua realidade. Fazer esse trabalho de entender o que está acontecendo, em que ponto é mais vulnerável. Esse é um trabalho que tem que ser feito em nível municipal. E, muitas das vezes, a população sabe. A gente tem que saber ouvir a população, estar à escuta dela. Mas é preciso ter alguém, um grupo, para ouvir e adaptar essas informações para ajudar na criação de políticas públicas — ressalta.
Na avaliação de Paulo Tafner, independentemente do tipo de evento climático, seus efeitos sempre recaem sobre as populações. Segundo ele, essa questão se traduz em um clássico problema econômico de oferta e demanda — com a oferta, nesse caso, ficando atrás da demanda.
— Nós vamos ter, por um certo tempo, o problema de que a oferta estará sempre atrás da demanda. Ocorre um evento, por exemplo, e não há leitos neonatais suficientes. Então, lentamente, vai sendo providenciada a oferta de bens e serviços para atender à nova demanda. É um problema clássico de economia. E como resolver isso? É dificílimo — explica.
Ao analisar a questão, Maria João Rolim concorda que o ideal seria atender aos picos de qualquer demanda, mas aponta como obstáculos a infraestrutura e os custos para o consumidor.
— Dessa forma, a gente também superestima toda a infraestrutura que vai precisar para isso. Se pensarmos que precisamos ter todo o sistema elétrico, por exemplo, pronto para um acidente isso vai custar muito caro para a população — afirma.
Outro desafio destacado no seminário foi o deslocamento da população diante de eventos climáticos extremos. Paulo Tafner citou um estudo feito com beneficiários do Bolsa Família que indicou maior resistência à migração entre essas famílias. O que mostra mostra uma associação entre políticas de transferência de renda e a capacidade de enfrentar eventos climáticos extremos.
— A gente chegou à conclusão de que as famílias que recebem Bolsa Família ou aposentadoria rural são mais resilientes à mudança do local. Quem tem esses benefícios acaba resistindo mais à migração — pontua.
O projeto “COP30 Amazônia” é uma realização dos jornais O GLOBO e Valor Econômico e da rádio CBN com o patrocínio master de Eletrobras, patrocínio de JBS, Vale e Phillip Morris Brasil, apoio do Governo do Acre, BNDES, Governo do Pará, Suzano e Vivo e parceria institucional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).

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