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Paquistão e talibãs do Afeganistão se enfrentam na fronteira com dezenas de mortos dos dois lados

12/10/2025 14:31 O Globo - Rio/Política RJ

O governo afegão, liderado pelos talibãs, informou neste domingo que dezenas de soldados paquistaneses e nove soldados afegãos morreram em intensos confrontos ao longo da fronteira entre os dois países na noite de sábado. As forças talibãs do Afeganistão afirmaram ter atacado soldados paquistaneses ao longo da fronteira no sábado, em resposta ao "bombardeio realizado pelo exército paquistanês em Cabul" na quinta-feira. Islamabad não assumiu diretamente a responsabilidade pelos ataques de quinta-feira, mas costuma insistir que tem o direito de se defender da ascensão de grupos armados que o atacam a partir do solo afegão.
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As relações entre os dois países vizinhos têm sido muito tensas desde que os talibãs retornaram ao poder no Afeganistão no verão de 2021. O Paquistão acusa Cabul continuamente de proteger os talibãs paquistaneses (TTP), o que o Afeganistão nega.
O grupo, formado em combate no Afeganistão e que alega compartilhar a mesma ideologia dos talibãs afegãos, é acusado por Islamabad de ter matado centenas de seus soldados desde 2021, quando o Talibã assumiu o controle do Afeganistão. Desde então, os dois lados têm se enfrentado repetidamente em regiões de fronteira, mas violações do espaço aéreo em território afegão marcariam uma escalada significativa.
O porta-voz do governo afegão, Zabihullah Mujahid, afirmou em uma coletiva de imprensa neste domingo que 58 soldados paquistaneses morreram durante esta operação [na fronteira] e cerca de 30 ficaram feridos nos confrontos, enquanto nove soldados Talibã também foram mortos".
Já o exército paquistanês afirmou que 23 de seus soldados e mais de 200 soldados do Talibã e afiliados foram mortos. A AFP não conseguiu verificar de forma independente o número de vítimas.
Mujahid também garantiu neste domingo que "o Paquistão atacou esta manhã e estamos prontos para responder com firmeza". Já o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, condenou veementemente as "provocações" do Afeganistão.
— Não haverá concessões na defesa do Paquistão, e toda provocação será respondida com firmeza e eficácia — disse Sharif em um comunicado, acusando as autoridades do Talibã no Afeganistão de permitirem que suas terras sejam usadas por "elementos terroristas".
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O Ministério da Defesa talibã no Afeganistão comemorou no sábado o "sucesso" de sua operação, lançada "em resposta às repetidas violações e ataques aéreos em território afegão pelo Exército paquistanês". No domingo, o Ministro das Relações Exteriores afegão, Amir Khan Muttaqi, afirmou que "a situação está sob controle".
— Nossa operação na noite passada atingiu seus objetivos. E então nossos amigos, como Catar e Arábia Saudita, apelaram para que a guerra pare agora, e que a guerra esteja encerrada imediatamente — disse ele durante uma visita à Índia.
Conflitos intensos
Os militares afegãos disseram na noite de sábado que as forças do Talibã estavam envolvidas em "pesados ​​confrontos contra as forças de segurança paquistanesas em várias áreas". Um jornalista da AFP presente na província de Khost, no Afeganistão, confirmou os intensos disparos vindos do Paquistão na fronteira.
Segundo relatos, as disputas teriam cessado no domingo. Várias autoridades de segurança da fronteira disseram à AFP que não houve novos confrontos nas principais travessias na manhã de domingo.
Tropas adicionais foram enviadas para a principal travessia de fronteira em Torkham, que fica na divisa entre Cabul e Islamabad. Autoridades paquistanesas em Torkham, que pediram anonimato, disseram à AFP que não houve vítimas do seu lado da travessia e que não houve novos confrontos na área na manhã de domingo.
A violência ocorreu enquanto a Índia recebia o ministro das Relações Exteriores do Afeganistão pela primeira vez desde que o Talibã retornou ao poder. Wahid Faqiri, especialista em relações internacionais afegãs, disse que o estreitamento das relações "irritou o Paquistão e empurrou Islamabad para a agressão".
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Ressurgimento da violência
A militância aumentou no noroeste de Khyber Pakhtunkhwa desde a retirada das tropas lideradas pelos EUA do vizinho Afeganistão em 2021 e o retorno do governo Talibã. A grande maioria dos ataques é reivindicada pelo Talibã Paquistanês (TTP), cuja campanha contra as forças de segurança paquistanesas se intensificou este ano — devendo ser a mais mortal em mais de uma década.
A violência na região da fronteira "deteriorou as relações entre os vizinhos a um nível histórico", disse Maleeha Lodhi, ex-diplomata paquistanesa.
— Mas será necessário um retorno à diplomacia para encontrar uma solução para o confronto — disse ela à AFP.

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