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Misofonia: nova pesquisa explica a irritação com sons como mastigação, fungada ou clique de caneta

12/10/2025 13:16 O Globo - Rio/Política RJ

Cientistas traçaram pela primeira vez as origens da misofonia, condição em que sons específicos — como o mastigar, fungada ou o clique de uma caneta — desencadeiam reações emocionais intensas, como raiva, nojo ou ansiedade. Segundo um novo estudo, a característica não pode ser resumida como uma mera irritação: reflete traços psicológicos e cognitivos mais amplos.
De acordo com a pesquisa, publicada recentemente no British Journal of Psychology, essas pessoas tendem a ter dificuldade em mudar o foco da atenção em situações emocionalmente carregadas, apresentam menor flexibilidade cognitiva e são mais propensas à ruminação.
Embora seja vista por alguns como uma excentricidade comportamental, a misofonia costuma causar grande sofrimento e impacto social. Estudos anteriores já haviam associado esse quadro com a dificuldades na regulação emocional e no controle da atenção.
Pessoas com essa condição frequentemente hiperfocam em determinados sons e têm dificuldade em desviar a atenção deles, mesmo quando tentam. Elas também relatam altos níveis de sofrimento em situações que envolvem esses gatilhos sonoros, o que às vezes resulta em comportamentos de evitação ou explosões emocionais.
O novo estudo investigou se esses desafios estão relacionados a dificuldades mais gerais em alternar a atenção — especialmente quando há carga emocional envolvida —, uma característica conhecida como flexibilidade afetiva. Os pesquisadores também examinaram a flexibilidade cognitiva de forma mais ampla e avaliaram se pessoas com misofonia tendem a ruminar, isto é, a pensar repetidamente em situações ou emoções desagradáveis.
“Há muito tempo acredito que a misofonia pode ser mais do que apenas uma condição de sensibilidade a sons. Em vez de a sensibilidade sonora ser a causa principal, ela pode ser apenas um dos sintomas de um transtorno mais amplo e complexo”, afirmou a autora do estudo, Mercede Erfanian, da ESSCA School of Management.
Pesquisas anteriores identificaram o córtex insular anterior (AIC) como uma região cerebral importante na misofonia. O AIC regula emoções, percepção corporal, entre outras funções. No novo trabalho, os pesquisadores queriam testar se essas outras atribuições, especificamente a flexibilidade mental, também poderiam estar prejudicadas na misofonia.
Para isso, eles recrutaram 140 adultos para realizar uma série de tarefas psicológicas e questionários de autoavaliação. Aproximadamente um quarto dos participantes atingiu o limiar de misofonia clinicamente significativa. Os voluntários também realizaram um teste computadorizado chamado Memory and Affective Flexibility Task (tarefa de memória e flexibilidade afetiva), que mede a capacidade de alternar entre diferentes tipos de tarefas mentais, especialmente em resposta a estímulos emocionais, como lembrar imagens e identificar se novas imagens eram emocionalmente positivas ou negativas.
O foco principal era observar com que precisão e rapidez os participantes conseguiam alternar as tarefas, especialmente durante as rodadas emocionalmente intensas. Eles também responderam a questionários que avaliaram flexibilidade cognitiva, tendência à ruminação e gravidade dos sintomas de misofonia.
Os pesquisadores descobriram que pessoas com misofonia mais grave tiveram pior desempenho na tarefa de flexibilidade afetiva, especialmente em termos de precisão. Elas cometeram mais erros ao alternar para tarefas relacionadas a emoções, embora o tempo de resposta não tenha sido significativamente diferente. Isso sugere que a dificuldade está mais em ajustar estratégias mentais do que na velocidade de processamento.
Os pesquisadores também observaram que a gravidade da misofonia estava associada a menor flexibilidade cognitiva autorrelatada. Pessoas que se consideravam mais rígidas em seu modo de pensar também tendiam a apresentar sintomas mais intensos de misofonia.
“Examinamos dois tipos de flexibilidade: a flexibilidade cognitiva (medida por questionários de autorrelato) e a flexibilidade afetiva (avaliada por meio de uma tarefa comportamental semelhante a um jogo)”, disse Erfanian ao PsyPost. “Ambas se associaram à gravidade da misofonia, mas, surpreendentemente, não se correlacionaram entre si. Isso, porém, é coerente com pesquisas anteriores mostrando que questionários e tarefas comportamentais podem medir a mesma capacidade mental em níveis diferentes — e nem sempre coincidem perfeitamente.”
Outro achado notável envolveu a ruminação. Participantes que relataram níveis mais altos de misofonia também tenderam a ruminar mais, especialmente sob a forma de pensamentos repetitivos de autocrítica e raiva.
“Nossos resultados sugerem que a misofonia não é simplesmente uma mania ou implicância — é um transtorno complexo”, explicou Erfanian. “A sensibilidade a sons pode ser apenas a ponta visível do iceberg. Pessoas com misofonia frequentemente apresentam outras diferenças psicológicas, mesmo na ausência de estímulos auditivos ou visuais. Reconhecer essa complexidade pode ajudar a a

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