Mais de 4 mil fãs: há 60 anos, a rainha Elizabeth condecorava os Beatles em um encontro histórico em Buckingham
Há seis décadas, em 26 de outubro de 1965, uma cena rara transformou o tradicional Palácio de Buckingham em ponto de encontro de jovens enlouquecidos: milhares de fãs dos Beatles ocuparam os arredores da residência real para ver os Beatles receber a Cruz de Membro da Ordem do Império Britânico (MBE). A Beatlemania, que já tomava o mundo, enfim atravessava os portões da monarquia britânica.
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A condecoração, entregue pela rainha Elizabeth II, não surgiu apenas de entusiasmo musical. Um ano antes, Harold Wilson, então primeiro-ministro, havia conquistado o governo britânico com apoio decisivo dos jovens — público que tinha na banda seu maior símbolo cultural. O MBE aos músicos ajudava a selar essa aproximação política.
Em outubro de 1965 os Beatles foram condecorados
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Uma cerimônia que fugiu ao protocolo
Cerca de 4 mil pessoas ignoraram barreiras de segurança para acompanhar a chegada dos ídolos. Dentro do palácio, Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr receberam as medalhas ao som da Guarda Coldstream. Havia tensão e surpresa: os próprios Beatles inicialmente não entenderam o teor da carta enviada pela realeza, segundo Lennon, que brincou ter pensado que fosse um chamado para o Exército.
Os portões do Palácio de Buckingham estavam cheios de fãs dos Beatles
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A relação entre o grupo e a monarquia vinha de antes. Em 1963, durante uma apresentação para a família real, Lennon provocou gargalhadas ao pedir que quem estivesse “nos assentos baratos batesse palmas”, e quem estivesse “nos lugares caros batesse suas joias”.
O reconhecimento aos Beatles, porém, dividiu o Reino Unido. Houve veteranos de guerra que devolveram suas próprias medalhas em protesto, indignados com a ideia de conceder honraria real a um grupo pop. A polêmica não impediu que a cerimônia reforçasse o carisma do quarteto e o aval institucional a um novo espírito cultural da juventude britânica.
Aquele 26 de outubro gerou histórias que atravessaram gerações. Lennon, mais tarde, relatou que eles fumaram maconha no banheiro do palácio para aliviar o nervosismo — fato negado por Harrison. Já Ringo, anos depois, só riu da dúvida: “O palácio é um lugar muito estranho”.
O destino das medalhas também contou histórias distintas. McCartney e Harrison posaram com elas na icônica capa do álbum Sgt. Pepper’s (1967). Lennon, por sua vez, devolveria seu MBE em 1969 em protesto contra ações militares britânicas e americanas, em um gesto que ampliou sua militância política.
Décadas depois, McCartney e Starr voltaram ao palácio para receber o título de cavaleiro, reconhecidos por suas contribuições à música e a causas humanitárias, reforçando uma relação que, apesar dos sobressaltos, nunca se rompeu.
O que é a honraria MBE?
A Ordem do Império Britânico foi criada em 1917 para reconhecer serviços relevantes à sociedade em áreas como artes, esportes, cultura e caridade. A categoria MBE, recebida pelos Beatles, distingue indivíduos que se destacam nacionalmente nessas contribuições. Embora não conceda título de “Sir”, é um dos reconhecimentos mais conhecidos da monarquia — e, desde 1965, também um símbolo de quando o rock entrou para a história oficial do Reino Unido.
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