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Lontras voltam a roubar pranchas na Califórnia e geram novo alerta entre surfistas e autoridades; vídeo

20/10/2025 11:04 O Globo - Rio/Política RJ

Na quarta-feira (15), Isabella Orduna surfava em Steamer Lane, um dos picos mais conhecidos de Santa Cruz, na Califórnia, quando sentiu uma leve dor no pé.
Assustada, a estudante universitária de 21 anos rolou para dentro d’água e, ao emergir, viu “uma lontra grande, peluda e robusta como um urso” sentada em sua prancha. “Pensei: ‘Uau, o que eu faço agora?’”, contou.
Veja vídeo: Lontra marinha rouba pranchas de surf para pegar onda em praias da Califórnia
O incidente foi o primeiro de dois casos semelhantes registrados na mesma semana no local. Na quinta-feira, outro surfista teve sua prancha tomada por uma lontra-marinha.
Reincidência ou novo comportamento?
Os episódios lembram os de 2023, quando uma lontra-marinha fêmea — conhecida como 841 — se tornou sensação ao “sequestrar” pranchas de surfe e escapar de tentativas de captura.
Relembre:
Autoridades tentam capturar lontra marinha que 'rouba' pranchas de surfe na Califórnia
Ainda não se sabe se é a mesma lontra envolvida nos casos recentes. Caso seja, especialistas consideram que ela pode estar repetindo o comportamento problemático. Porém, há a possibilidade de que outro animal tenha desenvolvido interesse semelhante pelo esporte.
Os biólogos apontam que a situação reflete um desafio crescente: o aumento de interações entre surfistas e mamíferos marinhos, em meio à recuperação populacional das lontras. Por segurança, autoridades e a comunidade local pedem que banhistas e surfistas mantenham distância desses animais.
A surfista e a “mordida exploratória”
Iniciante no surfe, Orduna estava prestes a encerrar o dia quando sentiu o toque no pé. “Eu chamaria de uma mordida exploratória. Não perfurou a pele nem nada”, disse. Ela tentou espantar a lontra virando a prancha e gritando, mas o animal não se moveu.
Curiosos em terra chamaram o serviço de emergência. Pouco depois, o oficial marítimo Ben Coffey, do Corpo de Bombeiros de Santa Cruz, ajudou a jovem a retornar à praia, sem ferimentos. Coffey voltou ao mar e conseguiu recuperar a prancha, intacta, após breve resistência do animal.
Apesar dos riscos, os moradores locais tratam os encontros com certo humor. Em 2023, a Lontra 841 virou símbolo da cidade: ganhou camisetas, um sabor de sorvete e até um outdoor de uma farmácia de maconha, que mostrava o animal mordendo uma prancha com a frase “aviso: os moradores estão com fome”.
Fama, filhote e alerta de especialistas
A popularidade de 841 cresceu ainda mais quando autoridades tentaram capturá-la. Enquanto equipes perseguiam o animal na água, moradores vaiavam da costa e usavam camisetas com o slogan “ser uma lontra não é crime”. A operação foi interrompida ao se descobrir que ela estava grávida. Após dar à luz, parou de roubar pranchas — o que levou muitos a crer que os ataques estavam ligados a hormônios da gestação.
Mas, segundo especialistas, o problema está longe de resolvido. O número de lontras e surfistas na região aumenta continuamente, o que eleva o risco de novos encontros.
“Essas lontras não têm para onde ir que não esteja lotado de humanos”, afirma Gena Bentall, diretora da organização Sea Otter Savvy, que pesquisa a convivência entre lontras e pessoas. Um estudo conduzido por ela mostra que lontras que vivem em áreas costeiras urbanizadas são perturbadas por humanos, em média, seis vezes por dia — o que as faz perder o medo das pessoas e aumenta o risco de interações perigosas.
Para Bentall, a solução não é capturar nem afastar as lontras, mas dar a elas mais espaço. “A surfista não fez nada de errado. Estava apenas no lugar errado, na hora errada”, diz.
Por conta da paralisação do governo federal americano, órgãos ambientais responsáveis pela conservação das lontras não responderam a pedidos de comentário.
Ainda não há confirmação se a lontra que roubou a prancha de Isabella é a 841. “Não é um grande salto suspeitar que um ex-criminoso esteja por trás”, brinca Bentall. “Mas as lontras aprendem umas com as outras. Uma pode iniciar o comportamento e outras observarem e imitarem.”
A Lontra 841 nasceu em cativeiro, filha de uma mãe selvagem que havia perdido o medo de humanos. Monitorada pelo Aquário da Baía de Monterey, ela não é detectada pelos sensores desde 2024. “É possível que a etiqueta tenha caído”, explica Jess Fujii, gerente do programa de lontras marinhas da instituição.
Desde sua “onda de crimes”, a 841 deu à luz um filhote saudável e foi vista viajando pela costa. Para os cientistas, mais importante do que identificar a “culpada” é garantir que as pessoas mantenham distância segura dos animais.
Após o susto, Isabella diz ter ganhado novo respeito pelas lontras. “Somos hóspedes no oceano”, afirma. E completa: “Quero surfar de novo — mas talvez não em Steamer Lane.”

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