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Hamas mobiliza 7 mil homens para reocupar áreas evacuadas por Israel, e ação pode dificultar plano de paz

11/10/2025 18:34 O Globo - Rio/Política RJ

Após firmar o acordo sobre a "primeira fase" do cessar-fogo com Israel, o Hamas convocou cerca de 7 mil membros de suas forças de segurança para reassumir o controle sobre áreas de Gaza recentemente desocupadas pelas tropas israelenses. Essa mobilização — que acontece no segundo dia do cessar-fogo na Faixa de Gaza — pode complicar ainda mais as negociações e a implementação das próximas etapas do plano de paz, que prevê, além da retirada de tropas israelenses, a desmilitarização do Hamas e sua não participação na administração futura do enclave.
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O grupo terrorista nomeou cinco novos governadores para as regiões, todos com experiência militar, alguns dos quais comandaram brigadas em seu braço armado para supervisionar as operações, segundo fontes da BBC.
A ordem de mobilização teria sido emitida por meio de ligações telefônicas e mensagens de texto que declaravam "uma mobilização geral em resposta ao chamado do dever nacional e religioso, para limpar Gaza de foras da lei e colaboradores de Israel". Os avisos informavam que membros deveriam se apresentar em até 24 horas nos locais designados "usando seus códigos oficiais".
Enquanto as negociações de paz entre Hamas e Israel — realizadas no Egito sob mediação de Catar, EUA, Egito e Turquia — caminham para as próximas fases, especialistas e autoridades palestinas e israelenses antecipam as resistências com relação aos próximos tópicos a serem discutidos.
Um alto funcionário do Hamas declarou que as conversas e acordos sobre a segunda fase do plano de paz proposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, não serão simples.
— A segunda fase do plano de Trump, como fica claro pelos próprios pontos, significa que será mais complexa e difícil — analisou Hosam Badran, membro do comitê político do movimento islamista, em entrevista à AFP.
De acordo com informações do New York Times divulgadas na quinta-feira, o grupo palestino poderia aceitar um desarmamento parcial de suas forças em Gaza — o plano de Trump, porém, prevê a total deposição das armas.
— O Hamas pode estar disposto a abrir mão de algumas armas, mas não ficará sem elas completamente — disse ao New York Times o oficial aposentado da Inteligência israelense Adi Rotem, que participou de negociações com o grupo palestino até 2024. — As armas são uma parte essencial do DNA do Hamas.
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Um outro funcionário do Hamas no exterior se recusou a comentar diretamente os relatos sobre a reocupação do território, mas defendeu a atuação do Hamas.
— Não podemos deixar Gaza à mercê de ladrões e milícias apoiadas pela ocupação israelense. Nossas armas são legítimas, existem para resistir à ocupação e permanecerão enquanto ela continuar — afirmou ele à BBC.
Um oficial de segurança palestino aposentado que serviu por anos na Autoridade Nacional Palestina em Gaza disse temer que o território estivesse caminhando para outra onda de derramamento de sangue interno.
— O Hamas não mudou. Ainda acredita que armas e violência são os únicos meios de manter seu movimento vivo — afirmou à BBC.
Desde o início das negociações em Sharm el-Sheikh, no Egito, o Hamas tem demonstrado resistência com relação aos tópicos do plano de paz apresentado pelo presidente americano que sugerem alternativas para a governança do enclave após o fim da guerra e insistem na desmilitarização do Hamas.
— Não seremos desarmados... (até) termos um Estado independente e autossoberano, capaz de se defender — disse Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas, à Sky News.
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Ameaças internas
Uma força de segurança afiliada ao Hamas, conhecida como Rad'a, foi fotografada nas ruas da Cidade de Gaza. Canais de mídia social afiliados ao Hamas relataram confrontos na área de Sabra, na Cidade de Gaza, entre uma família influente e as forças de segurança. Em imagens compartilhadas hoje pelo Ministério do Interior, comandado pelo Hamas, policiais com rifles e bonés com a inscrição "polícia" são vistos na cidade de Gaza interagindo com moradores em um mercado.
O controle do Hamas sobre Gaza tem sido desafiado por vários clãs nos últimos meses, especialmente no sul do enclave palestino e a reocupação rápida do território por parte do Hamas busca não dar espaço para os adversários controlarem a região. Saqueadores que pertencem a esses grupos rivais roubaram milhares de armas e munições dos depósitos do Hamas durante a guerra, e alguns grupos até receberam suprimentos de Israel.
Em um comunicado, a força afirmou: "De norte a sul, a mão de Rad'a está golpeando os antros da traição e da colaboração neste exato momento".

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