
Governo Lula tenta entender ações dos EUA na Venezuela e impacto sobre a região
O governo Luiz Inácio Lula da Silva ainda busca compreender o verdadeiro alcance do plano de Donald Trump para a Venezuela, que envolve operações secretas da CIA e uma mobilização militar crescente na região. Em Brasília, a percepção é de preocupação e incerteza: o Itamaraty tenta entender até onde o presidente americano pretende ir — e com que consequências para a estabilidade política da América do Sul.
O chanceler Mauro Vieira se reuniu nesta quinta-feira com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em Washington, para discutir temas bilaterais e preparar o futuro encontro entre Lula e Trump. Embora a questão venezuelana não constasse da pauta oficial, diplomatas acreditam que os dois devem ter abordado o tema, diante da escalada de declarações e movimentações militares de Washington.
De acordo com interlocutores ouvidos pelo GLOBO, o Brasil quer conhecer os reais objetivos dos EUA e até que ponto o discurso de combate ao narcotráfico serve de justificativa para uma intervenção disfarçada contra o regime de Nicolás Maduro.
Na véspera do encontro entre Vieira e Rubio, Trump afirmou ter autorizado operações secretas da Agência Central de Inteligência (CIA) na Venezuela. Sob o argumento de combater cartéis de drogas, o presidente americano admitiu avaliar até ações terrestres contra o país vizinho — uma declaração que acendeu o alerta em capitais da região.
No Itamaraty, a leitura é de que a ofensiva americana fere o direito internacional e ameaça desestabilizar uma região marcada por crises políticas e humanitárias. O governo brasileiro teme que uma ação militar provoque efeitos diretos sobre sua fronteira norte, de mais de dois mil quilômetros, incluindo uma nova onda migratória de venezuelanos.
O presidente Lula pretende tratar do tema diretamente com Trump quando os dois se encontrarem. A avaliação no Planalto é que o Brasil deve defender o respeito à soberania dos países e o diálogo político como caminho para a normalização institucional na Venezuela, rejeitando qualquer iniciativa unilateral de intervenção.
Nos bastidores, diplomatas observam com apreensão a movimentação de navios e tropas dos EUA nas águas do Caribe e a recente inclusão do cartel Tren de Aragua na lista de organizações terroristas. Para integrantes do governo brasileiro, os sinais indicam que Trump busca a remoção de Maduro do poder “vivo ou morto” — uma estratégia considerada temerária e potencialmente desestabilizadora.
Maduro foi declarado vencedor de uma eleição amplamente contestada por diversos países. Como não apresentou documentos que comprovassem a vitória sobre o opositor Edmundo González — exilado na Espanha —, o resultado não foi reconhecido pelo governo Lula.
Desde que retornou à Casa Branca, Trump tem endurecido o discurso contra o regime chavista. Em agosto, elevou para US$ 50 milhões a recompensa pela captura de Maduro, acusado de ligação com o tráfico de drogas. Em Brasília, o gesto é visto como parte de um projeto de pressão e desestabilização regional, cujo desfecho permanece incerto — e que, por enquanto, o governo Lula tenta decifrar com cautela e preocupação.
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