
Militar à frente do governo de Madagascar nega golpe: 'Transferiram poder, é diferente'
O coronel Michael Randrianirina insistiu nesta quinta-feira, na véspera de sua posse como novo dirigente de Madagascar, que a tomada de poder após a fuga do presidente Andry Rajoelina da ilha "não foi um golpe de Estado". O presidente deposto confirmou pela primeira vez que deixou o país após semanas de protestos que culminaram na tomada de poder por uma unidade militar.
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"Um golpe de Estado é quando os soldados entram no palácio presidencial com armas. Atiram. Há derramamento de sangue (...) Isso não é um golpe de Estado", declarou o coronel Randrianirina à imprensa nesta quinta-feira, acrescentando que deve tomar posse na sexta-feira.
Sua nomeação como presidente pelo mais alto órgão judicial do país demonstra, segundo ele, que não "tomou o poder". "Deram-me o poder, transferiram-me o poder, é diferente", insistiu o militar. A destituição de Rajoelina ocorreu após um movimento de protesto iniciado por jovens em 25 de setembro devido à falta de água e eletricidade.
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Luis Tato/AFP
O dirigente deixou a ilha entre os dias 11 e 12 de outubro depois que "foram feitas ameaças explícitas e extremamente sérias contra a vida do chefe de Estado", informou a presidência em comunicado na noite de quarta-feira. As ameaças ocorreram no momento em que Rajoelina deveria realizar uma viagem oficial internacional, segundo o comunicado.
Veículos de imprensa informaram que o líder de 51 anos foi evacuado no domingo em um avião militar francês. Na segunda-feira, ele afirmou ter se refugiado em um "lugar seguro", sem fornecer mais detalhes. Rajoelina, que chegou ao poder em 2009 após um golpe apoiado pelos militares, acusou a Assembleia Nacional de se aliar aos militares para removê-lo da presidência.
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AFP
A comunidade internacional expressou alarme com os acontecimentos, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou "a mudança inconstitucional de governo em Madagascar", em comunicado divulgado nesta quinta-feira por seu porta-voz.
A União Africana anunciou na quarta-feira a suspensão de Madagascar do bloco. Madagascar é a mais recente de várias ex-colônias francesas na África a cair sob controle militar desde 2020, após os golpes no Mali, Burkina Faso, Níger, Gabão e Guiné.
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