
Estado de emergência em Lima e Callao autoriza Forças Armadas do Peru a agir contra protestos em meio a onda de violência
O presidente interino do Peru, José Jerí, decretou na noite de terça-feira um estado de emergência de 30 dias em Lima e na província vizinha de Callao, permitindo que as Forças Armadas atuem nas ruas ao lado da Polícia Nacional — inclusive para conter manifestações. A medida, emitida sob a justificativa de conter o avanço da criminalidade, é o último desdobramento da profunda crise política e social do país andino, que viu oito presidentes em um espaço de dez anos.
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— Estamos passando da defesa para o ataque na luta contra a criminalidade — afirmou Jerí em pronunciamento no Palácio do Governo. — Esta é uma batalha pela paz, pela tranquilidade e pela confiança de milhões de peruanos.
O decreto presidencial afirma que “a Polícia Nacional mantém o controle da ordem interna, com o apoio das Forças Armadas, para enfrentar a criminalidade e outras situações de violência”. Na prática, o texto autoriza militares a patrulhar as ruas e agir em conjunto com a polícia na dispersão de manifestações.
— Guerras se vencem com ações, não com palavras — acrescentou o presidente.
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O governo, segundo o El País, também impôs restrições ao direito de circulação, incluindo a proibição de motocicletas com duas pessoas. O controle sobre o sistema prisional será intensificado, com limitação de visitas, cortes de energia em celas e destruição de antenas ilegais de telecomunicação usadas por grupos criminosos.
Em uma análise para o World Crunch, o jornalista francês Pierre Haski explicou que movimentos vistos do Peru ao Paquistão compartilham demandas comuns, como o fim da corrupção e a pressão por justiça social, apesar da diversidade de culturas e sistemas políticos. Outros padrões que se repetem são a ausência de líderes reconhecidos, o que o analista aponta como reflexo de uma profunda desconfiança aos partidos políticos e sindicatos, e a organização por meio de plataformas virtuais — algo esperado, uma vez que se trata da primeira "geração verdadeiramente digital", argumenta.
Onda de protestos
Desde que assumiu o poder no último dia 10, após a destituição da ex-presidente Dina Boluarte pelo Congresso, Jerí tenta consolidar sua autoridade em meio a uma crescente onda de protestos e à desconfiança pública. As manifestações começaram há um mês, lideradas por jovens da chamada Geração Z e por sindicatos do setor de transportes, e ganharam força com denúncias de corrupção e aumento da violência urbana.
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Desde o início dos protestos, centenas de pessoas ficaram feridas em confrontos com a polícia, mas a pressão pública resultou na queda da presidente Dina Boluarte, destituída pelo Congresso em votação relâmpago na semana passada.
Onda de protestos toma a região de Lima desde setembro
Connie France/AFP
As manifestações da Geração Z foram crescendo e ganhando apoio ao longo das semanas. A pressão popular aumentou no começo de outubro, quando motoristas profissionais bloquearam ruas de Lima, em uma paralisação de 24 horas contra o aumento da criminalidade que afeta diretamente o setor e seus trabalhadores. Dirigentes sindicais afirmam que gangues criminosas cobram 50 mil soles (R$ 80,4 mil) mensais a empresas do ramo de transportes e que 47 motoristas foram assassinados entre janeiro e outubro deste ano.
Violência crescente
Durante a gestão de Boluarte, estados de emergência semelhantes foram decretados em várias regiões, mas se mostraram ineficazes. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI), 59% dos peruanos consideram a insegurança e a criminalidade os principais problemas do país. Só neste ano, 18.385 casos de extorsão foram denunciados à polícia — muitos deles envolvendo motoristas e cobradores de ônibus ameaçados por máfias locais.
O Peru enfrenta um aumento acentuado na criminalidade, impulsionado pela presença de organizações criminosas internacionais, como Los Pulpos, que também atua no Chile, e o Tren de Aragua, grupo originário da Venezuela e recentemente classificado pelos Estados Unidos como organização terrorista internacional.
De janeiro a setembro, por exemplo, a polícia registrou 1.690 homicídios no Peru, contra 1.502 no mesmo período de 2024.
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