
Sob pressão de republicanos, indicado de Trump para agência anticorrupção desiste do cargo após revelação de mensagens racistas
A indicação de Paul Ingrassia, advogado de extrema direita e apresentador de podcast polêmico, para comandar o Office of Special Counsel (OSC), uma agência federal independente de combate à corrupção — cargo para o qual havia sido escolhido pelo presidente americano, Donald Trump — fracassou na terça-feira. O recuo veio após senadores republicanos retirarem o apoio à sua nomeação, um dia depois de o site Politico revelar que ele havia enviado mensagens de texto com conteúdo racista.
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Nas redes sociais, Ingrassia afirmou que não compareceria à audiência de confirmação da sua nomeação, marcada para o próximo final da semana. Ele atribuiu a decisão à resistência de senadores que recuaram em apoiá-lo após a divulgação de uma série de mensagens de texto nas quais ele usava termos racistas para se referir a feriados em homenagem a afro-americanos e alegava que pessoas de origem chinesa e indiana “não são confiáveis”.
“Infelizmente, não tenho votos republicanos suficientes neste momento”, escreveu Ingrassia na publicação. "Continuarei a servir o presidente Trump e esta administração para tornar a América grande novamente”, acrescentou.
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A divulgação das mensagens agravou a polêmica em torno tanto de Ingrassia, um autoproclamado especialista em "direito constitucional", quanto do papel de Trump na tentativa de subordinar o OSC aos seus interesses. A revelação ocorreu poucos dias depois de uma outra reportagem do Politico mostrar que jovens políticos e ativistas republicanos usavam rotineiramente linguagem racista e homofóbica e fizeram referências a Hitler e ao Holocausto em um grupo no Telegram.
Ao menos quatro senadores republicanos, incluindo o líder da maioria no Senado, John Thune, sinalizaram publicamente que se oporiam à nomeação do advogado para o cargo. O senador republicano Rick Scott disse a repórteres que havia conversado com o governo sobre Ingrassia, não compartilhou detalhes, mas deu sua opinião sobre o caso.
— Eu não o apoio — afirmou Scott.
Segundo o Politico, as mensagens de texto enviadas por Ingrassia diziam a um grupo de colegas republicanos que ele tinha “um lado nazista” e que o feriado nacional em homenagem ao reverendo Martin Luther King Jr. deveria ser “lançado no sétimo círculo do inferno”. Um dos advogados de Ingrassia, ainda de acordo com o Politico, afirmou que os textos podem ter sido manipulados ou estarem sem contexto.
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Ingrassia, de 30 anos, deveria depor sua nomeação na próxima quinta-feira perante o Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado. O senador republicano Rand Paul, presidente do comitê, havia indicado que trataria das controvérsias envolvendo Ingrassia antes da audiência, mas o colegiado sequer conseguiu fazer qualquer anúncio.
Ingrassia e Trump
Durante as primárias republicanas do ano passado, Ingrassia divulgou uma teoria falsa de que Nikki Haley era inelegível para concorrer à presidência, teoria que Trump promoveu nas redes sociais. Em dezembro de 2020, enquanto o magnata contestava sua derrota eleitoral para Joe Biden, o podcast de Ingrassia postou no antigo Twitter : "Hora de @realDonaldTrump declarar lei marcial e garantir sua reeleição".
Ingrassia, que se formou na Cornell Law School em 2022, de acordo com seu perfil no LinkedIn, também representou o influenciador da “manosfera” Andrew Tate, que se declara misógino que enfrenta acusações de estupro e tráfico de pessoas no exterior.
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Trump iniciou uma batalha jurídica no início deste ano, quando demitiu o chefe anterior do OSC, Hampton Dellinger, desafiando o Congresso, que pode limitar o poder do presidente de demitir líderes de agências independentes. Um e-mail de apenas uma frase, enviado a Dellinger em 7 de fevereiro, não apresentou justificativas para sua demissão — apesar de a lei prever que o procurador especial “só pode ser destituído pelo presidente por ineficiência, negligência no dever ou má conduta no cargo”. Dellinger abandonou a disputa judicial em março, após um tribunal de apelações decidir contra ele.
A rotatividade no comando do OSC — responsável por investigar recursos de servidores federais que acreditam ter sido demitidos injustamente — começou a ocorrer enquanto o órgão analisava as demissões em massa, promovidas pelo governo Trump. Desde então, Trump nomeou aliados de confiança para chefiar o escritório interinamente.
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