Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Sob pressão de republicanos, indicado de Trump para agência anticorrupção desiste do cargo após revelação de mensagens racistas

22/10/2025 15:09 O Globo - Rio/Política RJ

A indicação de Paul Ingrassia, advogado de extrema direita e apresentador de podcast polêmico, para comandar o Office of Special Counsel (OSC), uma agência federal independente de combate à corrupção — cargo para o qual havia sido escolhido pelo presidente americano, Donald Trump — fracassou na terça-feira. O recuo veio após senadores republicanos retirarem o apoio à sua nomeação, um dia depois de o site Politico revelar que ele havia enviado mensagens de texto com conteúdo racista.
Veja: Trump descarta reunião com Putin no 'futuro imediato'
Segurança Nacional? Envio de supostos narcotraficantes a Colômbia e Equador enfraquece narrativa dos EUA sobre ações militares no Caribe
Nas redes sociais, Ingrassia afirmou que não compareceria à audiência de confirmação da sua nomeação, marcada para o próximo final da semana. Ele atribuiu a decisão à resistência de senadores que recuaram em apoiá-lo após a divulgação de uma série de mensagens de texto nas quais ele usava termos racistas para se referir a feriados em homenagem a afro-americanos e alegava que pessoas de origem chinesa e indiana “não são confiáveis”.
“Infelizmente, não tenho votos republicanos suficientes neste momento”, escreveu Ingrassia na publicação. "Continuarei a servir o presidente Trump e esta administração para tornar a América grande novamente”, acrescentou.
Initial plugin text
A divulgação das mensagens agravou a polêmica em torno tanto de Ingrassia, um autoproclamado especialista em "direito constitucional", quanto do papel de Trump na tentativa de subordinar o OSC aos seus interesses. A revelação ocorreu poucos dias depois de uma outra reportagem do Politico mostrar que jovens políticos e ativistas republicanos usavam rotineiramente linguagem racista e homofóbica e fizeram referências a Hitler e ao Holocausto em um grupo no Telegram.
Ao menos quatro senadores republicanos, incluindo o líder da maioria no Senado, John Thune, sinalizaram publicamente que se oporiam à nomeação do advogado para o cargo. O senador republicano Rick Scott disse a repórteres que havia conversado com o governo sobre Ingrassia, não compartilhou detalhes, mas deu sua opinião sobre o caso.
— Eu não o apoio — afirmou Scott.
Segundo o Politico, as mensagens de texto enviadas por Ingrassia diziam a um grupo de colegas republicanos que ele tinha “um lado nazista” e que o feriado nacional em homenagem ao reverendo Martin Luther King Jr. deveria ser “lançado no sétimo círculo do inferno”. Um dos advogados de Ingrassia, ainda de acordo com o Politico, afirmou que os textos podem ter sido manipulados ou estarem sem contexto.
'Doutrina Monroe 2.0': Após Venezuela, EUA ameaçam Colômbia e aprofundam tensão com a América Latina
Ingrassia, de 30 anos, deveria depor sua nomeação na próxima quinta-feira perante o Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado. O senador republicano Rand Paul, presidente do comitê, havia indicado que trataria das controvérsias envolvendo Ingrassia antes da audiência, mas o colegiado sequer conseguiu fazer qualquer anúncio.
Ingrassia e Trump
Durante as primárias republicanas do ano passado, Ingrassia divulgou uma teoria falsa de que Nikki Haley era inelegível para concorrer à presidência, teoria que Trump promoveu nas redes sociais. Em dezembro de 2020, enquanto o magnata contestava sua derrota eleitoral para Joe Biden, o podcast de Ingrassia postou no antigo Twitter : "Hora de @realDonaldTrump declarar lei marcial e garantir sua reeleição".
Ingrassia, que se formou na Cornell Law School em 2022, de acordo com seu perfil no LinkedIn, também representou o influenciador da “manosfera” Andrew Tate, que se declara misógino que enfrenta acusações de estupro e tráfico de pessoas no exterior.
'Acompanhamos a conjuntura': Forças Armadas monitoram movimentações dos EUA na Venezuela, diz comandante da Marinha
Trump iniciou uma batalha jurídica no início deste ano, quando demitiu o chefe anterior do OSC, Hampton Dellinger, desafiando o Congresso, que pode limitar o poder do presidente de demitir líderes de agências independentes. Um e-mail de apenas uma frase, enviado a Dellinger em 7 de fevereiro, não apresentou justificativas para sua demissão — apesar de a lei prever que o procurador especial “só pode ser destituído pelo presidente por ineficiência, negligência no dever ou má conduta no cargo”. Dellinger abandonou a disputa judicial em março, após um tribunal de apelações decidir contra ele.
A rotatividade no comando do OSC — responsável por investigar recursos de servidores federais que acreditam ter sido demitidos injustamente — começou a ocorrer enquanto o órgão analisava as demissões em massa, promovidas pelo governo Trump. Desde então, Trump nomeou aliados de confiança para chefiar o escritório interinamente.

Fonte original: abrir