
Após 'fico' de Guajajara no ministério, Galvão confirma que vai assumir cadeira de Boulos na Câmara
O cientista Ricardo Galvão (Rede), atual presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), será o sucessor de Guilherme Boulos (PSOL) na Câmara dos Deputados, depois de o ex-líder sem teto ser nomeado para a Secretaria-Geral da Presidência. Ele espera uma comunicação formal da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara (PSOL), de que ela ficará no governo pelo menos até março, mas o GLOBO apurou com ela que isso já está acertado.
A garantia era necessária para que Galvão tenha cerca de seis meses de mandato, sem correr o risco de perder o gabinete em meio a rumores de que ela poderia antecipar a saída para depois da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-30, em novembro. Guajajara afirma que ficará na Esplanada até próximo do prazo limite para desimcompatibilização exigido pela Justiça Eleitoral a quem ocupa cargos na administração pública e deseja concorrer a um novo mandato em outubro.
Isso porque Galvão é apenas o terceiro suplente da federação do PSOL com a Rede em São Paulo. Foram abertas duas vagas antes, com Sônia Guajajara e Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente. A posse de Boulos no cargo responsável pela articulação com a sociedade civil, notadamente os movimentos sociais, disponibiliza a terceira cadeira. Com o retorno de qualquer desses ministros para a Câmara, os deputados federais Luciene Cavalcante e Ivan Valente, ambos eleitos pelo PSOL em São Paulo, detêm a preferência antes do presidente do CNPq.
— Estamos com a incerteza de que a ministra irá sair do ministério ou não, algo que até agora não nos foi informado. Se houver a vaga, eu assumirei. Conversei hoje com a ministra Marina Silva e assumirei o mandato até o final de março. Mas a bola está com ela (Guajajara) — afirma Ricardo Galvão.
Em nota, a assessoria da ministra dos Povos Indígenas afirma que a decisão está tomada, independentemente dos rumores, alardeados pelo próprio suplente. "A informação não procede (de que ela iria para a Câmara em novembro). A ministra Sonia Guajajara será candidata à reeleição e sairá no prazo que a legislação eleitoral exige para descompatibilização", diz a nota. A data limite é de seis meses antes do pleito, ou seja, 4 de abril.
Fontes do PSOL também apontam que a ministra vai permanecer no posto até essa época.
Galvão, desse modo, estaria disposto a exercer o mandato com prazo de validade de seis meses, deixar a Câmara e concorrer novamente em 2026. Já o comando do CNPq seria definido em conjunto com a ministra Luciana Santos (PCdoB), engenheira elétrica que já foi vice-governadora de Pernambuco, em uma aliança com Paulo Câmara (PSB), e prefeita de Olinda.
Quem é Ricardo Galvão
Natural de Itajubá (MG), Galvão formou-se engenheiro de telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense (UFF), fez mestrado na Unicamp e doutorado em Física de Plasmas pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Construiu carreira no Instituto de Física da USP, onde se tornou professor titular e coordenou projetos de pesquisa em fusão nuclear.
Também dirigiu o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, presidiu a Sociedade Brasileira de Física e integra a Academia Brasileira de Ciências.
Ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Galvão ganhou projeção nacional em 2019, quando rebateu críticas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aos dados do órgão federal sobre o avanço do desmatamento na Amazônia. Ele reagiu em público, afirmando que o trabalho era técnico, auditável e produzido por servidores de carreira, episódio que levou à sua saída do cargo.
Ele obteve 12.845 votos nas eleições para deputado federal, em 2022, ficando na 86º posição na lista de mais votados e como terceiro suplente da Federação PSOL-Rede para o cargo no estado. Ele assume, aos 77 anos, pela primeira vez, um cargo eletivo, depois de ser nomeado por Lula para presidir o CNPq, logo no início do mandato do petista.
Grupo de Marina avalia deixar a Rede
Galvão é próximo de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente que já teria sinalizado a intenção de mudar de partido antes das próximas eleições, segundo fontes próximas à direção do PSB, o que levaria a uma migração também do seu grupo de aliados. Ao assumir o mandato de deputado, contudo, Ricardo Galvão precisaria aguardar até a janela de março a abril para concluir esse movimento sem correr o risco de ser destituído do cargo por infidelidade partidária.
— Olha, o que acontece, todo mundo sabe, são algumas alas divergentes dentro da Rede Sustentabilidade. Agora, as tratativas, se vamos sair ou não, estão sendo conduzidas pela ministra Marina Silva, e eu faço parte do grupo dela. Se ela, que está conduzindo as tratativas, mudar para outro partido, nós seguiremos ou deixaremos a política. Isso será discutido mais tarde — diz Galvão.
A negociação da ministra com o PSB tem ocorrido por meio do prefeito do Recife, João Campos, que está à frente do partido desde junho. Além da estrutura part
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