
E se Lampião enfrentasse robôs? Esse filme baiano reinventou o sertão
Lá no início dos anos 2000, quando o cineasta baiano José Umberto Dias estava iniciando a preparação para o que viria a ser o seu longa de ficção Revoada (que só foi finalizado e lançado em 2015), o então produtor de objetos do longa – profissional ligado ao setor de direção de arte de um filme –, Ducca Rios, anteviu a possibilidade daquela trama ser uma história em quadrinhos.Agora, muitos anos depois e já colecionando experiência como diretor de animações, Ducca lança na Mostra Internacional de Cinema São Paulo o longa Revoada – Versão Steampunk. É, de fato, uma releitura do filme de Dias em formato de animação, mas com um diferencial: o cangaço do filme ganha uma roupagem distópica, embebida em ficção científica, em que passado e futuro se misturam para revigorar os debates sobre violência, controle do Estado e opressão.“Depois que eu fiz meu primeiro longa-metragem de animação, Meu Tio José [lançado em 2021], o primeiro longa brasileiro animado sobre a Ditadura Militar, eu pedi a José Umberto autorização para utilizar o roteiro de Revoada para eu fazer a minha visão do que era aquela história”, revelou Ducca em entrevista para A TARDE.
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Revoada – ambos os filmes – conta a história de alguns remanescentes do bando de Lampião e Maria Bonita depois que eles são mortos, dando início ao declínio do que se conhecia como banditismo sertanejo. Os que sobreviveram buscam vingança na medida em que são também caçados pela Volante, tropas especiais criada pelo governo brasileiro para combater o cangaço.No filme de Ducca, entretanto, os cangaceiros são figuras metade humana e metade máquina, com braços ou pernas mecânicas, visores especiais e armamentos pesados como artefatos dignos de espiões high tech. Enfrentam um exército de robôs bem equipados e altamente letais, chefiados por um comandante que mais parece um líder fascista militarizado.O filme fez sua estreia mundial na Mostra SP, na última quinta-feira, 16. Mas o longa contará com outra sessão dentro da programação do evento no dia 27 de outubro – desta vez, contando com a presença do diretor na sessão.Sertão popO filme mescla muitos elementos de cultura pop com a identidade regional, nordestina e brasileira. Mas permanece a ideia central de pensar o cangaço como símbolo de resistência em meio à opressão social e mesmo geográfica. O cineasta disse também que nunca quis retratar a figura do cangaceiro como um herói.“Ele é um bandido. Só que é também fruto do autoritarismo daquela época, de uma seca que foi projetada pelas castas dominantes e do abuso de poder dos coronéis contra o povo nordestino mais pobre, numa época em que o Nordeste era como uma terra sem lei. O cangaço é uma resposta a isso”, explicou o animador.A partir desse viés, o diretor faz dessa sua versão um filme cheio de ação e adrenalina, incluindo aí a escolha em retratar a violência de forma muito gráfica e sem rodeios. O diretor cita, por exemplo, a influência de Quentin Tarantino, já que o cineasta norte-americano também gosta de usar
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