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Dor de crescimento: o que é e como aliviar um problema que afeta até 37% das crianças?

21/10/2025 07:01 O Globo - Rio/Política RJ

Diz o ditado que crescer dói. Embora não haja confirmação científica de que o corpo se desenvolvendo acarrete mesmo em algum mal-estar físico, muitas famílias conhecem a tal ‘dor de crescimento’ que afeta suas crianças.
A dor recorrente em membros, o nome oficial do problema, afeta quase sempre as pernas de crianças e adolescentes entre os 3 e os 12 anos, geralmente em episódios recorrentes, no final do dia ou à noite, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Pode atingir de 3% a 37% dos pequenos, dependendo do país, mas é uma das causas mais comuns de dor musculoesquelética.
O termo dor de crescimento não é preciso. Primeiro porque não ocorre nos picos de crescimento, segundo porque, diferentemente do ditado, pelo menos na parte física, crescer não dói, ou seja, o aumento do esqueleto, dos ossos, não é sentido. No entanto, na falta de uma explicação mais específica, o problema mencionado pela primeira vez num livro em 1823 como “maladies de la croissance” (doenças do crescimento) pegou.
— É um termo inadequado, mas já consagrado, que eu até nem acho ruim, porque facilita sabermos a realidade da condição, que é super frequente — explica a pediatra Adriana Fonseca, do Departamento Científico de Reumatologia da SBP. — É bom porque é um termo também que tranquiliza os pais e as crianças de que de vai se resolver com o tempo.
Esse é o aspecto mais importante desse problema: ele é benigno, ou seja, não representa uma doença. É uma dor idiopática, o que quer dizer que nem médicos nem cientistas conseguiram descobrir a real causa.
“Várias causas têm sido propostas, incluindo fatores anatômicos, psicológicos, vasculares e metabólicos, mas provavelmente representa uma síndrome de amplificação da dor ou síndrome de sensibilização central”, diz documento sobre o assunto da SBP.
— Habitualmente, é nas pernas, mas fora das articulações. Então, dói a coxa, a canela, a panturrilha. Não é óssea, mas também não é muscular, é difusa, acometendo todas as estruturas daquela localização — diz Fonseca.
É uma dor aleatória. Não segue padrão de frequência, área do corpo, nem intensidade. Elas vão e voltam, costumam ser breves, durando poucos minutos, mas podem acordar a criança no meio da noite. No geral, surgem mais no fim da tarde e à noite, especialmente naquele dia que a criança brincou muito.
Embora cercada de perguntas sem resposta e sem grande preocupação envolvida, há algo de muito relevante na dor de crescimento: ela, de fato, dói. Não é frescura, invenção, nem manha.
— Não devemos minimizar, porque mesmo que não haja uma doença, é uma coisa que dói mesmo. Na maioria das vezes, só uma massagenzinha, só de você tranquilizar a criança, acolher, já melhora — afirma Adriana Fonseca.
A SBP recomenda que os pais tentem métodos não farmacológicos, como massagem e aplicação de calor local, como uma bolsa de água quente (cuidado para não entrar em contato direto com a pele e queimar). Caso ela persista, há, sim, a possibilidade de usar medicamentos analgésicos como paracetamol, dipirona, ibuprofeno ou naproxeno.
— Pode ser muito intensa, pode fazer a criança chorar, mas melhora rapidamente com massagem, com analgésico, às vezes um placebo, uma água com alguma gotinha de alguma coisa que dê um gostinho, um chazinho — reforça o pediatra e colunista do GLOBO Daniel Becker.
Quando se preocupar
Geralmente, quando os pais apresentam essa queixa ao pediatra, ele faz uma avaliação por anamnese.
“Não existe um critério de diagnóstico definido. O diagnóstico é feito por exclusão e não há alterações específicas em exames laboratoriais e de imagem, sendo necessário descartar outras causas como trauma e artrite. Entretanto, as características clínicas, anteriormente citadas, são bastante consistentes na maioria dos pacientes”, orienta a SBP.
Assim, não são pedidos exames especiais a não ser que haja algum sinal de alerta, que pode ser:
inchaço nas articulações
febre,
íngua (gânglio linfático inchado,)
vômito ou diarreia,
dor sempre no mesmo local,
dor persistente
manchas na pele
articulação quente ou vermelha
mudança no quadro geral da criança (não come, não brinca, não dorme)
— Se a criança não tem nada disso, vai à escola, brinca, está normal, então, nesse contexto, a grande suspeita é dor de crescimento — diz a pediatra.
Um alerta importante que Fonseca faz éVárias causas têm sido propostas, incluindo fatores anatômicos, psicológicos, vasculares e metabólicos, mas provavelmente representa uma síndrome de amplificação da dor ou síndrome de sensibilização central”, diz documento sobre o assunto da SBP.
— A maior parte das dores do crescimento é passageira, leve e melhora com um tratamento simples e você não precisa se preocupar. Agora, com esses sinais de alerta, é sempre importante levar ao médico para ser examinada e possivelmente fazer exames. Na dúvida, não custa nada procurar o seu pediatra — conclui Becker.

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