
Estudo revela que o crescimento da cabeça do bebê pode influenciar seu QI no futuro
Um maior crescimento do perímetro cefálico do bebê ao longo de seu primeiro ano de vida está associado a um maior quociente de inteligência (QI) na idade adulta, mostra um novo estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a Universidade de Oxford, no Reino Unido, e apoio da organização de saúde pública Umane.
O perímetro cefálico é uma medida da circunferência da cabeça do bebê feita com uma fita métrica e já foi relacionada a um maior volume do cérebro e a maiores pontuações em indicadores de inteligência. Esse crescimento é expressivo no início da vida, alcançando cerca de 55% do volume de um cérebro adulto aos dois anos, e 90% aos seis.
Nascer com uma circunferência maior já foi ligado a níveis maiores de QI mais tarde na vida. Mas, agora, os pesquisadores decidiram analisar se os bebês que nascem com o perímetro menor, porém conseguem “recuperar” essa diferença ao longo do primeiro ano com um crescimento acentuado, também apresentam resultados melhores na idade adulta.
O estudo foi conduzido pela doutora em Epidemiologia pela UFPel Marina de Borba Oliveira Freire, que trabalhou o tema durante sua tese no programa de pós-graduação da universidade. Foram coletados dados de 5.249 nascidos em 1993 que fizeram parte da Coorte de Nascimento de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Em seguida, foram selecionados 1.096 indivíduos avaliados aos 6 meses, aos 12 anos e que tiveram também informações sobre o QI coletadas quando completaram 18 anos de idade. O trabalho analisou as diferentes variáveis, ajustando os resultados para possíveis fatores que poderiam influenciá-los, como tabagismo materno, escolaridade dos pais, entre outros.
A mediana da circunferência cefálica ao nascimento foi 35 cm. Aos 18 anos, os participantes tiveram um QI médio de 96,6. Os números mostraram que, ao longo do primeiro ano de vida, a cada crescimento de 1 desvio-padrão na circunferência, houve um aumento associado de 1,3 ponto no QI. O desvio-padrão é uma medida estatística que indica o quanto a variável cresceu acima da média.
Essa melhora no indicador de inteligência foi impulsionada especialmente pelas mudanças nos primeiros 6 meses de vida e foi observada independentemente da circunferência da cabeça ao nascer. Quase 40% dos bebês que nasceram com um perímetro cefálico abaixo do esperado tiveram aumentos de pelo menos 1 desvio-padrão ao longo dos 12 meses, alguns chegando a 4 desvios-padrão.
O artigo menciona como exemplo que, se um menino que nasceu com um perímetro cefálico de 31,9 cm, abaixo da média, conseguir recuperar essa diferença e alcançar a média de 46,1 cm aos 12 meses, ele deverá ter 3 pontos de QI acima do que teria se continuasse abaixo do esperado, com 43,5 cm.
Os autores destacam que esse impacto é significativo. O aumento de 3 pontos no QI, por exemplo, é ligado a um crescimento de 5,4% a 7,2% na renda ao longo da vida por relatórios econômicos de pesquisadores americanos.
“Mais do que uma diferença estatística, nossos resultados representam um impacto real na vida dessas crianças. Além disso, é importante destacar que observamos grandes saltos de crescimento em nosso estudo, ainda maiores do que no exemplo proposto. E se isso foi possível no início dos anos 1990, poucos anos após o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS), são ainda mais prováveis que aconteçam após importantes melhorias na saúde e nutrição infantil”, afirma a autora do trabalho em nota.
Ainda assim, ela destaca que o perímetro cefálico "é apenas um dos muitos indicadores de desenvolvimento infantil" e, por isso, não deve ser usado isoladamente ou de forma estigmatizante. "O que nossa pesquisa aponta é o potencial da medida para ajudar profissionais de saúde a identificar precocemente crianças que possam se beneficiar de maior atenção e cuidado", diz.
Para a pesquisadora, o próximo passo é investigar fatores possivelmente relacionados ao crescimento do perímetro cefálico nos primeiros seis meses de vida, como amamentação e estimulação no ambiente familiar, que poderão guiar futuras intervenções para “otimizar o desenvolvimento das crianças e ajudá-las a alcançar o seu máximo potencial cognitivo”.
Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane, diz que o estudo destaca que "os primeiros anos de vida são de vital importância para o desenvolvimento da criança, e políticas de saúde pública precisam ser intersetoriais e integradas, para que os benefícios à sociedade também o sejam".
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