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Cientistas desvendam a causa do ‘ouvir vozes’ na esquizofrenia

21/10/2025 15:39 O Globo - Rio/Política RJ

Um novo estudo liderado por psicólogos da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW, da sigla em inglês), em Sydney, na Austrália, descobriu que as alucinações verbais em pacientes com esquizofrenia, conhecidas como “ouvir vozes”, podem ocorrer devido a uma perda da capacidade do cérebro em reconhecer sua própria voz interna.
“A fala interna é a voz na sua cabeça que narra silenciosamente seus pensamentos, como o que você está fazendo, planejando ou percebendo. A maioria das pessoas experimenta a fala interna regularmente, muitas vezes sem perceber, embora existam algumas que não a experimentam de forma alguma”, explica Thomas Whitford, professor da Escola de Psicologia da UNSW e autor do estudo, em comunicado.
“Nossa pesquisa mostra que, quando falamos, mesmo que apenas em nossa mente, a parte do cérebro que processa sons do mundo externo se torna menos ativa. Isso ocorre porque o cérebro prevê o som da nossa própria voz. Mas, em pessoas que ouvem vozes, essa previsão parece dar errado, e o cérebro reage como se a voz interna viesse de outra pessoa”, complementa.
O artigo em que detalha os achados foi publicado nesta terça-feira na revista científica Schizophrenia Bulletin. Para os autores, a descoberta pode ser um passo importante para a identificação de marcadores biológicos que auxiliem no diagnóstico da esquizofrenia. Hoje, essa confirmação é apenas clínica, com base nos relatos e histórico do paciente, já que não há exames como de sangue capazes de identificar o quadro.
Segundo Whitford, a ideia de que as alucinações auditivas na esquizofrenia podem ser decorrentes da própria fala interna da pessoa, sendo erroneamente atribuída como fala externa, é algo que pesquisadores vêm considerando há um tempo.
“Essa ideia existe há 50 anos, mas tem sido muito difícil de testar porque a fala interna é, por natureza, privada”, explica. Por isso, no novo estudo, os cientistas decidiram usar um eletroencefalograma, exame que registra a atividade elétrica do cérebro.
“Embora não possamos ouvir a fala interna, o cérebro ainda reage a ela e, em pessoas saudáveis, usar a fala interna produz o mesmo tipo de redução na atividade cerebral que ocorre quando falam em voz alta. Mas, em pessoas que ouvem vozes, essa redução da atividade não acontece. Na verdade, seus cérebros reagem ainda mais fortemente à fala interna, como se ela viesse de outra pessoa. Isso pode ajudar a explicar por que as vozes parecem tão reais”, esclarece o pesquisador.
No trabalho, cerca de 140 participantes foram divididos em três grupos. No primeiro, foram incluídas 55 pessoas com esquizofrenia que haviam sofrido alucinações verbais auditivas na semana anterior. Já no segundo, 44 voluntários também tinham o diagnóstico, mas sem histórico das alucinações verbais. O terceiro foi formado por 43 pessoas sem o transtorno, para comparação.
Todos foram conectados a um dispositivo que realiza o eletroencefalograma enquanto ouviam áudios por fones de ouvido. Foi pedido, também, que eles imaginassem falar determinadas palavras exatamente no mesmo momento em que ouviam as gravações. Os participantes não sabiam se o som que ouviam correspondia ao que imaginavam em sua mente.
Nos participantes saudáveis, quando o som tocado nos fones correspondia ao que imaginavam, o exame mostrou redução da atividade no córtex auditivo, a parte do cérebro que processa som e fala. Isso sugere que o cérebro já estava prevendo o som e atenuando sua resposta, semelhante ao que acontece quando falamos em voz alta, explicam os cientistas.
No entanto, no grupo de participantes que haviam experimentado alucinações verbais recentemente, os resultados foram o contrário. Em vez da supressão esperada da atividade cerebral quando a fala imaginada correspondia ao som ouvido, houve uma resposta aumentada.
“Seus cérebros reagiram mais fortemente à fala interna que correspondia ao som externo, o que foi exatamente o oposto do que encontramos nos participantes saudáveis. Essa inversão do efeito normal de supressão sugere que o mecanismo de previsão do cérebro pode estar interrompido em pessoas que estão experimentando alucinações auditivas, o que pode fazer com que sua própria voz interna seja interpretada erroneamente como fala externa”, conta Whitford.
Os participantes do segundo grupo mostraram um padrão intermediário entre os demais. Para os cientistas, essa é a confirmação mais robusta até o momento sobre a causa das “vozes” ouvidas por pacientes com esquizofrenia.
“Sempre foi uma teoria plausível, a de que as pessoas estavam ouvindo seus próprios pensamentos sendo falados em voz alta, mas esta nova abordagem forneceu o teste mais direto e forte dessa teoria até o momento”, diz o professor.
Agora, os pesquisadores querem avaliar se essa medida pode ser usada para identificar pessoas com alto risco de desenvolver psicose, permitindo uma intervenção terapêutica mais precoce.
“Em última análise, acredito que entender as causas biológicas dos sintomas da esquizofrenia é um passo necessário se q

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