De María Corina Machado a Bob Dylan: veja os laureados que recusaram, faltaram ou foram impedidos de receber o Nobel
A ausência de María Corina Machado na cerimônia do Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, reacendeu a curiosidade sobre um lado menos conhecido da premiação: o dos laureados que, por escolha própria ou por imposição política, não chegam a receber o prêmio pessoalmente. No caso da líder oposicionista venezuelana, quem representará a premiada será a filha, Ana Corina Sosa Machado, seguindo um protocolo previsto pelo comitê quando o vencedor está impossibilitado de comparecer.
Entenda: María Corina Machado não receberá Nobel da Paz pessoalmente
Embora pareça estranho, não é novidade que vencedores do Nobel deixem de subir ao palco. O caso mais recente e emblemático é o do músico Bob Dylan, que venceu o Nobel de Literatura em 2016. Inicialmente em silêncio, ele não compareceu à cerimônia oficial em Estocolmo, alegando “outros compromissos”. Mesmo assim, aceitou o prêmio, gravou o discurso oficial e, meses depois, participou de uma cerimônia privada com a Academia Sueca para receber medalha e diploma, longe da imprensa.
As recusas oficiais: apenas dois casos na história
Ao longo da história do prêmio, apenas duas pessoas recusaram formalmente um Nobel. Em 1964, o filósofo francês Jean-Paul Sartre rejeitou o Nobel de Literatura por convicção pessoal, afirmando que não aceitava distinções institucionais. Em 1973, o vietnamita Le Duc Tho recusou o Nobel da Paz, concedido a ele e a Henry Kissinger, por entender que a paz na Guerra do Vietnã ainda não havia sido efetivamente alcançada.
Há também os casos de quem foi impedido de receber a honraria por seus próprios governos. Durante o regime nazista, Adolf Hitler vetou que Richard Kuhn, Adolf Butenandt e Gerhard Domagk aceitassem seus prêmios. Na União Soviética, o escritor Boris Pasternak chegou a aceitar o Nobel de Literatura por “Doutor Jivago”, em 1958, mas acabou forçado a recusá-lo por pressão das autoridades.
Em outras situações, os vencedores simplesmente não puderam viajar. Carl von Ossietzky, em 1935, Andrei Sakharov, em 1975, e Liu Xiaobo, em 2010, estavam presos quando foram anunciados como vencedores do Nobel da Paz e não puderam comparecer às cerimônias. Além disso, o prêmio deixou de ser entregue em cerca de 50 ocasiões.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), diversas categorias ficaram sem vencedores por falta de condições políticas e de segurança para avaliação e cerimônia. O prêmio da Paz foi o mais afetado, deixando de ser concedido cerca de 20 vezes.
O de Fisiologia ou Medicina não foi entregue em nove ocasiões, o de Química em oito, o de Literatura em sete e o de Física em seis. A única categoria que manteve regularidade contínua desde sua criação foi a de Ciências Econômicas, estabelecida apenas em 1968.
Criado em 1901 a partir do testamento de Alfred Nobel, inventor da dinamite, o prêmio se tornou um dos mais prestigiados do mundo. Ainda assim, a história mostra que nem sempre o reconhecimento vem acompanhado de aplausos no palco. Seja por ideologia, pressão política ou circunstâncias extremas, a pergunta permanece atual: o que pesa mais, o símbolo do prêmio ou o contexto de quem o recebe?
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