
Crise na Ambipar avança para uma investigação policial
A crise que atinge a Ambipar pode se tornar um caso de polícia. Na terça-feira, o grupo de gestão ambiental pediu a abertura de um inquérito, na Polícia Civil de São Paulo, para apurar supostas irregularidades que teriam sido cometidas por seu ex-diretor financeiro, como antecipou o colunista do GLOBO Lauro Jardim.
A companhia requer que o executivo seja investigado pelos crimes de falsidade ideológica, estelionato, fraude e abuso na administração da empresa.
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No último dia 25, a Ambipar obteve uma medida cautelar na Justiça protegendo a companhia contra execuções de dívida movidas por credores por 30 dias, já antecipando efeitos de um futuro pedido de recuperação judicial.
O estopim foi a cobrança feita pelo Deutsche Bank de garantias vinculadas a um empréstimo de US$ 35 milhões e que poderia disparar um processo de antecipação de débitos de até R$ 10 bilhões com instituições financeiras.
Para liberar o empréstimo com o Deutsche Bank, argumentou a companhia, foram firmados contratos de derivativos com o banco, com o objetivo de proteger as empresas do grupo contra variações cambiais. Se houvesse valor a pagar devido à variação cambial, isso seria feito via títulos emitidos pela Ambipar Lux, os green bonds.
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O banco, porém, teria requisitado garantias adicionais, incluindo na conta eventuais desvalorizações dos green bonds. Os aditivos ao contrato de derivativos, de acordo com a Ambipar, reduziram a proteção da companhia e levaram a prejuízos superiores a R$ 165 milhões.
O primeiro contrato de derivativo da Ambipar foi feito com o Bank of America, instituição onde o ex-diretor financeiro atuava à época. Posteriormente, já trabalhando no grupo de gestão ambiental, o executivo migrou esse contrato para o Deutsche Bank.
Houve então a celebração de um novo contrato de derivativos e o do empréstimo. Esses procedimentos, sustenta a Ambipar, não foram submetidos ao conselho de administração e acabaram resultando em perdas.
Esta semana, levantamentos internos feitos pela companhia apontaram documentos e e-mails que demonstrariam irregularidades e manipulação de informações na negociação dos contratos com o banco alemão.
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Pedido de recuperação judicial
Ontem, a Justiça do Rio indeferiu um recurso apresentado pelo Ministério Público estadual que pedia a suspensão da cautelar que protege a Ambipar contra execuções. Determina contudo a entrega de documentos que comprovem a existência de filial na capital fluminense, para justificar a comarca como foro do processo. E e cobra a apresentação da recuperação judicial.
Uma pessoa próxima a companhia afirma que isso pode acontecer amanhã, quando será encerrado o prazo para negociações conduzidas diariamente junto a credores. Diversos deles querem ficar de fora da recuperação judicial e haveria esforço para construir soluções para esses casos. É improvável, porém, que a companhia possa escapar do processo, afirma essa pessoa. "O pedido sai entre esta sexta e segunda-feira", diz.
O GLOBO tentou contato com o ex-diretor financeiro da Ambipar e com seus advogados, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
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