Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

“Concorrência injusta?”: Novatos reclamam de regra do Sisu que permite usar nota antiga do Enem

03/11/2025 06:30 O Globo - Rio/Política RJ

A liberação do uso de notas de edições anteriores do Enem no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) tende a acirrar a disputa por vagas nos cursos mais visados. A mudança, que permite que candidatos usem resultados antigos para concorrer com as notas da edição deste ano do exame, marcado para os próximos dois domingos, também pode ajudar, na visão de pesquisadores, a preencher vagas que vinham ficando ociosas, mas tende a aumentar a evasão de recém-aprovados. Além disso, está opondo veteranos da prova e estreantes.
Pará: Lula visita aldeia indígena e diz que demarcação de territórios não depende só dele
Rio: Paes abre agenda pré-COP 30 com inauguração de usina de energia solar
Neste ano, vão concorrer 4,8 milhões de alunos, sendo 1,8 milhão matriculados no terceiro ano do ensino médio. Esse é o grupo que argumenta ter sido prejudicado pela mudança — já que concorrerá com apenas uma nota, contra até três de outros candidatos. No Sisu 2026, serão aceitos os resultados obtidos no Enem 2023, 2024 e 2025.
Um abaixo-assinado on-line já conta com mais de 27 mil assinaturas contra a medida. “Ao permitir o uso das notas dos três últimos anos, estaremos abrindo espaço para que aqueles com mais recursos tenham maior vantagem, seja pela possibilidade de cursos preparatórios repetidos, seja pela simples oportunidade de tentar inúmeras vezes até conseguir a nota desejada”, diz o texto de Ana Amelia Lima, criadora da petição.
Outros alunos também reclamam que a mudança vai aumentar a concorrência. De acordo com o estatístico Frederico Torres, mestre pela UnB que acompanha o Sisu todo ano por ser criador do curso Mente Matemática, essa é uma possibilidade:
— Cursos de baixa concorrência não devem ser afetados, mas os mais visados, como Medicina, devem ficar mais concorridos.
Há ainda uma preocupação quanto à dificuldade de comparar notas de provas diferentes. Segundo Torres, a forma com que o Enem é corrigido — a teoria de respostas ao item (TRI) — permite “em tese” que provas distintas sejam comparadas. No entanto, é preciso acompanhar as provas, ano a ano, para avaliar isso.
— Em 2023 e 2024, as provas foram relativamente parecidas — afirmou Torres, cuja tese de mestrado foi sobre a TRI. — Mas tenho minhas ressalvas sobre a possibilidade de essa comparação poder ser feita todo ano. Em 2021, o resultado foi muito diferente dos últimos cinco anos, por exemplo.
Comparação de provas
De acordo com o MEC, a comparabilidade entre as edições do mesmo ano e de anos diferentes é determinada pelos vários pré-testes em nível nacional da TRI.
Sonhos renascidos
Os candidatos já veteranos no Enem receberam bem as novas regras. Quem está inscrito novamente para a prova, por exemplo, poderá encarar o exame com menos pressão e que não está ganha uma segunda chance de competir.
Esse é o caso de Pedro Alvarenga, morador de Itaquaquecetuba (SP). Ele foi aprovado para a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no ano passado, mas não pôde fazer a matrícula. Na época, a família passava por uma grave crise financeira e, com isso, não foi possível largar o emprego que o fazia ter renda para ajudar em casa.
— Estava trabalhando como empacotador em um supermercado, trabalhava numa escala 6x1 exaustiva, ganhava mal e não tive condições de largar tudo na época para estudar — diz o rapaz, de 19 anos. — Quando vi que havia sido aprovado foi uma comemoração gigantesca. Era meu sonho realizado. Mas decidi deixar a vaga para escanteio por causa do trabalho. Fiquei arrasado.
Com a nova regra e uma condição financeira mais favorável (as dívidas foram pagas e novas fontes de renda surgiram nesse período), ele tentará uma nova vaga.
— Eu literalmente pulei de alegria quando vi a notícia da mudança do Sisu. É uma nova chance para o meu sonho — diz o jovem.
O Sisu em 2024 ofereceu 264 mil vagas. Dessas, 23 mil não tiveram concorrentes na primeira seleção — elas estão focadas no Nordeste e no Sudeste; e 40% são de Licenciaturas.
A avaliação de Frederico Torres é que, com mais candidatos, há menos chances de elas não serem preenchidas. No entanto, especialistas em educação temem que a medida também resulte num aumento da evasão das universidades públicas. Uma pesquisa da economista Andréa Cabello, professora do Departamento de Economia da UnB, mostra que metade dos ingressantes pelo Sisu evade do ensino superior — enquanto a taxa dos alunos que entraram por outros mecanismos é de até 20 pontos percentuais menor. O maior abandono tem acontecido logo no primeiro período porque, segundo ela, o Sisu favorece uma decisão menos pensada. Isso por conta do mecanismo que Andréa chama de “escolha estratégica”.
— Como são poucos dias para uma decisão muito importante, ela é tomada, às vezes, sem ser bem pensada. Um menino que gostaria de fazer Medicina na UnB pode ser classificado em Fisioterapia na federal do Acre. Só depois que ele vai entender que não consegue fazer essa mudança ou não tem o desejo de fazer aquele curso — explica.
A preocupação agora é que quem foi apro

Fonte original: abrir