Pela primeira vez, cientistas registram técnica de orcas para devorar fígados de tubarões-brancos; vídeo

No Golfo da Califórnia, a natureza mostra sua face mais selvagem: orcas foram flagradas atacando repetidamente filhotes de tubarões-brancos e devorando seus fígados, revelando um comportamento de caça engenhoso e brutal até então pouco documentado. Vídeos das observações capturam o momento em que os predadores transformam os pequenos tubarões em presas indefesas, expondo uma estratégia de alimentação complexa.
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Segundo o estudo publicado nesta segunda-feira (3) na revista Frontiers in Marine Science, as orcas utilizam a imobilidade tônica para dominar suas presas. Virando os tubarões de cabeça para baixo, alteram a percepção do ambiente, forçando-os a um estado de transe temporário. “Esse estado temporário deixa o tubarão indefeso, permitindo que as orcas extraiam seu fígado rico em nutrientes e provavelmente consumam outros órgãos também”, explicou Jesús Erick Higuera Rivas, biólogo marinho e diretor da Conexiones Terramar.
Veja as cenas:

Em três ataques documentados, as orcas do grupo de Moctezuma — nomeado em homenagem a um grande macho conhecido por matar um tubarão-baleia — compartilharam os fígados entre si. Dois ataques ocorreram em agosto de 2020 e outro em agosto de 2022. Em todos os casos, cinco orcas perseguiram, cansaram e viraram os jovens tubarões até conseguir extrair os fígados.
Historicamente, registros de orcas caçando tubarões-brancos no Pacífico Nordeste eram raros, com o último avistamento confiável na costa oeste datando de 1997. Observações anteriores na África do Sul e na Austrália envolviam principalmente tubarões adultos, cujos órgãos representam maior alimento para as orcas. Apenas um relato anterior documentou um ataque a um tubarão juvenil, ocorrido em 2023 na África do Sul.
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Segundo Salvador Jorgensen, ecologista marinho da Universidade Estadual da Califórnia, “tubarões-brancos adultos reagem rapidamente à caça de orcas, evacuando áreas de concentração sazonais. Já os juvenis podem ser ingênuos em relação às orcas, o que os torna presas mais vulneráveis.”
Os pesquisadores destacam que a escolha de juvenis reduz o risco para as orcas, ao mesmo tempo em que permite extrair o fígado sem enfrentar grandes feras. “Este comportamento evidencia a inteligência avançada das orcas, o pensamento estratégico e a aprendizagem social sofisticada, transmitida de geração em geração”, afirmou Higuera Rivas.
Mudanças recentes na reprodução dos tubarões-brancos em águas mexicanas e o impacto do aumento da temperatura dos oceanos, além de fenômenos como o El Niño, podem ter facilitado esse comportamento. “Até agora, observamos esse grupo se alimentando apenas de elasmobrânquios. Pode haver mais grupos adotando a mesma estratégia”, completou Francesca Pancaldi, bióloga marinha do Instituto Politécnico Nacional do México.

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