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Morre o sociólogo Armand Mattelart, referência nos estudos de Comunicação, aos 89 anos

03/11/2025 18:47 O Globo - Rio/Política RJ

O sociólogo belga Armand Mattelart, referência dos estudos críticos sobre comunicação de massa e “descolonização cultural”, morreu na sexta-feira (31) em Paris, informou, nesta segunda (3), a Cátedra Michèle & Armand Mattelart. Desde a década de 1970, sua obra influenciou o pensamento teórico sobre mídia, cultura e globalização. Nascido em Liège, Bélgica, em 8 de janeiro de 1936, formou-se em Direito pela Universidade de Lovaina e especializou-se em demografia na Sorbonne.
Morou no Chile de 1962 a 1973. No país vizinho, iniciou sua carreira universitária na Escola de Sociologia da Universidade do Chile e, após o golpe de Estado de 1973 que derrubou o governo de Salvador Allende, retornou à França. Em 2014, ele e sua esposa, a socióloga francesa Michèle Mattelart, foram declarados professores honorários da Universidade do Chile, durante a IX Bienal Ibero-Americana de Comunicação.
Para Mattelart, as formas pelas quais a informação global circula moldam as relações sociais de poder. Ele entendia a comunicação como uma esfera de disputa geopolítica, ideológica e econômica. “A comunicação deve ser um serviço público. E aí está o grande problema. Em muitos países latino-americanos fala-se muito em meios de serviço público quando, na verdade, são meios estatais”, advertiu.
Na América Latina, Mattelart tornou-se muito popular por sua obra escrita com o chileno Ariel Dorfman, "Para ler o Pato Donald: Comunicação de massas e colonialismo" (1971), um best-seller sobre as narrativas do “imperialismo cultural” norte-americano, com dezenas de edições (na Argentina inspirou "Para ler Mafalda"). Com o passar dos anos, o trabalho recebeu críticas metodológicas, mas continuou sendo um marco da crítica à indústria cultural (a partir do pensamento de esquerda), assim como "As veias abertas da América Latina", de Eduardo Galeano.
“Assim como o espanhol Jesús Martín-Barbero, seu grande contraponto teórico, foram esses dois europeus que ajudaram a América Latina a encontrar seu próprio lugar e especificidade no mapa global da pesquisa em comunicação”, disse ao jornal La Nación o teórico e escritor Carlos M. Scolari.
Muitas das observações de Mattelart sobre os vínculos entre os meios de comunicação, a indústria militar, instituições financeiras e grandes corporações transnacionais — que no século XX eram vistas como denúncias — hoje são amplamente aceitas e já não surpreendem ninguém. Mas ele foi um dos primeiros a apontá-las e torná-las públicas. Em 2011, a Universidade Nacional de Córdoba lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa.
“Com Armand Mattelart vai embora um dos últimos pensadores antissistema com uma perspectiva macro”, afirmou o professor e pesquisador José Luis Fernández. “O sucedem filósofos apocalípticos e pesquisadores confirmatórios de enfoque micro. Sua obra, especialmente a partir do digital, como "História da utopia planetária: da cidade profética à sociedade global", será útil na construção das necessárias perspectivas críticas de nível meso. Haverá continuidade.”
“Hoje em dia, essas redes como Facebook, Twitter e outras são chamadas de redes sociais — você pode imaginar! — declarou Mattelart em uma entrevista. Para os democratas do mundo, as redes sociais eram redes de solidariedade com projetos coletivos, e atualmente esse nome se aplica a um conjunto de indivíduos que se conectam de forma muito fraca. O problema é que a noção de redes sociais concebida a partir da web tomou o lugar da noção real de redes sociais.” Embora reconhecesse o poder dessas plataformas, alertava sobre o “tecnodeterminismo”, ou seja, a crença de que as redes sociais, por si sós, poderiam gerar mudanças.
Durante o governo de Salvador Allende, no Chile, Mattelart atuou como professor na Universidade Católica de Valparaíso e como especialista em políticas de informação, junto à pesquisadora argentina Mabel Piccini (morta em 2015, no México). Como teórico, integrou o movimento intelectual que passou a olhar com desconfiança o desempenho dos meios de comunicação de massa.
De volta à França, consolidou uma notável carreira acadêmica até tornar-se professor emérito da Universidade de Paris VIII (Vincennes–Saint-Denis). Também dirigiu o documentário "La espiral", sobre as pressões políticas e midiáticas sobre o governo Allende no Chile (1970–1973), apresentado em 1976 no Festival de Cannes.
Publicou, entre muitos outros títulos, "Comunicação, cultura e luta de classes", "A comunicação-mundo", "Multinacionais da comunicação", "A invenção da comunicação", "A internacional publicitária" e o recomendável "Um mundo vigiado"; com Michèle Mattelart, "História das teorias da comunicação", "A cultura contra a democracia? O audiovisual na época transnacional" e "Comunicação e ideologias da segurança"; e com o professor francês André Vitalis, "De Orwell ao cibercontrole". Em 1983, com o teórico argentino Héctor Schmucler, com quem dirigiu a revista Comunicação e Cultura, publicou "América Latina na encruzilhada telemática".
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