Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Ana Costa e Nilze Carvalho fazem pela primeira vez uma série de shows juntas no rio: ‘Estamos encarando como um recreio nosso’

04/11/2025 08:03 O Globo - Rio/Política RJ

Ana Costa nasceu no Rio e se mudou criança para Nilópolis. Foi na cidade da Baixada Fluminense, já pré-adolescente, que ela se impressionou com a capa de um disco: “Choro de menina” tinha a foto de uma garota da idade dela, também negra, empunhando um bandolim. Era Nilze Carvalho.
— Comecei a tocar porque vi a Nilze. Minha mãe comprou um bandolim — recorda Ana. — E Nilze ficou no meu imaginário. Foi a pessoa que eu sempre admirei, das capas de disco até hoje.
Roubo no Louvre: senha do sistema de vigilância do museu era... 'Louvre'
Motorista de app e namoro reatado: como estão os criminosos de 'Tremembé' hoje
As duas já deram canjas uma no show da outra. Nos terceiros domingos do mês, comandam uma roda de samba no Alfa Bar, no Centro do Rio. Mas agora, pela primeira vez, farão um show concebido para juntá-las num palco. A temporada no Teatro Ipanema, na série Terças no Ipanema, começa hoje, às 20h, e se estenderá por mais três semanas.
Acompanhadas apenas do percussionista Paulino Dias, elas cantarão e se revezarão nos instrumentos de cordas: bandolim, cavaquinho, violão e baixo.
— Como estamos praticamente sozinhas no palco, só com um percussionista elegante, que sabe tocar em pequenas formações, estamos encarando como um recreio nosso. As pessoas verão que estamos nos divertindo — promete Ana.
‘É tudo novo’
Dito assim, pode parecer que é uma roda de samba minimalista, mas não é. Diferentemente do que acontece numa roda, onde há muita improvisação, o show tem um repertório construído com cuidado e conceito. Como novembro é o mês da consciência negra, optou-se por músicas de compositores negros e, em boa parte delas, com temática negra.
— É tudo novo, porque mesmo músicas que a gente já cantou estão com novos arranjos, são releituras. Às vezes estamos com um instrumento cada uma, às vezes só uma toca — adianta Nilze.
Músicas de Lô Borges: conheça 7 sucessos do cantor pioneiro da MPB e um dos criadores do Clube da Esquina
Vão aqui alguns momentos do show: “Dia de graça” (Candeia), “Maracatu do meu avô” (Nei Lopes), “Eu canto samba” (Paulinho da Viola), “Fadas” (Luiz Melodia), “Semba dos ancestrais” (Rosinha de Valença e Martinho da Vila) e “Zé do Caroço” (Leci Brandão). E a convidada da noite é Áurea Martins, que interpretará três canções.
— Não sei se eu chego aos 60 anos com um décimo da energia da Áurea — exalta Nilze, para quem a participação da cantora de 85 anos funciona como bênção para a temporada.
Nascida há 56 anos em Nova Iguaçu, também na Baixada, Nilze foi menina-prodígio. Aos 6 anos, já tocava cavaquinho em rádio e TV. Aos 12, com bandolim, gravou o primeiro LP, “Choro de menina”, que deu origem a uma série de quatro.
— Tive pai músico, mãe que adora cantar. Não tive nem tempo para testar outras coisas. Já comecei a trabalhar. A música tomou todo o espaço — diz ela.
Ana, de 57, tocava violão e cantava em casas noturnas quando era jovem. No repertório, bossa nova e MPB. Até que conheceu o compositor Mombaça, que a apresentou a Analimar e Tunico, filhos de Martinho da Vila. E estes a levaram ao pai.
— Conheci aquelas pessoas e pensei: “Pronto, me achei. Não quero fazer mais nada na vida.” Um bando de pretos cantando, tocando, uma alegria só. Por isso digo que Martinho é meu padrinho musical — conta.
Milton Nascimento sobre Lô Borges: 'décadas de uma amizade que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos no mundo'
Como Nilze passou seis anos vivendo de música no Japão, Ana deixou de ter notícias dela. Foram se conhecer no final da década de 1990, na Lapa, no Centro do Rio, quando o bairro era revitalizado pelo samba e pelo choro. As duas se tornaram expoentes dessa história. Integraram um time de mulheres intérpretes que também teve Teresa Cristina, Luiza Dionisio, Mariana Baltar e outras.
— A Lapa mudou muito depois da pandemia. O samba saiu das casas para as ruas. Criou-se a mentalidade do chapéu (para recolher doações do público). As pessoas pararam de pagar couvert — avalia Ana.
Para Nilze, “mudou a sonoridade”:
— Tem casas enormes que tocam pagode. Também se toca sertanejo, funk.
De olho no Japão
Ana integrou o conjunto Roda de Saia, só de mulheres, e Nilze, o Sururu na Roda, que se mantém em atividade. E quem substituiu Nilze? Ana.
— Eu disse para o Fabiano Salek (percussionista que está à frente do grupo) que só aceitava se ele me prometesse uma viagem para o Japão, porque com a Nilze o Sururu foi duas vezes. Ele me falou: “Pode deixar que, no ano que vem, nós vamos.” Estou há mais de dez anos no Sururu e a viagem ainda não rolou — diverte-se Ana, dizendo-se confiante de que o show com Nilze a levará ao outro lado do mundo.
Ambas têm álbuns gravados e carreira solo, e Ana está no momento fazendo a direção artística dos shows de Simone, além de tocar violão e cavaquinho.
A temporada no Ipanema terá mais convidados: Marcos Sacramento (dia 11), Marina Íris (18) e Marcel Powell (25).

Fonte original: abrir