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Belém terá 'COP da adaptação climática', e países pobres estarão presentes, diz chefe do encontro

23/10/2025 14:00 O Globo - Rio/Política RJ

O presidente da COP 30, a conferência do clima da ONU em Belém, diz que esta edição do encontro precisa ser conhecida como a "COP da adaptação climática", um tema caro aos países em desenvolvimento, e afirmou que essas nações já tem presença garantida ali.
Em entrevista coletiva, o embaixador André Corrêa do Lago disse ter conseguido recursos privados "de filantropia" para bancar custos de viagem das delegações dos países mais pobres e vulneráveis. A medida foi tomada para atenuar a crise de hospedagem no evento, com o inflacionamento de diárias de hotel e casas para aluguel.
— O governo brasileiro conseguiu recursos privados muito generosos para que a gente possa pagar três quartos para cada um dos países que estão na lista daqueles em menor desenvolvimento relativo (LDCs), para as pequenas nações ilhas (SIDSs) e para o conjunto de países africanos — disse. — Isso se junta a um apoio que a CAF, o Banco de Desenvolvimento da América Latina, já tinha oferecido para delegados latinoamericanos e do Caribe.
Corrêa do Lago não revelou quem doou os recursos nem deu um número preciso sobre quantos países já tem presença confirmada no encontro, mas disse estar confiante de que a medida vai garantir que a COP 30 não sofra um problema de esvaziamento político.
— Eu acho que isso vai ser uma coisa determinante para ter uma taxa de presença na COP próxima à de todos os membros da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) — afirmou.
No último balanço divulgado pela organização do encontro, já estava confirmada a presença de 168 delegações, de um total de 197 na UNFCCC.
Corrêa do Lago concedeu a entrevista nesta manhã após divulgar sua sétima carta aberta como presidente da COP30. O texto é uma recente de uma série de mensagens que ele tem produzido com o objetivo de engajar a comunidade internacional nas causas mais importantes relacionadas ao Acordo de Paris para o clima.
A nova missiva propõe que a adaptação climática seja tratada como "a próxima etapa da evolução humana" e "um imperativo de sobrevivência e cooperação global" e defende que este seja um tema central na COP30.
"Sem adaptação, a mudança do clima se torna um multiplicador da pobreza, destruindo meios de subsistência, deslocando trabalhadores e aprofundando a fome", escreveu. "À medida que os impactos se intensificam, a inação não representa uma falha técnica, mas sim uma escolha política sobre quem vive e quem morre."
Segundo o embaixador, a questão está relacionada também com a agenda de financiamento para combater a crise do clima, que está muito mais concentrado na mitigação da emissão de CO2 do que em medidas para atenuar efeitos do aquecimento global em comunidades que já sofrem com eles.
"Apesar de compromissos sucessivos, o financiamento para adaptação ainda representa menos de um terço do total do financiamento climático, muito aquém das necessidades", escreveu. "A falta crônica de investimentos deixa os países vulneráveis, obrigando-os a desviar recursos escassos da saúde, da educação e da infraestrutura para respostas emergenciais e ações de recuperação."
Um gesto simbólico que a organização está tomando, segundo a CEO da COP 30, Ana Toni, é que o código de vestimenta para delegados será menos rígido o que pode ajudar as delegações a enfrentarem melhor o calor de Belém.
— Essa será uma COP sem gravata, o que adiciona também uma certa informalidade, no melhor sentido que essa palavra tem no Brasil — disse ao fim da entrevista. — Esse já é um 'dress code' de adaptação na COP.
Toni afirmou que uma das dificuldades que o país anfitrião da conferência terá é o de convencer todas as partes do Acordo de Paris de que adaptação é um tema que precisa ser tratado em escopo global, e não apenas local. Isso é parte do problema que tem travado as discussões sobre financiamento nas negociações.
— Os países menos desenvolvidos têm uma demanda para triplicar o financiamento para adaptação. Já houve uma decisão para duplicar o financiamento de US$ 20 bilhões para US$ 40 bilhões anuais, mas agora com os EUA fora no acordo, os países desenvolvidos têm um pouco de receio de triplicar os recursos — explicou.
Segundo a CEO da COP 30, a ausência americana precisa ser superada, porque a demanda por recursos de adaptação está crescendo em um momento em que o planeta já ultrapassa o limite de aquecimento de 1,5°C que era a meta inicial de Paris.
— A gente já sabe que os países em desenvolvimento já estão gastando 6%, 7% ou até 10% do PIB deles em adaptação — O Adaptation Gap Report, estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente já indica que precisaríamos mobilizar algo entre U$ 320 bilhões e US$ 400 bilhões anuais, o que significa então aumentar em 10 vezes os recursos.

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