Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

William Bonner: 'Se a gente fizer comentários no Jornal Nacional, estaremos impondo a milhões de brasileiros uma certa opinião, e esse não é o nosso papel'

31/10/2025 21:38 O Globo - Rio/Política RJ

Olhando o celular em seu último dia no Jornal Nacional, William Bonner faz um comentário em tom de brincadeira, mas que explica muito o quão importante é este momento para ele, para o programa e para o jornalismo da TV Globo: “As pessoas estão me escrevendo como se eu tivesse morrido”.
Na TV: César Tralli no Jornal Nacional e Roberto Kovalick no Jornal Hoje: veja todas as mudanças no jornalismo da Globo
Para assistir: Saiba a hora da despedida de William Bonner do Jornal Nacional nesta sexta-feira
Bonner obviamente não morreu e passa muito bem. Mas, como foi anunciado no início de setembro, sua participação no Jornal Nacional chega ao fim nesta sexta-feira, dia 31 de outubro, depois de 29 anos como apresentador e 26 anos acumulando também a função de editor-chefe. A partir de segunda-feira, 3 de novembro, César Tralli assume a bancada do JN ao lado de Renata Vasconcellos. Para o derradeiro programa de Bonner, o roteiro prevê que os três apareçam juntos no último bloco, a fim de sacramentar a mudança. Já a edição do JN passará às mãos de Cristiana Sousa Cruz, que atuava como editora-adjunta do telejornal. Bonner, por sua vez, fará parceria, em 2026, com Sandra Annenberg na apresentação do Globo Repórter.
Galerias Relacionadas
A novidade é imensa, considerando o tamanho do Jornal Nacional e a longevidade de Bonner no programa. Lançado em 1969, o JN alcança, em média, 30 milhões de pessoas por dia, o que representa cerca de 14% da população brasileira. É um dos maiores telejornais do mundo em termos de audiência, e certamente o mais influente do país. Bonner foi seu apresentador que mais tempo permaneceu na função, à frente até mesmo do lendário Cid Moreira, que foi a cara do JN por 26 anos.
Tralli diz estar ciente da responsabilidade que tem pela frente. Ele se despediu nesta quinta-feira, 30 de outubro, do Jornal Hoje, programa vespertino da Globo que apresentava desde 2021 — em seu lugar, fica Roberto Kovalick, que já assumiu a apresentação do Hoje nesta sexta.
Três décadas: relembre trajetória de William Bonner, que deixa o Jornal Nacional nesta sexta-feira
Em entrevista ao GLOBO, horas antes do último Jornal Nacional de Bonner, os apresentadores se juntaram para refletir sobre o jornalismo, sobre o papel de um programa como o JN em tempos de fragmentação de notícias (verdadeiras e falsas) nas redes sociais e sobre os desafios impostos por novas tecnologias, como a inteligência artificial.
Galerias Relacionadas
Tem uma discussão antiga em telejornais sobre a diferenciação entre um apresentador neutro e um âncora que emite opiniões. Essa diferença ficou muito marcada quando Boris Casoy fazia comentários sobre as notícias no SBT, nos anos 1990. Mas hoje a gente encontra gente comentando notícias em cada esquina das redes sociais; tem muito jornalista emitindo opinião em todos os cantos. Vocês acham que o Jornal Nacional precisa mudar ou deve manter esse princípio da neutralidade?
CÉSAR TRALLI: Vamos continuar com esse perfil. O Jornal Hoje, que eu fazia até ontem, era diferente. Era um jornal muito maior, com um único apresentador, na hora do almoço, que abria espaço para você trazer assuntos, digamos assim, do cotidiano com muito mais facilidade, com uma linguagem mais coloquial, mais falada. Antes, eu fiz o SP1, que é o telejornal da Grande São Paulo. Eu fazia alguns comentários muito pela conexão com o público. Tinha um perfil de jornal local, e a gente conseguia dar uma amarrada nos assuntos, se colocava ao lado da população local. Eu levei um pouco disso para o Jornal Hoje. Mas eu entendo que o Jornal Nacional é completamente diferente. Para mim, a gente vai seguir firme nesse legado de JN do William, que é um jornal que representa a empresa, é a voz da empresa.
WILLIAM BONNER: O Jornal Nacional é uma instituição tão forte que, no exercício de quase 26 anos de chefia, eu nunca vi os acionistas da empresa agirem como donos do Jornal Nacional. O JN, pela força que tem, por aquilo que representa, é algo tão forte que eu tenho a impressão de que os próprios acionistas da Globo entendem que ele seja um patrimônio dos brasileiros, do público brasileiro. Então, nesse sentido, você não faz o que quiser com o Jornal Nacional. Ele é muito grande para isso. Você não personifica a apresentação. O comentário é uma armadilha num jornal desse porte. Como escolher quais assuntos você vai comentar e quais não vai? Imagina se a gente fizesse no Jornal Nacional comentários sobre a operação policial desta semana. O Jornal Nacional é um jornal legalista, como eu acho que o jornalismo tem que ser: humanista e legalista. Se a gente for fazer comentários no Jornal Nacional, estaremos impondo a milhões de brasileiros uma certa opinião, e nós achamos que esse não é o nosso papel. Ao contrário, o nosso papel é municiar o espectador de opiniões de pessoas que estudam o caso, que têm visões sobre aquilo — e aí ele forma sua própria opinião. E isso não é uma teoria minha; eu herdei isso no JN. É a missão histórica do jornal.
Mas não

Fonte original: abrir