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USP anula posse de professora negra aprovada em primeiro lugar após questionamentos de outros candidatos

16/10/2025 14:11 O Globo - Rio/Política RJ

Aprovada em primeiro lugar para o cargo de professora na Universidade de São Paulo (USP), a doutora em literatura Érica Cristina, de 45 anos, teve a posse negada para a vaga de docente em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa após pedido feito por seis outros candidatos ao cargo. Única pessoa negra a participar do concurso, Érica afirma que os concorrentes alegaram suspeição da banca avaliadora com base em provas “frágeis”.
Os candidatos apontaram uma suposta amizade entre Érica e dois dos cinco integrantes da banca examinadora e também questionaram sua qualificação e produção científica. O caso foi encaminhado ao Ministério Público (MP) e à própria USP, com pedido de anulação do processo seletivo. Segundo Érica, o MP não identificou irregularidades, mas a universidade decidiu anular a posse mesmo assim.
— A anulação se baseia na ideia de uma amizade íntima entre mim e duas professoras da banca. As provas são seis fotos aleatórias, retiradas de redes sociais, de eventos em congressos da área de literatura africana, que é uma área bem pequena, entre 2019 e 2022. São fotos em grupo, tiradas no Rio de Janeiro, em Moçambique e em Natal (RN), e que definitivamente não provam amizade íntima — afirmou Érica em vídeo publicado nas redes sociais.
— A Procuradoria da USP considerou essas fotos, somadas a uma legenda que dizia ‘entre amigos é muito bom’, como prova cabal para desconsiderar o concurso — continuou.
Segundo a professora, ao ser informada sobre a abertura de um processo administrativo que poderia anular sua nomeação, realizada em junho do ano passado, ela enviou manifestação por e-mail, incluindo um documento elaborado por seus advogados. No entanto, o material não teria sido anexado ao processo que levou à anulação.
— A USP não só validou essas acusações frágeis, mas também não garantiu meu direito à ampla defesa — disse Érica em outro vídeo. O concurso foi anulado pela universidade em março deste ano.
Em nota, o diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, professor Adrián Pablo Fanjul, afirmou que “havia indícios de relações de proximidade da candidata aprovada e indicada com pessoas integrantes da banca”.
“Essa conclusão teve embasamento em postagens em redes sociais em que, além de fotos, havia expressões de amizade. Sendo uma decisão do Conselho Universitário, a FFLCH não tem como reverter; só pode ser revista na Justiça”, concluiu.

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