
Como uma pequena empresa ficou no meio da guerra comercial entre EUA e China e acabou sob intervenção estatal
No fim do mês passado, a disputa cada vez mais intensa de Washington com Pequim pelo controle das cadeias de suprimentos de tecnologia chegou à Holanda. Sob pressão de autoridades americanas, o governo holandês assumiu o controle das decisões da fabricante de chips Nexperia, de propriedade chinesa.
A Nexperia, cuja sede fica na Holanda, pertence à empresa chinesa Wingtech. Ela opera uma cadeia de suprimentos complexa e global, típica da indústria de semicondutores. A empresa projeta tipos mais antigos de chips usados em automóveis e eletrônicos e emprega milhares de pessoas na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Suas fábricas produzem finas lâminas de silício no Reino Unido e na Alemanha, e montam e testam chips na China, nas Filipinas e na Malásia.
Em 30 de setembro, o governo holandês declarou que as decisões da empresa passariam a ser determinadas pelo ministro de Assuntos Econômicos, Vincent Karremans. Horas antes, os Estados Unidos haviam ampliado o alcance de uma lista de restrições comerciais, o que significava que a Nexperia enfrentaria controles rigorosos sobre suas operações, já que sua controladora, a Wingtech, já estava nessa lista.
Em comunicado divulgado no domingo, revelando sua ação, o governo holandês afirmou ter agido para impedir que os produtos da Nexperia se tornassem indisponíveis em uma situação de emergência.
No entanto, documentos publicados em um tribunal de Amsterdã na terça-feira mostraram que, meses antes, autoridades americanas haviam pressionado o governo holandês em relação à propriedade da empresa.
O Departamento de Comércio dos EUA impôs restrições comerciais à Wingtech em dezembro. Em junho, autoridades americanas informaram ao Ministério das Relações Exteriores da Holanda que a Nexperia poderia ser a próxima, a menos que a empresa substituísse seu CEO chinês, Zhang Xuezheng.
“O fato de o CEO da empresa ainda ser o mesmo proprietário chinês é problemático”, disseram os oficiais americanos, segundo os documentos judiciais.
A Nexperia é apenas uma das empresas que estão no meio da batalha pelo controle da indústria global de semicondutores, enquanto Washington e Pequim reivindicam ampla autoridade sobre as cadeias de suprimentos de chips e minerais — insumos críticos para tudo, de automóveis a sistemas de inteligência artificial.
À medida que Estados Unidos e China exercem sua influência sobre essas cadeias, outros países buscarão desfazer a propriedade chinesa de ativos tecnológicos essenciais sob o argumento da segurança nacional, disse Reva Goujon, diretora do Rhodium Group, uma empresa de pesquisa. A Nexperia era um alvo óbvio.
O governo chinês gastou bilhões de dólares com o objetivo de fortalecer suas indústrias domésticas, e empresas chinesas também intensificaram aquisições de empresas estrangeiras que fabricam chips e outras tecnologias.
Embora os fabricantes chineses de chips tenham dificuldades em produzir os semicondutores de ponta que alimentam sistemas avançados de IA, eles fabricam uma fatia cada vez maior dos chips mais antigos.
Algumas autoridades nos EUA e na Europa têm se preocupado com a possibilidade de a China dominar o mercado desses chips. Mesmo que sejam menos avançados, eles são usados em automóveis e em uma ampla variedade de máquinas e eletrodomésticos. Agora, muitos governos querem trazer essas cadeias de suprimentos de volta para o próprio controle, disse Reva.
— Houve alguns grandes arrependimentos. Todos esses governos estão muito desconfortáveis com isso e gostariam de ter esses ativos de volta — afirmou.
Dias depois de o governo holandês assumir o controle da Nexperia, o Ministério do Comércio da China emitiu um comunicado proibindo as unidades chinesas da Nexperia de exportar alguns produtos, segundo informou a empresa em nota na terça-feira. A empresa está buscando uma isenção das restrições chinesas e “mobilizou todos os recursos disponíveis para esse fim”, diz o comunicado.
O Ministério do Comércio da China não comentou publicamente sobre as restrições à Nexperia. He Yongqian, porta-voz do ministério, afirmou em uma coletiva na quinta-feira que os controles ampliados de Washington “prejudicaram seriamente a segurança e a estabilidade da cadeia de suprimentos industrial global”.
A tomada de controle da Nexperia pelo governo holandês foi “um claro exemplo de como a influência americana prejudica os direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”, afirmou He.
Pequim também exerceu sua influência sobre outra parte da cadeia global de tecnologia na semana passada, ao anunciar amplos controles sobre minerais críticos usados em chips, automóveis, mísseis e outros produtos. As novas regras lembravam de perto os controles tecnológicos dos EUA, que as autoridades chinesas há muito criticam.
O governo chinês também mirou um setor que considera crucial para sua própria segurança e crescimento econômico: o transporte marítimo. Na terça-feira, Pequim impôs sanções às subsidiárias americanas da empresa sul-coreana Hanwha, acusando-as de “apo
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