Tarsila do Amaral, Tomie Ohtake e Niemeyer: Itaú Cultural tem novo andar expositivo voltado para artes moderna e contemporânea
Ao sair do elevador no sétimo andar do Itaú Cultural, uma parede de retratos — que vão das fotografias à xilogravura, da pintura à escultura em cedro — traz as primeiras impressões das diferentes concepções das artes moderna e contemporânea brasileiras. Foco não apenas da mostra “Brasil das múltiplas faces”, mas de todas as próximas do novo espaço expositivo. Chamado de Espaço Milú Villela — Brasiliana: Arte Moderna e Contemporânea, o novo andar do prédio na Avenida Paulista, na região central de São Paulo, terá exposições de longa duração, montadas a partir do Acervo Itaú Unibanco.
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Agora reformado, o andar, que antes abrigava uma sala multiúso, é batizado em homenagem a Maria de Lourdes Egydio Villela (Milú Villela). Psicóloga, gestora cultural e filantropa, dedicada à democratização do acesso à cultura, Milú presidiu e expandiu o Itaú Cultural de 2001 a 2019, além do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), entre 1995 e 2019.
Para inaugurar os 280 m² do novo espaço — o quarto dedicado a exposições permanentes no endereço — o Itaú Cultural teve a curadoria de Agnaldo Farias em “Brasil das múltiplas faces”. Formada por 185 obras de 150 artistas, a mostra faz um panorama entre as artes brasileiras sem seguir uma cronologia, em uma miscelânea de trabalhos modernos e contemporâneos.
— A ideia é que não existe uma História da Arte, mas inúmeras histórias que podem ser montadas, estabelecidas ou alinhadas do modo que se ache mais interessante. Afinal, é assim que é feito. A rigor, certas obras ficam em um limbo, até que, por algum motivo, são redescobertas, tiradas do esquecimento e passam a ser valorizadas. Rompemos com a ideia de que existem linhas do tempo e estética mais importantes — explica Farias.
Lygia Clark, Candido Portinari e Iberê Camargo
As associações escolhidas pelo curador são feitas ora por gênero, ora por tendência artística. As obras estão em dez núcleos: “Retratos”, “Dessemelhança!”, “Paisagem”, “Modernos”, “As abstrações (geométrica e informal)”, “Sonhos e distorções”, “Nova figuração”, “Década de 1970”, “A geração 80” e “Produção recente”.
Nas abstrações, o público é apresentado a trabalhos e artistas de diferentes décadas. De 1950, há Lygia Clark; de 1960, Tomie Ohtake e Iberê Camargo; enquanto o destaque nos anos 1990 é de Oscar Niemeyer. Quanto aos modernistas, há produções de Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Lasar Segall e Djanira.
Obra "Retrato de Luís Martins I" (1933-1937), de Tarsila do Amaral
Divulgação/João Luiz Musa
O projeto do arquiteto Daniel Winnik optou por criar na montagem uma espécie de reserva técnica, como as de museus, galerias e coleções — os "bastidores" que não são visitados. A ideia é que não haja grandes divisões nas disposições das peças e que se aproveite ao máximo todo o espaço.
— Ao invés de fazer um corte drástico e alinhar as obras uma ao lado da outra, como é comum, achei que essa experiência (de uma reserva técnica) seria bonita para o visitante. Queria trazer a concepção do acervo, com uma grande quantidade de trabalhos reunidos que permitem relações variadas, imprevistas e inusitadas. É uma acumulação que permite a construção de diversas narrativas — detalha.
Para ajudar nessa representação do fluxo contínuo, os painéis móveis estão dispostos em diagonal e não há novas paredes perpendiculares. As que já integram a estrutura da sala foram pintadas em degradê: começam em um tom de azul-claro que vai escurecendo conforme o espaço é adentrado. Para Farias, a arte não funciona compartimentada, e a organização da sala pode ser reinventada pela movimentação dos painéis.
Diferentes Brasis
O título da exposição também não é por acaso. A partir do conceito de arte diversa, “Brasil das múltiplas faces” busca mostrar a complexidade do país. Assim, os estilos narram as realidades do território brasileiro.
— Na entrada (no núcleo “Retratos”) quis mostrar como nossas faces são tão distintas, como temos infinitos rostos. Depois, seguimos trabalhando essas múltiplas faces do Brasil. Não há uma expressão única, monolítica. Há muitas variações, porque nosso país é desigual — explica Farias.
Para as produções recentes, apelidadas na mostra de “As várias vozes”, Farias optou por seguir o debate decolonial e priorizar nomes e produções antes menosprezados, como de negros e de indígenas. Rosana Paulino, Arjan Martins, Jaider Esbell, Carmézia Emiliano e o Movimento dos Artistas Huni Kuin (Coletivo Mahku) foram alguns dos selecionados.
Obra "O canto do sabiá" (2024), de Denilson Baniwa
Divulgação/Humberto Pimentel
— O que a gente chama de contemporâneo não deve ser entendido como o que é feito agora. Contemporâneo é aquilo com o qual você tem alguma relação. Os olhares (dos artistas escolhidos) s
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