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Sem entrevistas de João Ricardo, série do Canal Brasil mostra a trajetória meteórica e genial dos Secos & Molhados

31/10/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Foram dois anos juntos, muitas histórias e, por isso, “uma pena não sermos amigos”, diz Ney Matogrosso, em “Primavera nos dentes: A história dos Secos & Molhados’, série documental que estreia hoje no Canal Brasil às 21h30 (com reprises aos sábados às 17h e domingo às 19h). Nos quatro episódios semanais, Ney e Gérson Conrad, dois dos três integrantes, e pessoas importantes na história da banda, relembram a formação do trio, cujo primeiro álbum foi lançado em 1973, as razões de sua dissolução no ano seguinte e a importância desse meteórico sucesso na MPB.
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— Os Secos & Molhados inauguram o espetáculo musical — diz o diretor da série, Miguel de Almeida, frisando como as apresentações performáticas sacudiram a sala da família brasileira. — Até então, era o banquinho e o violão, e o trio veio com personas musicais. Como diz o Roberto Frejat, um dos entrevistados influenciado pela banda, eles não tinham CPF no palco.
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Miguel é autor do livro “Primavera nos dentes: A história do Secos & Molhados, ditadura, censura e sedição”, publicado pela editora Record no início dos anos 2020 e com edição ampliada em 2023, quando o primeiro disco completou 50 anos. Na obra, o autor costura a trajetória da banda com a do país, em meio à repressão militar, e teve acesso irrestrito ao trio formado por Ney, Gérson e João Ricardo. Mas, para a série, João não quis gravar depoimentos. Os outros dois integrantes aparecem em entrevistas juntos e separados, inclusive falando do jeito arredio do colega.
—Fiz várias entrevistas com o João para o livro. Depois que saiu, tivemos alguns almoços com a equipe da produtora, a ideia era fazer uma ficção também e ele estava superentusiasmado — diz Miguel. — Mas em algum momento ele sumiu, não sei o que houve. Recusou-se a dar entrevistas.
Músicas barradas
João Ricardo também não autorizou o uso de músicas com o nome dele na lista de compositores. Por isso, ninguém vai ouvir, por exemplo, “Sangue latino” ou “O vira” nos episódios. O assunto foi tratado na Justiça, porque os coautores ou seus descendentes autorizaram o uso das canções. Mas a Justiça decidiu que a anuência da outra parte era imprescindível.
No processo, João Ricardo justificou a proibição pela forma como foi retratado no livro de Almeida e porque, segundo ele, sua versão sobre a separação do grupo não foi publicada. Na série, os envolvidos deixam claras suas explicações para a dissolução do trio, logo após o segundo disco: discordâncias em relação ao empresariamento do grupo, que passou para as mãos de João Apolinário (1924-1988), pai de João Ricardo. Procurado por seus advogado para comentar a disputa e a versão, João Ricardo não respondeu até até o fechamento dessa edição.
Ney Matogrosso em 'Primavera nos dentes'
Divulgação
Sem os direitos, a produtora Santa Rita convidou Gérson e músicos da banda de apoio da época, como o pianista e arranjador Emilio Carrera e o contrabaixista Willy Verdaguer, a criar novas canções. Ney gravou com eles para celebrar.
— Podemos dizer que é o terceiro disco dos Secos & molhados”. Fizemos (do limão) uma limonada e ficou lindo — diz Miguel.

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